Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Juncker e deputado do PCP travam-se de razões durante debate no Parlamento Europeu

O candidato designado a presidente da Comissão Europeia e o eurodeputado comunista João Ferreira travaram-se esta quarta-feira de razões num debate no Parlamento Europeu, com Jean-Claude Juncker a afirmar que não precisa que lhe expliquem a realidade de Portugal.

Miguel Baltazar/Negócios
09 de Julho de 2014 às 13:07
  • 50
  • ...

No quadro da ronda de discussões realizadas entre terça-feira e hoje com os diferentes grupos políticos da assembleia europeia, antes da votação do seu nome para a presidência do executivo comunitário, que terá lugar no hemiciclo de Estrasburgo a 15 de Julho, Juncker ouviu muitas críticas no debate com o Grupo da Esquerda Unitária Europeia, família que integra as delegações do PCP e Bloco de Esquerda, e que lhe declarou abertamente a oposição à sua designação para a presidência da Comissão.

 

Insurgindo-se contra muitas das críticas que lhe foram dirigidas, e refutando designadamente o "rótulo" de neo-liberal e capitalista, Juncker mostrou-se irritado em alguns períodos do debate, incluindo durante a intervenção do eurodeputado português João Ferreira, quando este fez uma pausa para que o candidato do Partido Popular Europeu (PPE) à sucessão de Durão Barroso "desligasse" o telemóvel, que manuseava, e o instou a voltar a colocar os auscultadores para ouvir a tradução da sua interpelação.

 

Depois de criticar o papel desempenhado em Portugal pela "troika", "que o senhor (Juncker) apoiou", e "chamar-lhe a atenção para a realidade" do país, referindo-se ao estado da economia e à escalada da dívida, João Ferreira fez uma pausa entre duas questões ao político luxemburguês, ao ver que este estava sem os auscultadores e manuseava o telemóvel.

 

"Vou fazer uma pausa para que possa desligar o telemóvel", disse o deputado, retorquindo Juncker que respondia a uma mensagem da sua mulher.

Por quem me julgam e por quem se julgam? Acham que sou um filho de um milionário, que nunca trabalhou, que nasci num berço de ouro? Não é o caso.
 
Jean-Claude Juncker

 

"Eu sei fazer duas coisas em simultâneo: escutá-lo e escrever ‘tudo está bem’", disse o político luxemburguês.

 

"E percebe português também? Aguardava que colocasse os auscultadores", insistiu João Ferreira, ao que Juncker respondeu que cresceu rodeado de portugueses.

 

"Cresci na parte industrial do Luxemburgo e os meus vizinhos são portugueses. Sei muitas coisas de Portugal, por isso pode ser mais breve, porque eu conheço" a realidade do país, disse, visivelmente agastado, acrescentando depois, já na fase de respostas aos deputados, que, enquanto presidente do Eurogrupo -- na altura em que Portugal pediu assistência financeira - lutou mesmo contra a redução do salário mínimo em Portugal.

 

"Interessei-me de muito perto e numa base diária pela situação na Grécia e em Portugal. Tenho muitos amigos nesses países, e, durante o período em que fui presidente do Eurogrupo, telefonei várias vezes por dia a testemunhas de rua para sentir a 'temperatura' desses países, e sei bem as derrapagens que houve, os erros de percurso acumulados (...) Não fui eu que obriguei na Grécia e em Portugal a baixar o salário mínimo nacional, bem pelo contrário. No Eurogrupo lutei contra essa redução, e fiquei muito surpreso por ver que outros países ditos pobres e que o são foram aqueles que exigiram que tal política fosse aplicada", disse.

 

Juncker reforçou que, "portanto, o debate na Europa foi um pouco mais complicado do que se insinua em acusações sem fundamento e sem qualquer reflexão, que traduzem mesmo alguma ignorância do assunto", e, referindo-se a diversas outras interpelações de deputados do Grupo de Esquerda, pediu respeito".

 

"Por quem me julgam e por quem se julgam? Acham que sou um filho de um milionário, que nunca trabalhou, que nasci num berço de ouro? Não é o caso", disse, manifestando-se agastado por ser classificado como um "capitalista mau".

 

Questionado, tanto por João Ferreira como pela eurodeputada Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, sobre a possibilidade de renegociação da dívida pública portuguesa, Juncker não abordou a questão, tendo-se queixado por mais de uma vez do pouco tempo disponível para responder às muitas perguntas que cada eurodeputado lhe dirigia.

Ver comentários
Saber mais Bloco de Esquerda PCP João Ferreira Partido Popular Europeu PPE Durão Barroso Eurogrupo
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio