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Um ano após Syriza: Raio-X ao estado da Grécia

No espaço de um ano, as perspectivas económicas degradaram-se significativamente e velhos problemas do país, como o nepotismo, persistem - agora com caras novas.

Bloomberg
25 de Janeiro de 2016 às 18:05
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Faz hoje um ano que o Syriza de Alexis Tsipras chegou pela primeira vez ao poder em Atenas. Após quase meio ano de enorme tensão - na Grécia e em toda a Europa - a normalidade regressou ao quotidiano dos gregos, assim como à relação do país com os seus parceiros europeus e com o FMI.

Mas muitos dos velhos problemas persistem, e nalguns casos foram agravados pela degradação acentuada das perspectivas económicas, como se pode constatar pela comparação das previsões da Comissão Europeia feitas antes e um ano depois da chegada do Syriza ao poder. 

Leia aqui um resumo.


Raio-X ao estado actual da Grécia  
1. Programa atrasado, renegociação da dívida também

Atenas continua sem cumprir os prazos prometidos no novo memorando e, logo, sem receber a primeira fatia de dois mil milhões de euros do novo resgate que pode ascender a 86 mil milhões (o dinheiro que recebeu no Verão foi de empréstimos-ponte). Não obstante ter realizados "grandes e sérios esforços", na expressão de Jeroen Disselbloem, presidente do Eurogrupo, provavelmente serão necessários "meses e não semanas" para que se possa fazer uma primeira avaliação positiva deste terceiro programa. Sem ela, os europeus não discutirão um novo alívio nas condições de reembolso dos empréstimos (esticar as suas maturidades e prazos de carência, na linha do prometido ainda em 2012). E sem isso, ou seja, sem a garantia de que os europeus ofereceram mais tempo à Grécia para pagar o que lhe foi emprestado, o FMI não entra com mais dinheiro, o que é exigido por vários países europeus, designadamente pela Alemanha.

Em aberto em Atenas ainda está a reforma do sistema de pensões (o Governo só quer cortes para os futuros pensionistas e a troika, especialmente o FMI, acha que é preciso rever também as prestações dos actuais reformados para garantir a sustentabilidade do sistema). Penduradas estão ainda alterações que significarão uma maior carga fiscal sobre agricultores e profissões liberais, bem como a operacionalização do fundo de privatizações.

2. Bancos abertos mas ainda há controlo de capitais

O novo resgate repôs alguma normalidade na actividade dos bancos, que, por decisão do então ministro Yanis Varoufakis, foram fechados durante uma semana no Verão para travar a sangria de depósitos, tendo os levantamentos diários sido limitados a 60 euros. Seis meses volvidos, persistem restrições, designadamente nas transferências para o exterior. Na expectativa de George Chouliarakis, secretário de Estado das Finanças, estas deverão ser levantadas em meados deste ano, dependendo da conclusão da recapitalização dos bancos. Avaliada em 14,1 mil milhões de euros, esta será em parte financiada pelos europeus que exigem, antes, que o poder político em Atenas cumpra o prometido no novo memorando de entendimento. A S&P, que na semana passada elevou a notação da Grécia de CCC+ para B- [ou seja, do sétimo para o sexto nível do chamado "lixo", a que corresponde a categoria especulativa], admite uma nova subida de "rating" se se verificarem os requisitos para uma recuperação económica mais acentuada, como o fim do controlo de capitais e a diminuição do nível de endividamento. Pela negativa pesa a advertência de uma possível revisão em baixa da notação caso os compromissos com as entidades internacionais não sejam cumpridos.

3. Combate à evasão avança. Alemanha ajuda

Longe vão os dias de confronto violento com a Alemanha: o Ministério das Finanças grego acaba de assinar um acordo com Bona, sede do governo da Renânia do Norte-Vestfália, para trocar dados, boas práticas e formar pelo menos 50 inspectores gregos para ajudar o país a combater um dos seus maiores flagelos: a fuga e o incumprimento fiscais. A Alemanha tinha já oferecido assistência técnica em 2012, mas Atenas havia recusado. Tal como Lagarde já fizera, da Alemanha veio também um CD com o nome de 10.588 potenciais evasores com contas escondidas na Suíça.

Um dos estudos mais recentes sugere que os impostos não cobrados terão representado 32% do défice de 2009 (ano em que o indicador superou os 15%) e, em 2008, significaram quase metade (48%) do buraco nas contas do Estado. Médicos, advogados, engenheiros, professores e jornalistas são, por esta ordem, as classes profissionais que mais fogem aos impostos. A par da evasão fiscal, acumulam-se impostos por pagar. Segundo dados do Ministério das Finanças, citados num artigo publicado na Vox, o volume de impostos em atraso não pára de aumentar.  Em Outubro de 2014, as dívidas fiscais dos gregos ao seu Estado elevavam-se a 70 mil milhões de euros, o equivalente a 39% do PIB do ano anterior - valor não muito distante dos 86 mil milhões de euros que o governo grego precisa para os próximos três anos e para o qual pediu um terceiro resgate aos países europeus e FMI.

4. Velho nepotismo com caras novas

Não obstante toda a retórica durante a campanha eleitoral, o Syriza e o Anel (seu aliado no governo) são acusados de fazer o mesmo "assalto" aos lugares da administração, empresas e bancos públicos que tanto criticavam. O caso mais recente envolve o líder da "juventude" do Syriza que nomeou a mãe, o irmão e a namorada para lugares no Estado. O assunto foi já abordado no Eurogrupo deste mês, depois da denúncia do fundo Paulson&Co ) de que Anthimos Thomopoulos, CEO do Piraeus Bank, o maior do país e no qual investiu, foi afastado pelo Syriza.

5. Syriza perdeu membros. Está a perder a rua. E eleitores

Depois de ter sido forçado a antecipar eleições (para Setembro) por ter perdido o apoio de quase um terço dos seus deputados (agora militantes de novos partidos), o Syriza de Tsipras começou também a perder o apoio da rua. Pensionistas, agricultores e trabalhadores públicos regressaram às manifestações e o primeiro-ministro já enfrentou duas greves gerais e uma terceira está marcada para 4 de Fevereiro. No início do ano, o Syriza perdeu também a liderança nas sondagens para o Nova Democracia, que acaba de eleger Kyriakos Mitsotakis como líder.

 

 

 

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