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"Grexit" estará de volta?
Quatro meses depois do previsto, Alexis Tsipras ainda não conseguiu apresentar as reformas prometidas a troco do terceiro resgate ao país pedido no Verão.
O risco de o Reino Unido sair da União Europeia (UE), o "Brexit", tem dominado a agenda mediática e política, sobretudo depois de o referendo ter sido marcado para uma data já muito próxima: 23 de Junho. Mas a percepção do risco de a Grécia sair do euro, o "Grexit", está a subir a uma velocidade tão acelerada que pode materializar-se antes de o calendário ditar, ou não, a perda de um dos mais antigos e complexos Estados da UE.
É para esse cenário que aponta a evolução do indicador do Sentix, instituto de análise comportamental, que tenta medir a probabilidade de um país sair da Zona Euro. Actualizado nesta terça-feira, 1 de Março, o indicador galgou três pontos no espaço de um mês, para quase 20%, limiar que o instituto constata coincidir com as recorrentes escaladas de crise em torno da Grécia, tendo a mais recente ocorrido há menos de um ano.
Por detrás do crescente pessimismo estará a circunstância de, quatro meses depois do previsto, o primeiro-ministro Alexis Tsipras ainda não ter conseguido apresentar as reformas, em particular a das pensões, prometidas a troco do terceiro resgate ao país pedido no Verão.
Atenas continua, assim, sem cumprir os prazos prometidos no novo memorando e, logo, sem receber a primeira fatia de dois mil milhões de euros do novo resgate que pode ascender a 86 mil milhões (o dinheiro que recebeu no Verão foi de empréstimos-ponte).
Não obstante ter realizado "grandes e sérios esforços", na expressão recente de Jeroen Disselbloem, presidente do Eurogrupo, provavelmente serão necessários "meses e não semanas" para que se possa fazer uma primeira avaliação positiva deste terceiro programa. Sem ela, os europeus não discutirão um novo alívio nas condições de reembolso dos empréstimos (esticar as suas maturidades e prazos de carência, na linha do prometido ainda em 2012). E sem isso, ou seja, sem a garantia de que os europeus ofereceram mais tempo à Grécia para pagar o que lhe foi emprestado, o FMI não entra com mais dinheiro, o que é exigido por vários países europeus, designadamente pela Alemanha.
Em aberto em Atenas está a reforma do sistema de pensões (o Governo só quer cortes para os futuros pensionistas e a troika, especialmente o FMI, acha que é preciso rever também as prestações dos actuais reformados para garantir a sustentabilidade do sistema). Penduradas estão ainda alterações que significarão uma maior carga fiscal sobre agricultores e profissões liberais, bem como a operacionalização do fundo de privatizações.
O maior obstáculo tem sido, porém, a reforma do sistema pensionista, que há anos acumula défices significativos. Ao fim de sucessivos adiamentos, a missão conjunta de FMI e europeus, a velha troika, abandonou Atenas na noite desta segunda-feira sem prazo para voltar. O Eurogrupo, que se reúne no início da próxima semana, deveria fazer uma avaliação intercalar e sinalizar a possibilidade de transferir fundos, mas na ausência de progressos no terreno não haverá sequer conversa sobre passar novos cheques.
A incapacidade de gerar consensos difíceis poderá, em parte, ser explicada pela crescente fragilidade de Alexis Tsipras, que depois de ter sido reeleito em Setembro viu a sua popularidade encolher, tendo desde então enfrentado três greves gerais.
A braços igualmente com a crise dos refugiados – que revela a fraca resposta europeia ao fenómeno mas também a crónica ineptidão das instituições gregas – Alexis Tsipras continua a ser encarado com alguma desconfiança, em particular pelo FMI. "A instituição sedeada em Washington traça um cenário mais sombrio para a evolução da economia grega e duvida da sustentabilidade das propostas de Tsipras", resume a Bloomberg. "As diferenças entre europeus e FMI resultam fundamentalmente do grau de confiança que cada lado tem na capacidade de os gregos se levantarem para se salvarem", resume Mujtaba Rahman, analista da Eurasia.
Depois de ter travado a saída da Grécia do euro numa cimeira dramática de Julho, a chanceler alemã Angela Merkel continuará a ser a maior aliada de Tsipras, pressionando para que mais solidariedade europeia seja prestada ao país onde têm chegado mais migrantes. Mas o apoio de Berlim poderá ser insuficiente para manter no poder o líder do Syriza, outrora um partido com uma agenda radical.