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Londres vê progressos "concretos" nas conversas do Brexit. Bruxelas diz que não são "decisivos"

A terceira ronda de negociações entre Bruxelas e Londres terminou. E a visão das negociações parece ser diferente entre as partes. Bruxelas diz que não foram feitos "progressos decisivos". Londres fala de "alguns progressos concretos".

Neil Hall/Reuters
31 de Agosto de 2017 às 13:26
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Não é propriamente novidade que as negociações entre Londres e Bruxelas para o Brexit não estão a decorrer da melhor maneira. Várias notícias têm vindo a público que dão conta desse mesmo desconforto, surgindo trocas de acusações de ambos os lados.

A terceira ronda terminou já e Michel Barnier, responsável máximo da União Europeia nas negociações para o Brexit, adiantou esta manhã que não foram obtidos "progressos decisivos". Apesar de clarificações úteis "não conseguimos alcançar progressos decisivos em qualquer dos temas principais, ainda que a discussão que tivemos sobre a Irlanda tenha sido frutuosa", adiantou citado pela Reuters.

Já ontem Michel Barnier tinha criticado a postura britânica nas negociações. "Para ser flexível é preciso dois pontos: o nosso ponto e o ponto deles. Primeiro precisamos de conhecer a posição deles e depois podemos ser flexíveis".

Esta manhã, por sua vez, David Davis, líder dos negociadores britânicos, falou à imprensa para fazer uma avaliação das negociações. E a sua interpretação é um pouco diferente da do seu homólogo. "Esta semana, tivemos negociações longas e detalhadas, ao nível de múltiplas áreas e, penso que é justo dizer, que fizemos alguns progressos concretos", disse, citado pela Reuters.

Guy Verhofstadt, coordenador do Parlamento Europeu para o Brexit, apontou que são diminutas as hipóteses de, a partir de Outubro, o Reino Unido e a União Europeia passarem a debater as relações comerciais entre o bloco económico e Londres, após o Brexit. A falta de entendimento em muitas matérias deverá ser o obstáculo que impede o progresso nas negociações e que permita que o relacionamento comercial esteja em cima da mesa na cimeira europeia.

A Bloomberg, falou com fontes que estão presentes nas negociações para perceber quais são as questões que estão de facto impedir mais progressos nas negociações.

O valor da factura do Brexit é um dos temas fracturantes. As negociações torno da compensação financeira que Londres vai ter de pagar praticamente ainda não começaram. Londres não avança com a sua posição na matéria, uma vez que pensa que tem mais vantagens se não apresentar o seu ponto de vista.

Em Maio, o Financial Times avançava que o "divórcio" ia custar a Londres 100 mil milhões de euros, mas os britânicos aparentemente não estão disponíveis para passar um cheque tão alto. Boris Johnson, chefe da diplomacia britânica, assumiu na semana passada, que o Reino Unido vai cumprir as suas obrigações financeiras sem, contudo, revelar os valores que os britânicos poderiam pagar. Disse apenas que seria o valor devido.

As fontes da Bloomberg dizem que, os negociadores britânicos, sobre esta questão, estão apenas a aproveitar as lacunas na posição da União Europeia. Em termos técnicos, há questões a terem em conta: o orçamento comunitário é desenhado para sete anos, sendo que o actual entrou em vigor em 2014. Bruxelas luta para que o acordo que o Reino Unido assinou há quatro anos os responsabilze pelos compromissos subsequentes a esse período. Mas Londres considera que, dado que o orçamento é dividido em montantes anuais, não deve ficar presos aos anos que ainda faltam.

Na área da saúde, o Reino Unido gostaria que se mantivessem os cuidados de emergência aos seus cidadãos que viajam para a UE, garantindo os mesmos cuidados aos europeus que vão ao Reino Unido. Mas Bruxelas mostra-se contra, alegando que estas regras apenas se podem aplicar a estados-membros.

Em termos comerciais, o acordo parece não estar muito fácil de alcançar. Os elementos britânicos nas negociações, citados pela Bloomberg, acreditam que os seus homólogos da UE estão a dar sinais terem uma interpretação muito estrita daquilo que significa cadeia de abastecimento, o que está a colocar entraves nas negociações.

Quanto à movimentação de trabalhadores, aparentemente, os dois lados concordam com o princípio de que é necessário criar uma modalidade que permita a um cidadão do bloco económico deslocar-se ao Reino Unido para trabalhar. Mas ainda não foi possível criar uma definição para classificar uma pessoa como trabalhador fronteiriço, estando o tema assim ainda por concluir.

O papel que o Tribunal Europeu de Justiça vai desempenhar após o Brexit é também um tema que ainda divide posições, avança a agência de notícias.

A 23 de Junho do ano passado, os britânicos, em referendo, escolheram deixar o bloco económico europeu. Formalmente, o pedido para o Reino Unido deixar a União Europeia foi feito em Março deste ano, o que significa que a partir do final de Março de 2019, Londres vai estar fora do bloco económico. As negociações para o Brexit devem durar dois anos, sendo que Londres quer um período de transição para o pós-2019.

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