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Sete estratégias que o Reino Unido pode usar para abalar a união da UE

Numa altura em que se prepara a saída do Reino Unido da União Europeia, a primeira-ministra Theresa May pode ter de fazer jogo sujo para conseguir o melhor acordo possível para os britânicos.

Francois Lenoir/Reuters
15 de Janeiro de 2017 às 10:00
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O Reino Unido precisar de semear discórdia no bloco para conseguir concessões da UE, como manter relações de comércio preferenciais e um acesso favorável para as instituições financeiras de Londres. Por enquanto, os outros 27 governos conseguiram manter uma frente comum, mas dois anos de negociações testarão as prioridades de Paris a Budapeste e Lisboa a Varsóvia.

 

A Bloomberg elaborou um guia sobre como o Reino Unido pode abalar a união da UE:


1. Oferecer dinheiro

A saída do Reino Unido da UE deixará um rombo semanal de aproximadamente 250 milhões de libras (286 milhões de euros) no orçamento, potencialmente removendo recursos que são vitais para as nações mais pobres, caso esse montante não seja coberto.


Estratégia: Em troca da continuação disponibilização de fundos por parte britânicos, diplomatas do Leste Europeu sinalizaram que estão dispostos a considerar dar acesso ao mercado único ao Reino Unido, mesmo se os britânicos restringirem o livre movimento de trabalhadores. Tal posição colocaria esses países em rota de colisão com nações ocidentais mais ricas, que insistem que essas duas políticas são inseparáveis. O Reino Unido pode prometer pagar a sua conta na UE até o final do actual período orçamental, em 2020, ou mesmo depois.

 

2. Pôr uns contra os outros

Como os 27 países da UE não podem negociar com o Reino Unido ao mesmo tempo, contam com os administradores do bloco em Bruxelas para fazer o trabalho pesado. O problema para a UE é a rivalidade de longa data entre as instituições que compõem o bloco.


Estratégia: May pode aproveitar as disputas de poder, tentando negociar directamente com as capitais de cada país. Isso pode ser feito nas costas da Comissão, que deveria liderar as negociações em Bruxelas. Muitos governos nacionais não confiam na Comissão, acreditando que nem sempre trabalha pelos seus interesses.

 

3. Explorar divisões sobre Trump e Putin

Com o presidente eleito Donald Trump a colocar em xeque o compromisso dos EUA com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a UE sabe que ganharia com a manutenção de vínculos com os recursos militares e de inteligência do Reino Unido, especialmente face às preocupações relativas à proliferação do terrorismo e às ambições de expansão do presidente russo Vladimir Putin.


Estratégia: Usar a defesa como arma. A UE não faz segredo de que qualquer negociação em torno do Brexit precisa de preservar a estabilidade do bloco. Países do Leste Europeu, em particular, estão abertos à continuidade da assistência do Reino Unido, tendo em vista as agressões de Putin perto de suas fronteiras. O que poderão permitir em troca?

 

4. Seduzir a indústria

Empresas com base no continente exportaram mais de 300 mil milhões de euros para o Reino Unido em 2015. Estas desejam manter o acesso ao mercado britânico e defendem um acordo para o Brexit que lhes proporcione essa flexibilidade.


Estratégia: O Reino Unido sabe que determinados sectores da UE querem continuar a vender para o país sem pagar impostos. Os Governos da UE têm mantido a postura de que May não pode sair e ficar com acesso ao mercado único. Mas o Reino Unido sabe que tem um poderoso argumento a seu favor, ao manter as companhias importantes no seu território e apresentar o livre comércio como benéfico para toda a economia europeia.

 

5. Usar a saída de cidadãos da UE do Reino Unido

Vivem no Reino Unido 3 milhões de cidadãos da UE e ainda não se sabe se vão poder permanecer e trabalhar lá depois da saída do bloco.


Estratégia: A vantagem que May pode ter nesta área é diminuta porque o seu governo também quer proteger os direitos de cidadãos britânicos que vivem na UE. Porém, firmar compromissos para proteger europeus que migraram para o Reino Unido sob as regras de livre movimento da UE pode ser uma apreciada demonstração de boa vontade da primeira-ministra.

 

6. Ameaçar cortar impostos

As taxas de impostos para empresas no Reino Unido já é uma das mais baixas da UE. O governo britânico sinalizou que pode baixar ainda mais os impostos para atrair empresas que estão noutros países da UE, caso não consiga o que quer nas negociações.


Estratégia: O corte da alíquota tributária para as empresas teria impacto directo sobre as economias da UE e qualquer ameaça nesse sentido pode pressionar governos a aceitar um acordo comercial que seja vantajoso para o Reino Unido ou que daria às instituições financeiras acesso contínuo ao mercado único.

 

7. Torcer para que a Europa esteja distraída

Talvez muitos britânicos não saibam, mas o Brexit não é a maior dor de cabeça da UE este ano. Líderes europeus têm à sua frente eleições na França, Alemanha e Holanda que ameaçam o status quo, além do problema sobre o que fazer com milhões de pessoas que chegam do Médio Oriente e da África, sem falar na recuperação anémica das economias da Zona do Euro.


Estratégia: O Reino Unido não pode fazer planos para cada uma das distrações que podem manter o resto da UE sem dormir nos próximos dois anos, mas pode usar eventos imprevisíveis para ganhar vantagem. Há quem diga que governos com outros problemas podem fazer com que a Comissão Europeia — mais ideológica e mais centrada em regras — tenha um papel maior nas negociações, o que seria mau para o Reino Unido. Por outro lado, uma Europa instável e assombrada por incertezas terá mais dificuldades em se manter unida.

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