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Trabalhadores do INE repudiam “aproveitamento político” de estatísticas

A Comissão de Trabalhadores do INE emitiu hoje um comunicado, em que critica as intervenções de responsáveis políticos sobre os números do desemprego, classificando esse aproveitamento como "deplorável".

Pedro Elias
03 de Agosto de 2015 às 19:37
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O Instituto Nacional de Estatística (INE) ainda não tomou uma posição oficial, mas os trabalhadores do INE foram muito claros na sua posição. "A Comissão de Trabalhadores do INE expressa o seu repúdio pelo aproveitamento político que tem sido feito da informação produzida pelo INE, pondo em causa a credibilidade e independência da instituição e dos seus trabalhadores", pode ler-se no comunicado emitido esta tarde. "Alerta para as graves implicações desta situação e para a eventualidade de outras interpretações erradas ocorrerem num futuro próximo."

 

O ambiente de tensão em torno dos números do emprego não é novo, mas foi agravado com a aproximação das eleições. Recentemente, quando o INE anunciou uma revisão em baixa de 0,8 pontos da taxa de desemprego de Maio – revisões que têm sido comuns, desde que os dados mensais começaram a ser publicados – o Executivo PSD/CDS-PP reagiu com agressividade. "Governo furioso com o INE por causa do desemprego", lia-se na manchete do Expresso de sábado.

 

O motivo? Fonte não identificada da maioria argumentava que a revisão era muito alta e acusava o INE de criar "uma ficção" e, com isso, de "condicionar o debate". Um ministro (também anónimo) criticava: "as entidades independentes tendem a achar que, por serem independentes, estão acima do escrutínio. Mas não podem estar, sobretudo quando fazem coisas como estas."

 

Os trabalhadores do INE não gostaram das acusações e respondem à letra. "O INE é uma entidade que desempenha a sua actividade com independência técnica […] A actividade do INE é permanentemente escrutinada, não só a nível nacional, como no contexto do Sistema Estatístico Europeu, sendo que parte substancial da informação é produzida de forma harmonizada com os restantes países, tornando possível a respectiva comparabilidade", pode ler-se no comunicado.

 

Referindo-se em concreto às estimativas mensais de desemprego, os trabalhadores do INE notam que "estão em causa estatísticas produzidas segundo um modelo rigorosamente definido, assente em metodologias consistentes e validadas a nível internacional", cuja metodologia "é pública, foi testada e amplamente debatida".

 

O problema não estará só do lado da maioria. A oposição, embora ainda não tenha feito acusações tão graves, também tem desdenhado alguns dos números do INE, argumentando que existe uma importante dimensão do desemprego que está oculto. A isso, os trabalhadores do INE respondem que "o conceito de "desemprego" utilizado no Inquérito ao Emprego e nas respectivas estimativas provisórias mensais não foi definido pelo INE". "Trata-se de um conceito harmonizado pelo Eurostat e adoptado, não só por Portugal como por todos os países da União Europeia, seguindo as orientações da Organização Internacional do Trabalho", acrescenta o comunicado.

 

De uma forma geral, o INE acusa responsáveis de "diferentes quadrantes" políticas de demonstrarem um "profundo desconhecimento técnico e de uma falta de literacia estatística que a Comissão de Trabalhadores não pode deixar de lamentar, considerando o grau de responsabilidade de quem as emitiu".

 

Para os trabalhadores do INE, é "deplorável o aproveitamento político e as insinuações de fraca qualidade e objectividade da informação estatística que têm vindo a ser feitas, colocando em causa a credibilidade do INE", que antecipa que mais situações destas se repitam com a aproximação das eleições. "As estatísticas retratam realidades; não são produzidas à medida de interesses sectoriais ou partidários, nem condicionadas por calendários políticos. A sua leitura deve ser feita de forma objectiva, honesta e responsável", conclui.

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