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Berlim: Negociações sobre novo resgate à Grécia vão na "direcção certa" mas ainda não há acordo
Um passo "substancial" foi dado mas a estrada ainda é longa, adverte o governo alemão, na mesma linha cautelosa de Bruxelas e Helsínquia. Berlim diz que ainda é prematuro falar de acordo e, nessa medida, não faz sentido convocar desde já Bundestag para votar o terceiro resgate à Grécia.
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O porta-voz da chanceler Angela Merkel saudou nesta quarta-feira, 12 de Agosto, a forma como estão a evoluir as negociações entre Atenas e os representantes da troika com vista à conclusão de um terceiro programa de assistência financeira ao país, considerando que foi já alcançado um "resultado substancial". Contudo, acrescentou, ainda é prematuro falar de acordo e, nessa medida, não faz sentido convocar desde já o Bundestag – um dos vários parlamentos nacionais que terá de aprovar um novo empréstimo à Grécia.
"Tendo em conta o percurso dos últimos meses este é um resultado substancial", disse Steffen Seibert, porta-voz da chanceler Angela Merkel, precisando que o memorando de entendimento que está a ser negociado contém medidas "sensatas" e "importantes". "O governo grego tem tido uma postura construtiva e orientada para os resultados nas suas discussões com as instituições. As negociações decorreram numa atmosfera que não tínhamos visto nos últimos meses". Nessa medida, acrescentou Seibert, "pode dizer-se que o acordo vai na direcção certa". "Mas neste momento ainda não é possível dizer se estamos no ponto em que podemos iniciar o processo nacional, ou seja, agendar uma votação no Bundestag. "
Segundo o jornal grego Kathimerini, Alexis Tsipras falou com Angela Merkel na terça-feira à noite e a chanceler alemã ter-lhe-á dito estar "céptica" sobre a solidez do acordo. Em Berlim, ver-se-á com melhores olhos a aprovação de um segundo empréstimo de curto prazo para que Atenas tenha na próxima semana em mãos o dinheiro necessário para reembolsar títulos gregos comprados em 2010 pelo BCE que então se vencem, evitando que entre em incumprimento com o banco central – o que seria um passo de gigante na direcção da saída do euro. Na véspera, o Ministério alemão das Finanças esclarecera que o acordo terá de ser bem avaliado para que se perceba se tem condições para durar três anos, e não apenas três dias.
Após duas semanas de negociações, o governo grego anunciou na manhã de terça-feira, 11 de Agosto, ter chegado a acordo com os representantes da troika sobre as condições que terá de cumprir para receber um terceiro resgate, que lhe permitirá cobrir as necessidades de financiamento previstas para os próximos três anos e que estão calculadas em 85 mil milhões de euros.
Ainda não há confirmação oficial do que ficou escrito nesse acordo, que está a ser dado a conhecer por jornais gregos, e em Bruxelas a reacção da Comissão Europeia foi relativamente cautelosa. "O que temos até ao momento é um acordo de nível técnico ... e pequenos detalhes que precisam de ser finalizados. O que não temos é um acordo político".
As discussões vão entrar agora num contexto mais político, e aí residem vários riscos. O parlamento grego deverá votar na quinta-feira ou no dia seguinte a proposta de novo memorando – cerca de 30 medidas prioritárias, entre as quais figurará a eliminação progressiva das reformas antecipadas, a implementação das privatizações, a liberalização do sector da energia, a subida de impostos para agricultores e armadores e cortes nos gastos da Defesa. A forma como essa votação decorrer será fundamental para perceber se este "quase acordo" tem ou não pernas para andar. Alexis Tsipras tem vindo a precisar dos votos dos deputados da oposição para conseguir aprovar as medidas que propõe, e dentro do seu partido - o Syriza – há cada vez mais deputados descontentes, a pedir eleições antecipadas. "O Syriza foi eleito com base num programa [de governo] diferente daquele que terá agora de implementar. O actual programa não pode ser adoptado com base nesse mandato, necessita de outro", defendeu ontem o ministro grego da Saúde.
Depois será a vez de os ministros europeus das Finanças, o Eurogrupo, avaliarem a situação, possivelmente ainda nesta sexta-feira. Se houver luz verde em Atenas e em Bruxelas, vários parlamentos nacionais terão de seguida de aprovar o terceiro resgate à Grécia em cinco anos. Em vários países, a começar pela Alemanha, exige-se, porém, que o FMI volte a participar tecnica e financeiramente nesse novo empréstimo, mas a instituição liderada por Christine Lagarde já avisou que só o fará se a dívida grega votar a ser reestruturada - e isso é algo que os europeus apenas se dizem dispostos a ponderar depois de receberem de Atenas provas de que o prometido está a ser efectivamente cumprido.