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Trabalhadores do INE repudiam “aproveitamento político” de estatísticas
A Comissão de Trabalhadores do INE emitiu hoje um comunicado, em que critica as intervenções de responsáveis políticos sobre os números do desemprego, classificando esse aproveitamento como "deplorável".
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O Instituto Nacional de Estatística (INE) ainda não tomou uma posição oficial, mas os trabalhadores do INE foram muito claros na sua posição. "A Comissão de Trabalhadores do INE expressa o seu repúdio pelo aproveitamento político que tem sido feito da informação produzida pelo INE, pondo em causa a credibilidade e independência da instituição e dos seus trabalhadores", pode ler-se no comunicado emitido esta tarde. "Alerta para as graves implicações desta situação e para a eventualidade de outras interpretações erradas ocorrerem num futuro próximo."
O ambiente de tensão em torno dos números do emprego não é novo, mas foi agravado com a aproximação das eleições. Recentemente, quando o INE anunciou uma revisão em baixa de 0,8 pontos da taxa de desemprego de Maio – revisões que têm sido comuns, desde que os dados mensais começaram a ser publicados – o Executivo PSD/CDS-PP reagiu com agressividade. "Governo furioso com o INE por causa do desemprego", lia-se na manchete do Expresso de sábado.
O motivo? Fonte não identificada da maioria argumentava que a revisão era muito alta e acusava o INE de criar "uma ficção" e, com isso, de "condicionar o debate". Um ministro (também anónimo) criticava: "as entidades independentes tendem a achar que, por serem independentes, estão acima do escrutínio. Mas não podem estar, sobretudo quando fazem coisas como estas."
Os trabalhadores do INE não gostaram das acusações e respondem à letra. "O INE é uma entidade que desempenha a sua actividade com independência técnica […] A actividade do INE é permanentemente escrutinada, não só a nível nacional, como no contexto do Sistema Estatístico Europeu, sendo que parte substancial da informação é produzida de forma harmonizada com os restantes países, tornando possível a respectiva comparabilidade", pode ler-se no comunicado.
Referindo-se em concreto às estimativas mensais de desemprego, os trabalhadores do INE notam que "estão em causa estatísticas produzidas segundo um modelo rigorosamente definido, assente em metodologias consistentes e validadas a nível internacional", cuja metodologia "é pública, foi testada e amplamente debatida".
O problema não estará só do lado da maioria. A oposição, embora ainda não tenha feito acusações tão graves, também tem desdenhado alguns dos números do INE, argumentando que existe uma importante dimensão do desemprego que está oculto. A isso, os trabalhadores do INE respondem que "o conceito de "desemprego" utilizado no Inquérito ao Emprego e nas respectivas estimativas provisórias mensais não foi definido pelo INE". "Trata-se de um conceito harmonizado pelo Eurostat e adoptado, não só por Portugal como por todos os países da União Europeia, seguindo as orientações da Organização Internacional do Trabalho", acrescenta o comunicado.
De uma forma geral, o INE acusa responsáveis de "diferentes quadrantes" políticas de demonstrarem um "profundo desconhecimento técnico e de uma falta de literacia estatística que a Comissão de Trabalhadores não pode deixar de lamentar, considerando o grau de responsabilidade de quem as emitiu".
Para os trabalhadores do INE, é "deplorável o aproveitamento político e as insinuações de fraca qualidade e objectividade da informação estatística que têm vindo a ser feitas, colocando em causa a credibilidade do INE", que antecipa que mais situações destas se repitam com a aproximação das eleições. "As estatísticas retratam realidades; não são produzidas à medida de interesses sectoriais ou partidários, nem condicionadas por calendários políticos. A sua leitura deve ser feita de forma objectiva, honesta e responsável", conclui.