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Turull falha investidura como presidente da Catalunha e fica à espera da segunda volta
O candidato a presidente do governo catalão proposto pelos dois maiores partidos do bloco independentista falhou a investidura devido à abstenção dos quatro deputados da esquerda radical soberanista. Jordi Turull deverá ser eleito na segunda volta, em que basta a maioria simples.
Foram ainda registados 65 votos contra (o somatório das forças do arco constitucional) e quatro abstenções. Os quatro abstencionistas são os deputados eleitos pela CUP (esquerda radical independentista) que haviam anunciado meia hora antes do debate de investidura que iriam abster-se. Isto significa que a investidura de Jordi Turull foi frustrada por quadro deputados do bloco soberanista.
A decisão da CUP, anunciada através de comunicado, é justificada pelo partido anti-capitalista com a defesa da via independentista unilateral de confronto com Madrid, que o JxCAT e a ERC terão abandonado. Ou seja, a CUP pretende prosseguir "o mandato de 1 de Outubro", dia em que foi realizado o referendo que deu o "sim" à independência da Generalitat.
No discurso prévio à votação, Turull mostrou-se disponível para "dialogar" com o executivo chefiado por Mariano Rajoy sempre que Madrid mostre vontade negocial. Nesse diálogo, o ex-porta-voz da Generalitat admite renunciar a expressões unilateralistas tais como "República catalã, independência ou Estado catalão". Para este candidato à presidência do governo catalão a prioridade passa por "restaurar as instituições" que estão em suspenso desde a activação do artigo 155 da Constituição através do qual Madrid assumiu o governo da Catalunha.
Turull foi a terceira escolha e fez questão de sublinhar isso mesmo: "não era eu que devia aqui estar hoje", atirou lembrando as falhadas tentativas de investidura de Puigdemont e de Jordi Sánchez, o líder da ANC que permanece em prisão preventiva. A líder do Cidadãos e líder da oposição aos independentistas, Inés Arrimadas, defendeu que Turull não pode ser a solução para o problema catalão porque ele também participou "impulsionou a ruptura" face a Madrid. "Estão a adaptar a vossa política ao processo judicial e este é apenas um novo capítulo da ficção", atirou Arrimadas voltando-se para o lado do plenário em que se sentam as forças soberanistas.
Ainda não foi desta que se encontrou um presidente para o governo autonómico da Catalunha (Generalitat), três meses e um dia depois das eleições regionais convocadas pelo governo central de Madrid. No entanto, o antigo porta-voz da Generalitat poderá ser investido na segunda volta que terá lugar já no sábado, 24 de Março, a partir das 10:00 locais (09:00 em Lisboa). Nessa segunda votação basta uma maioria simples, pelo que se se mantiver o sentido de voto dos parlamentares catalães hoje registado, Turull - membro do PDeCAT (partido do presidente catalão destituído Carles Puigdemont) - será eleito presidente da Generalitat.
Justiça pode trocar as voltas aos independentistas
O plano do também soberanista líder do parlamento catalão poderá sair furado. Roger Torrent marcou para hoje a sessão de investidura que estava planeada apenas para a próxima semana. Fê-lo porque esta sexta-feira o juiz Pablo Llarena, do Tribunal Supremo - titular das acusações de "rebelião, sedição e desvio de fundos públicos" contra os membros do anterior governo catalão - vai anunciar a revisão das medidas cautelares aplicadas a seis dos actuais deputados eleitos, entre eles Jordi Turull.
O receio de que Llarena pusesse Turull em prisão preventiva levou o presidente do parlamento a acelerar o processo da investidura. O volte-face provocado pela abstenção dos quatro deputados da CUP poderá, se Turull, ficar em prisão preventiva, adensar a incerteza política na Catalunha. Porque agora, finalmente, começam a contar os prazos estabelecidos pelo Estatuto da Catalunha - em suspenso na sequência da decisão de Torrent suspender a investidura de Puigdemont. Começaram hoje a contar os dois meses - terminam em 22 de Maio - para a eleição de um presidente da Catalunha. Se tal não for possível neste prazo, o parlamento é dissolvido e são convocadas novas eleições autonómicas.