Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Bruxelas reforça fundo da retoma sem esquecer países frugais

A Comissão Europeia apresentou uma proposta para o fundo de recuperação que vai além da iniciativa franco-alemã e um orçamento reforçado para a UE. Mas como precisa convencer os frugais, garante que dívida conjunta e subvenções a fundo perdido não são primeiro passo para uma união de transferências.

A presidente da Comissão Europeia surpreendeu ontem ao anunciar um pacote financeiro superior ao que foi proposto pela Alemanha e França.
A presidente da Comissão Europeia surpreendeu ontem ao anunciar um pacote financeiro superior ao que foi proposto pela Alemanha e França. Joahnna Geron/Reuters
27 de Maio de 2020 às 20:58
  • 4
  • ...

A Comissão Europeia apresentou uma proposta para o fundo de recuperação que vai além da iniciativa franco-alemã e um orçamento reforçado para a UE. Mas como precisa convencer os frugais, garante que dívida conjunta e subvenções a fundo perdido não são primeiro passo para uma união de transferências.

Bruxelas quer poder de fogo para reagir à crise da covid-19 e evitar uma resposta europeia descoordenada que agrave as assimetrias na União Europeia e na Zona Euro, contudo faz questão de assegurar que este “passo ousado” não é o primeiro em direção à união de transferências rejeitada pelos frugais.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs esta quarta-feira um fundo de recuperação denominado “Próxima Geração Europeia” no valor de 750 mil milhões de euros de dívida conjunta emitida pela própria instituição. Este valor reparte-se em 500 mil milhões atribuídos a título de subvenções a fundo perdido e 250 mil milhões via empréstimos, o que reforça a verba de meio bilião de subsídios que constava da iniciativa franco-alemã e confirma a conjugação dos dois modelos anteriormente preconizada por Von der Leyen.

Por outro lado, o órgão executivo da UE propôs um quadro financeiro plurianual (QFP, 2021-27) de 1,1 biliões de euros, um reforço face aos cerca de 1,082 biliões do orçamento de longo prazo em vigor, já excluindo a contribuição do Reino Unido.

Apesar de ficar abaixo da proposta (1,135 biliões) feita pela Comissão em maio de 2018, cobre os 1,095 mil milhões que o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, avançou para tentar alcançar um compromisso entre os países que rejeitam cortes na coesão e os Estados-membros que não queriam aumentar a respetiva contribuição para o orçamento comunitário.

São assim 1,85 biliões de euros para apoiar a recuperação da UE e reforçar a capacidade de resiliência de longo prazo, acrescidos do pacote de 540 mil milhões de euros aprovado no Eurogrupo para apoiar as economias, empregos e empresas.

“É altura de tomarmos a decisão certa. O custo de não investirmos nesta crise terá consequências muito negativas no futuro (…) Vamos deixar os preconceitos de lado, vamos redescobrir o poder deste objetivo comum que nos permita sair desta crise”, declarou Von der Leyen, no Parlamento Europeu.

O primeiro-ministro, António Costa, mostrou satisfação ao considerar a proposta “ambiciosa”, contudo, no Twitter, lembrou que “cabe agora ao Conselho não frustrar esta esperança”.

Costa antecipava já a oposição do bloco dos países frugais, encabeçado pelos Países Baixos, que inclui ainda a Áustria, Suécia e Dinamarca, contrário a apoios a fundo perdido por configurar uma aproximação à rejeitada união de transferências orçamentais e favorável à concessão de empréstimos condicionados.

Uma vez sem exemplo

“[Esta emissão de dívida] é uma única vez, isto é excecional”, assegurou Von der Leyen sublinhando que estas “subvenções são um investimento conjunto no nosso futuro”, afastando qualquer mutualização de dívidas passadas.

A pensar na relutâncias dos frugais, a alemã realçou ainda que os fundos alocados estarão ligados à prossecução de reformas propostas pelas recomendações do Semestre Europeu, designadamente orientadas para as novas prioridades da UE (transições climática e digital e reforço do mercado único) e a distribuição terá como limite a chave de alocação de fundos por país.

O chanceler austríaco e agora porta-voz informal dos frugais, Sebastian Kurz, falou em aspetos “positivos” como o limite de apoios por país, o facto de fundo de retoma ser um instrumento temporário e de “emergência” e não um primeiro passo para uma união orçamental. Contudo, refreou as expectativas referindo-se ao plano da Comissão como apenas “um ponto de partida” para as negociações futuras.

No polo oposto, o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, considerou que a proposta de Bruxelas “vai exatamente na direção indicada pela Itália”.

Via Twitter, Conte disse que os italianos estão a ser descritos como “visionários” pois desde início fizeram finca-pé numa solução baseada em subsídios que não agravassem a situação dos países mais endividados, pondo em causa a Zona Euro.

Tanto o fundo de recuperação como o orçamento da UE têm de ser aprovados por unanimidade dos 27 Estados-membros.

Portugal pode ter 15,5 mil milhões em subvenções

O plano desvendado pela Comissão prevê que Portugal possa ir buscar 15,5 mil milhões de euros a fundo perdido (7,3% do PIB de 2019), a que se somam 10,8 mil milhões de empréstimos (5,1% do produto), o que perfaz um total de 26,3 mil milhões de euros (12,4% do PIB) à disposição do país.

Já Itália e Espanha, os dois países mais atingidos pela pandemia, são também os potenciais maiores beneficiários. Roma tem 82 mil milhões de euros à disposição em subvenções e 91 mil milhões em empréstimos, e Espanha 77 mil milhões e 63 mil milhões, respetivamente.

 

Esta proposta abre a porta ao reencontro do Projeto europeu com os Europeus. Cabe agora ao Conselho não frustrar esta esperança.António Costa
primeiro-ministro

 

 

O que achamos positivo é que há um tempo limite e que o fundo será uma medida de emergência única.Sebastian Kurz
chanceler da Áustria

 

 

É altura de tomarmos a decisão certa. O custo de não investirmos nesta crise terá consequências muito negativas no futuro.Ursula von der Leyen
presidente da Comissão Europeia

 

Ver comentários
Saber mais Próxima Geração Europeia Bruxelas UE Zona Euro ANTÓNIO COSTA Leyen Portugal Comissão Sebastian Kurz Estados-membros Itália Giuseppe Conte PIB Espanha política
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio