Notícia
Varoufakis: Fim anunciado do memorando na Grécia não vai terminar com políticas de austeridade
A situação social na Grécia continua a piorar diariamente e o fim anunciado do memorando para o Verão não vai terminar com a austeridade, disse em entrevista à Lusa o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis.
26 de Abril de 2018 às 07:41
"A situação na Grécia piora diariamente, todos os dias são piores que o dia anterior. A conversa sobre recuperação, de a Grécia ter virado a página, é um insulto ao povo grego. Verifica-se uma constante redução em pensões, salários... hoje, 33% dos gregos ganham menos de 380 euros por mês brutos, antes das reduções de impostos. Um terço dos gregos!", referiu o antigo ministro, que entre Janeiro de Julho de 2015 assumiu a pasta das Finanças no primeiro executivo grego dominado pelo partido de esquerda Syriza.
"Há medidas de austeridade que foram anunciadas para 2019 (...), uma dívida pública impossível de sustentar, objectivos fiscais que são um sinal para os investidores de que não devem investir na Grécia porque lhe vão ser aplicados cada vez mais impostos. Existe uma profunda depressão, e um processo de desertificação como resultado disso".
Varoufakis, de 57 anos, que agora liderada o movimento pan-europeu DiEM25, empenhado na formação de um movimento transnacional, participou na quarta-feira no desfile na Avenida da Liberdade comemorativo do 25 de Abril, integrado no partido Livre, e participa hoje em Lisboa na segunda reunião do "Conselho para lista transnacional" na perspectiva das eleições europeias de Maio de 2019.
No início de Julho de 2015, Varoufakis foi substituído pelo actual ministro das Finanças, Euclides Tsakalotos, um dia após o referendo que rejeitou com um significativo "não" as novas medidas de austeridade exigidas pelos credores (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Uma semana depois, o Governo de esquerda Syriza do primeiro-ministro Alexis Tsipras assinava um terceiro memorando.
Doutorado em Economia pela universidade britânica de Essex e autor de diversos livros sobre a crise da dívida na Europa, Varoufakis assegura que outro dos objectivos do actual Executivo de Atenas, a renegociação da elevada dívida pública do país, também poderá estar comprometida.
"Gostava que houvesse uma renegociação da dívida, que não vai acontecer. O que existe é uma discussão sobre o que designam por alívio da dívida, já não se fala de reestruturação da dívida", garantiu.
E exemplificou: "É como ter um empréstimo de um banco que não se pode pagar. E o banco diz que nos próximos dez meses, ou três anos, pague menos. Mas o que não paga será acrescentado no final ao empréstimo, com juros, e caso se esteja na falência, isso irá agravar a situação. O que existe actualmente é um agravamento da bancarrota do Estado grego, que no futuro será agravada através da redução dos repagamentos nos próximos dez anos".
O antigo responsável pelas Finanças da Grécia indicou que "o fim dos empréstimos" internacionais vai constituir a única alteração a partir do próximo mês de Agosto.
"Penso que é profundamente triste que os meus colegas digam isso", afirmou, numa referência às declarações oficiais sobre o fim do memorando e das políticas de austeridade. "Porque no íntimo sabem que não é verdade. Provoca-me uma imensa dor que meus camaradas de esquerda digam coisas que sabem ser falsas", acrescentou.
"Dos 86 mil milhões de euros do terceiro memorando, cerca de 50 mil milhões foram gastos e restam cerca de 32 mil milhões, que vão servir para voltar apagar à 'troika. Mas a 'troika' necessita de 98 mil milhões até 2030 e entre 2030 e 2060 de mais 180 mil milhões. E que serão extraídos da carne e do sangue do povo grego. Foi apenas isto que mudou".
A ruptura de Varoufakis com o Governo dominado pelo Syriza foi dolorosa, apesar de não ser militante do partido. E não hesitou em utilizar a expressão "capitulação" numa referência à decisão do Governo, já com Euclides Tsakalotos na pasta das Finanças, em assinar um terceiro memorando cerca de uma semana após o referendo de 5 de Julho de 2015.
"Alexis Tsipras na noite do referendo disse-me que tinha chegado o momento para capitular, e disse-lhe que isso não era para mim", indicou, ao referir-se à "dolorosa carta" de demissão que divulgou na ocasião.
"Sabia que o primeiro-ministro estava em vias de tornar o 'não' num 'sim' [numa alusão ao referendo], e capitular. Ao mesmo tempo, não sendo membro do Syriza, um partido que acolhi no meu coração, não queria ser aquele que iria provocar a ruptura no interior do Syriza", disse.
Hoje, assegurou que escreveria a carta de demissão num tom diferente, por na altura ainda estar convencido que o "não" que venceu no referendo seria levado à prática.
"Não acreditava que a direcção do Syriza também capitulasse, e se o soubesse, a minha carta seria diferente. Quis assinalar que estava a ocorrer uma capitulação, mas não pretendi ser o responsável pela queda e desintegração do Syriza", reafirmou.
Varoufakis considerou que os representantes da troika de credores vão permitir que o primeiro-ministro Alexis Tripras "comemore" o fim do memorando, mas receia que a Grécia e o povo grego permaneçam como devedores para sempre.
E assegurou ainda que os credores vão manter uma vigilância apertada sobre Atenas.
"Nada vai mudar. E o governo já legislou para aplicar cortes nas pensões em Janeiro de 2019, introduzir mais aumentos de impostos para as famílias mais pobres após Janeiro de 2019, aumentar exponencialmente a expulsão das famílias pobres de suas casas... não vai haver qualquer mudança no verão", insistiu.
"E mesmo a alusão ao alívio da dívida, não está a ser discutido o alívio da dívida. O que vão fazer é dar a oportunidade ao Governo, nos próximos dez anos, de pagar menos em cada ano, mas até 2060 isso será acrescentado com novos juros".
"Há medidas de austeridade que foram anunciadas para 2019 (...), uma dívida pública impossível de sustentar, objectivos fiscais que são um sinal para os investidores de que não devem investir na Grécia porque lhe vão ser aplicados cada vez mais impostos. Existe uma profunda depressão, e um processo de desertificação como resultado disso".
No início de Julho de 2015, Varoufakis foi substituído pelo actual ministro das Finanças, Euclides Tsakalotos, um dia após o referendo que rejeitou com um significativo "não" as novas medidas de austeridade exigidas pelos credores (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Uma semana depois, o Governo de esquerda Syriza do primeiro-ministro Alexis Tsipras assinava um terceiro memorando.
Doutorado em Economia pela universidade britânica de Essex e autor de diversos livros sobre a crise da dívida na Europa, Varoufakis assegura que outro dos objectivos do actual Executivo de Atenas, a renegociação da elevada dívida pública do país, também poderá estar comprometida.
"Gostava que houvesse uma renegociação da dívida, que não vai acontecer. O que existe é uma discussão sobre o que designam por alívio da dívida, já não se fala de reestruturação da dívida", garantiu.
E exemplificou: "É como ter um empréstimo de um banco que não se pode pagar. E o banco diz que nos próximos dez meses, ou três anos, pague menos. Mas o que não paga será acrescentado no final ao empréstimo, com juros, e caso se esteja na falência, isso irá agravar a situação. O que existe actualmente é um agravamento da bancarrota do Estado grego, que no futuro será agravada através da redução dos repagamentos nos próximos dez anos".
O antigo responsável pelas Finanças da Grécia indicou que "o fim dos empréstimos" internacionais vai constituir a única alteração a partir do próximo mês de Agosto.
"Penso que é profundamente triste que os meus colegas digam isso", afirmou, numa referência às declarações oficiais sobre o fim do memorando e das políticas de austeridade. "Porque no íntimo sabem que não é verdade. Provoca-me uma imensa dor que meus camaradas de esquerda digam coisas que sabem ser falsas", acrescentou.
"Dos 86 mil milhões de euros do terceiro memorando, cerca de 50 mil milhões foram gastos e restam cerca de 32 mil milhões, que vão servir para voltar apagar à 'troika. Mas a 'troika' necessita de 98 mil milhões até 2030 e entre 2030 e 2060 de mais 180 mil milhões. E que serão extraídos da carne e do sangue do povo grego. Foi apenas isto que mudou".
A ruptura de Varoufakis com o Governo dominado pelo Syriza foi dolorosa, apesar de não ser militante do partido. E não hesitou em utilizar a expressão "capitulação" numa referência à decisão do Governo, já com Euclides Tsakalotos na pasta das Finanças, em assinar um terceiro memorando cerca de uma semana após o referendo de 5 de Julho de 2015.
"Alexis Tsipras na noite do referendo disse-me que tinha chegado o momento para capitular, e disse-lhe que isso não era para mim", indicou, ao referir-se à "dolorosa carta" de demissão que divulgou na ocasião.
"Sabia que o primeiro-ministro estava em vias de tornar o 'não' num 'sim' [numa alusão ao referendo], e capitular. Ao mesmo tempo, não sendo membro do Syriza, um partido que acolhi no meu coração, não queria ser aquele que iria provocar a ruptura no interior do Syriza", disse.
Hoje, assegurou que escreveria a carta de demissão num tom diferente, por na altura ainda estar convencido que o "não" que venceu no referendo seria levado à prática.
"Não acreditava que a direcção do Syriza também capitulasse, e se o soubesse, a minha carta seria diferente. Quis assinalar que estava a ocorrer uma capitulação, mas não pretendi ser o responsável pela queda e desintegração do Syriza", reafirmou.
Varoufakis considerou que os representantes da troika de credores vão permitir que o primeiro-ministro Alexis Tripras "comemore" o fim do memorando, mas receia que a Grécia e o povo grego permaneçam como devedores para sempre.
E assegurou ainda que os credores vão manter uma vigilância apertada sobre Atenas.
"Nada vai mudar. E o governo já legislou para aplicar cortes nas pensões em Janeiro de 2019, introduzir mais aumentos de impostos para as famílias mais pobres após Janeiro de 2019, aumentar exponencialmente a expulsão das famílias pobres de suas casas... não vai haver qualquer mudança no verão", insistiu.
"E mesmo a alusão ao alívio da dívida, não está a ser discutido o alívio da dívida. O que vão fazer é dar a oportunidade ao Governo, nos próximos dez anos, de pagar menos em cada ano, mas até 2060 isso será acrescentado com novos juros".