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FMI não vai financiar um terceiro resgate à Grécia

É oficial: Washington só poderá equacionar emprestar mais dinheiro quando o governo grego der garantias de aplicação completa de um pacote de reformas e chegar a um acordo com os países europeus que garanta a sustentabilidade da sua dívida.

Reuters
30 de Julho de 2015 às 20:39
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O Fundo Monetário Internacional (FMI) não vai participar num terceiro programa de assistência à Grécia se não tiver, de antemão, garantias de alívio da dívida e de aplicação completa de um pacote de reformas. "O FMI só participará se estas duas condições forem cumpridas", disse aos jornalistas fonte oficial da instituição, citada pelas agências internacionais, indicando que este processo poderá demorar meses.

A instituição liderada por Christine Lagarde considera que este duplo objectivo só será atingido com "decisões difíceis" da parte de Atenas e dos europeus. Esta posição surge depois de o jornal Financial Times ter esta tarde noticiado que o conselho de administração, ou "board", da instituição terá sido desaconselhado a voltar a emprestar dinheiro à Grécia.

O jornal citava a acta de uma reunião que terá tido lugar em Washington na quarta-feira, 29 de Julho, segundo a qual o país não reúne dois dos quatro critérios necessários para que se lhe continue a fornecer financiamento, que no caso grego tem sido de dimensão excepcional. Atenas falha na "capacidade institucional e política" para implementar reformas e na "grande probabilidade de ter uma dívida pública sustentável no médio prazo".

Ainda de acordo com o FT, os asiáticos – possivelmente China e Japão – assim como Brasil e o Canadá estão entre os países cujos representantes na direcção do FMI se mostraram mais escrupulosos, alegando que é "preciso proteger a credibilidade" do próprio Fundo.

O FMI tinha em curso um segundo programa de assistência à Grécia que vigoraria até Março de 2016 e no seio do qual ainda estavam disponíveis 16 mil milhões de euros. Mas como o governo grego, em Junho, falhou pagamentos (referentes ao primeiro empréstimo concedido pelo Fundo em 2010), esse programa teve de ser anulado, pelo que o governo grego pediu um novo na semana passada. Esta reunião decorre desse pedido e a recomendação ao "board" foi apresentada pela equipa de economistas do FMI que segue a Grécia.

Quem dá o primeiro passo?

Sem FMI a bordo, o terceiro resgate europeu pode também não ter pernas para andar. Vários países, desde logo a Alemanha, que têm de pedir a autorização para novos empréstimos junto dos seus parlamentos, consideram fundamental o envolvimento técnico e financeiro de Washington num terceiro resgate à Grécia.

"A Grécia quer decidir algumas reformas importantes apenas no Outono e os europeus apenas querem lidar com a questão da dívida depois da primeira revisão [positiva de um novo programa] porque querem antes restabelecer a confiança", refere-se nas actas, onde ainda se deixa claro que são "muito grandes" as diferença entre o que o FMI e os europeus pensam dever ser o grau de alívio da dívida grega. Neste cenário, o FMI pode continuar a acompanhar o desenho das medidas e a sua implementação, dando apoio técnico no quadro da troika, mas só poderá equacionar voltar a pôr dinheiro no país numa fase ulterior.

Tal como o FMI, também a Comissão Europeia concluiu, após a análise à sustentabilidade da dívida grega efectuada há três semanas, pela necessidade de "um alívio muito substancial, tal como a extensão das maturidades dos actuais e dos novos empréstimos", bem como "um deferimento de juros". Mas enquanto o FMI tem dado indicações muito firmes de que só entrará ao lado dos europeus num terceiro resgate à Grécia se houver um alívio prévio da sua dívida – que diz ter-se tornado nos últimos doze meses "altamente insustentável", a caminho dos 200% do PIB – Bruxelas deixa claro que só haverá condições para rever as condições de pagamento dos mais de 200 mil milhões de euros já emprestados caso Atenas "demonstre" empenho e resultado nas reformas.

"Essas preocupações [sobre a insustentabilidade da dívida] podem ser enfrentadas através de um programa de reformas de longo alcance e credível, de uma muito forte apropriação por parte das autoridades gregas de um programa desse tipo e, após a restauração completa dos acordos de empréstimos, apenas poderão ser concedidas medidas de alívio da dívida caso o compromisso de reforma das autoridades gregas tenha sido demonstrado", referia o relatório de Bruxelas.

Troika regressou a Atenas. Tsipras tenta segurar partido

A troika regressou nesta semana a Atenas com vista a iniciar as negociações sobre um terceiro resgate da comunidade internacional que permita à Grécia, que continua sem acesso aos mercados financeiros, ter meios de satisfazer os cerca de 85 mil milhões de euros em que estão avaliadas as suas necessidades de financiamento para os próximos três anos. A expectativa é que haja um acordo antes de 20 de Agosto, que permita libertar mais empréstimos, já que nessa data Atenas terá de reembolsar ao BCE 3,5 mil milhões de euros de títulos de dívida gregos que chegam à maturidade.

A situação política em Atenas parece, no entanto, estar cada vez mais complexa. Dada a fragilidade de Alexis Tsipras no seio do seu partido, o Syriza, o primeiro-ministro poderá convocar para este domingo um referendo intra-partidário para testar o grau de apoio às medidas exigidas a troco de um terceiro resgate. A possibilidade de eleições antecipadas, eventualmente para Setembro, continua igualmente a ser admitida.
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