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Krugman: “Governo não vai criar uma crise de confiança”
Em entrevista ao Negócios e à Renascença, o prémio Nobel da Economia concorda com o rumo do Governo português e diz que não é necessário ser tão duro no esforço de austeridade.
Minutos antes da sua intervenção no 6º Congresso da APED, no Museu do Oriente, Paul Krugman explicou que a margem de manobra do Governo português na vertente orçamental não é muito grande, mas que deve ser aproveitada, e sublinhou que o PS não é o Syriza.
"Se me perguntar o que deve um país como Portugal fazer… não vão sair do euro, não vão repudiar a vossa dívida, o mais que podem fazer é suavizar um pouco a austeridade, reduzir um pouco o custo humano", afirmou o economista, em declarações ao Negócios e à Rádio Renascença. "Acho que isso é aquilo que este Governo está a tentar fazer. Portanto, a orientação geral é correcta. Há alguma margem de manobra. O Governo está a tentar aproveitar essa margem."
No entanto, Krugman reconhece que uma verdadeira solução para Portugal crescer mais e criar mais emprego só pode vir do centro da Europa. Isto é, com o espaço limitado que tem, o Executivo português não tem poder de fogo suficiente para fazer uma diferença substancial e abrangente. Uma alteração de política por parte de gigantes como Alemanha e França seria capaz de mudar realmente as coisas.
"O verdadeiro espaço orçamental que interessa está na Alemanha e em França. Mas há algum espaço [em Portugal]. Não tem de ser tão duro", aponta o cronista do "New York Times". "O que Portugal tem feito não vai criar uma crise de confiança [nos mercados]. Acho que há espaço para isso. Para um ponto ou, no máximo, dois pontos a menos de excedente estrutural primário."
Porém, a questão não é apenas académica. Mesmo que se ache que, do ponto de vista económico, faz sentido ser menos contraccionista, a questão é também política. A União Europeia tem regras orçamentais com as quais Portugal está comprometido. Deve o Governo esticar a corda com a Comissão Europeia e eventualmente violar essas mesmas regras? Krugman desdramatiza.
"Acho que há algum espaço nas regras europeias. Portugal será mesmo sancionado de forma severa por falhar por meio ponto [as metas orçamentais]? Não me parece… Não estamos a ver um desafio do estilo Syriza. São coisas na margem."
A versão completa desta entrevista estará disponível esta noite no site do Negócios (para assinantes) e amanhã na edição impressa do jornal.