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Manifestação mede "temperatura" independentista na Catalunha

A três semanas da realização de um referendo que Madrid que os tribunais julgam ilegal, a região mais rica de Espanha sai às ruas para celebrar a resistência do povo catalão e reclamar que "as urnas unem, não dividem".

Bloomberg
11 de Setembro de 2017 às 14:06
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Os movimentos separatistas da Catalunha voltam a sair à rua esta segunda-feira, 11 de Setembro, sendo esperados perto de um milhão de pessoas em Barcelona numa manifestação de apoio à realização do referendo sobre a independência. Uma votação que o governo de Madrid está a tentar bloquear por todos os meios, envolvendo até os serviços secretos.

 

A habitual marcha da Diada, como é conhecido o dia da Catalunha, vai pintar o coração da capital catalã de amarelo e vermelho a partir das 16:00 (hora de Lisboa). Mas se as cores são as habituais, o clima de tensão na região mais rica de Espanha, que conta 7,5 milhões de habitantes e um terço da dimensão de Portugal, é maior do que nunca.

 

O calendário é o melhor explicador. A festa que recorda a resistência do povo catalão durante o cerco de Barcelona, terminado em 1714, celebra-se este ano a escassas três semanas do dia (1 de Outubro) em que as autoridades da comunidade autónoma querem realizar um referendo vinculativo sobre a independência. Na semana passada, a lei que aprovou esta consulta popular no parlamento regional, em que os partidos separatistas têm maioria, foi logo no dia seguinte suspensa como medida cautelar pelo Tribunal Constitucional espanhol.

 

"A Diada do Sim" é o mote para a manifestação que promete agitar ainda mais as hostes políticas na Catalunha, onde em 2014 já foi organizada uma "consulta simbólica", sob a forma de referendo não vinculativo: participaram então 2,3 milhões de pessoas e 80% pronunciaram-se pela independência. Nas redes sociais, particulares e instituições catalãs estão a multiplicar os apelos para a viabilização desta nova ida às urnas, no dia em que se realizam eleições autárquicas deste lado da fronteira.

 

 

No entanto, às decisões da Justiça soma-se a intransigência do primeiro-ministro espanhol, que já reclamou que a convocação do referendo pelos dirigentes catalães "representa um acto intolerável de desobediência às instituições democráticas". O galego Mariano Rajoy, que até começou o dia no Twitter a desejar "uma Diada de liberdade, convivência e respeito por todos os catalães", está nos bastidores a "fazer o impossível para que não se celebre o referendo ilegal", segundo relata o diário El Pais.

 

Procurar e interceptar as urnas, os boletins de votos e as actas do escrutínio é uma das missões que estão a ser planeadas num grupo restrito, composto pelo líder conservador, que já fez promessas milionárias de investimento naquela região, pela vice-presidente Sáenz de Santamaría e pelo director-geral do Centro Nacional de Inteligência (CNI), Félix Sanz Roldán. De acordo com o mesmo jornal, outra das preocupações passa por evitar tensões nas ruas que possam acabar em violência, depois de nos últimos dias já terem surgido relatos de pequenos confrontos em várias povoações da Catalunha.

 

Do outro lado da barricada, os líderes catalães querem aproveitar esta mobilização popular para manter a pressão política sobre Madrid, tendo o próprio presidente regional, Carles Puigdemont, falado em "transbordar civicamente o Estado" e reclamado a legalidade do referendo. Desafiando as decisões dos tribunais, aproveitou um discurso feito este domingo à noite, na véspera da Diada, para sustentar que as decisões do Parlamento catalão, "a sede da soberania popular", estão acima das acções do Governo e das deliberações do Tribunal Constitucional.

 

 

Reclamando há muito um referendo do género do que foi realizado em Setembro de 2014 na Escócia – a independência face ao Reino Unido acabou por ser rejeitada por 55% dos eleitores escoceses –, as autoridades catalãs tentam ainda legitimar esta votação com o argumento de que "as urnas são para todos, para os que querem uma Catalunha independente e para os que legitimamente querem continuar a ser parte de Espanha". Nas palavras de Puigdemont, "as urnas unem, não dividem", e "o que degrada a democracia é não deixar votar".

 

Porém, independentemente da opinião sobre a separação de Espanha, este modo de actuação do líder regional de 54 anos, que está no cargo desde Janeiro de 2016, não parece ser o que mais agrada à população que representa. Uma sondagem da Metroscopia, divulgada no fim-de-semana no país vizinho, mostrou que na opinião da maioria (56%) este referendo, tal como está a ser organizado, não é válido nem legal, devendo a "Generalitat" optar por uma estratégia de negociação semelhante à seguida pelos bascos.

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