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Puigdemont enviou mensagens em que reconhece derrota do processo independentista

O canal Telecinco divulgou mensagens de telemóvel enviadas por Puigdemont ao ex-ministro catalão Toni Comín em que reconhece o fim do processo soberanista e a vitória do governo de Rajoy.

Reuters
David Santiago dsantiago@negocios.pt 31 de Janeiro de 2018 às 14:09

"Suponho que já percebeste que isto terminou. Os nossos sacrificaram-nos. Pelo menos a mim. Vocês serão ministros (espero-o e desejo-o), mas eu já fui sacrificado tal como sugeria [Joan] Tardà", é uma das mensagens (e a mais elucidativa) enviada na noite desta terça-feira por Carles Puigdemont (Juntos pela Catalunha) a Toni Comìn (ERC), ex-ministro do governo catalão que também se encontra exilado em Bruxelas.

 

O canal televisivo Telecinco divulgou na manhã desta quarta-feira, 31 de Janeiro, um conjunto de mensagens enviadas por telemóvel pelo presidente destituído da Generalitat a Tomìn. As mensagens foram enviadas através da aplicação Signal (recomendada por Snowden) durante um evento em Lovaina em que Tomìn participou mas a que Puigdemont acabou por faltar.

 

Nas mensagens divulgadas, em exclusivo, esta manhã no programa de Ana Rosa Quintana, Puigdemont reconhece que "o plano da Moncloa triunfou", ou seja, o líder do JxCAT considera que o imobilismo e a inflexibilidade do governo de Mariano Rajoy em relação ao processo independentista venceu.

 

Carles Puigdemont admite também que estão a ser vividos os últimos dias da república catalã e diz esperar que os ex-ministros que se encontram presos (Junqueras, Forn e os dois "Jordis") possam ser libertados. Por fim, Puigdemont adianta que se vai dedicar a "proteger a minha reputação".

 


Pouco depois da emissão do programa de Ana Rosa, Puigdemont e Comín reagiram através da rede social Twitter, lamentando a divulgação de conversas privadas. Puigdemont lembra que "sem fui jornalista e sempre entendi que há limites, como a privacidade, que não devem ser violados". Já Comìn defende que a revelação de conteúdos do foro privado "é um crime em Espanha e na Bélgica".

 

Sobre o conteúdo das menagens propriamente dito, Puigdemont reconhece que "sou humano e há momentos em que também duvido". Ainda no Twitter, Comìn tratou de avisar o bloco unionista para não se deixar enganar, garantindo que as forças independentistas catalãs continuam unidas: "Se o bloco do 155 está com a ilusão de uma divisão do independentismo, terá um enorme desgosto".

 


O advogado de Comìn, Gonzalo Boyé, rejeitou desmentir a autenticidade das mensagens divulgadas (todas enviadas por Puigdemont a Comìn), mas sustenta que "são conversas retiradas do contexto e obtidas de forma ilegal", razões que o levaram a anunciar que prosseguirá com uma acção judicial contra o programa da Telecinco.

 

Forças constitucionalistas apontam fragilidade do soberanismo

 

A vice-primeira-ministra espanhola e número dois de Rajoy, Soraya Sáenz de Santamaría, instou o presidente do parlamento catalão, Roger Torrent, a "abrir uma nova ronda de contactos" com vista a encontrar um novo candidato à presidência da Generalitat. Também Miquel Iceta, líder do PSC (socialistas catalães), pediu a Torrent que procure outro candidato à investidura, e acusou as forças independentistas de falta de coragem por não dizerem publicamente que "o processo [soberanista] não vai a lugar nenhum". 

Quem também não perdeu tempo a reagir foram os partidos do chamado arco constitucional. A líder do Cidadãos na Catalunha (partido mais votado nas eleições de 21 de Dezembro), Inês Arrimadas, declarou que "terminou a farsa", enquanto o número um do PP na região, Xavier García Albiol, disse que "agora só é preciso que ele (Puigdemont) e o independentismo o assumam o quanto antes para regressarmos à normalidade".

 

 

Catalunha em suspenso

Esta terça-feira, Roger Torrent (ERC) decidiu adiar sine die a sessão de investidura agendada para ontem à tarde e em que Puigdemont era o único candidato. Porém, Torrent não abdicou de manter o presidente deposto da Generalitat como candidato e garantiu que iria até ao fim para o tentar investir líder do governo catalão.

 

Torrent evitou assim desobedecer ao Tribunal Constitucional, mas recusou também insistir na investidura como pretendia o JxCAT de Puigdemont e a CUP (extrema-esquerda soberanista). Ou seja, a solução a meio caminho encontrada pelo presidente do "parlament" abriu uma frente de discórdia no seio do bloco soberanista, já que enquanto JxCAT apelavam à via unilateralista do" choque de comboios" com Madrid, a ERC admite a hipótese de deixar cair Puigdemont e encontrar uma alternativa para liderar a Generalitat.

 

A decisão de Torrent deixa a Catalunha num limbo porque doravante deixou de haver um calendário. A suspensão do debate de investidura suspende também a contagem do período máximo de dois meses – a contar a partir do início da legislatura – para ser investido um presidente da Generalitat. Findo este prazo, se não tiver sido encontrado um líder para o governo catalão, são convocadas eleições autonómicas antecipadas.

 

Desta forma, é certo que a suspensão do autogoverno catalão prosseguirá, permanecendo Madrid responsável pelo governo catalão ao abrigo do artigo 155 da Constituição espanhola, activado em 27 de Outubro depois de o "parlament" ter declarado unilateralmente a independência da Catalunha.

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