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El País: Como a Galiza devia ser exemplo para Portugal no combate aos incêndios

A Galiza e a região Norte de Portugal têm muitas semelhanças, ao nível do relevo, clima e explorações agrícolas. Mas a forma de combater os fogos é muito diferente, o que ajuda a explicar a disparidade na gravidade dos incêndios de 15 de Outubro que assolaram as duas regiões.

Ricardo Almeida
23 de Outubro de 2017 às 10:11
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Porque são tão letais os incêndios em Portugal? A questão é colocada pelo jornal espanhol El País, que num artigo publicado a 20 de Outubro dá o exemplo da Galiza, uma região que também era muito fustigada pelos fogos mas conseguiu inverter a tendência nos últimos anos.

O jornal espanhol cita o caso da região a norte de Portugal devido às semelhanças com o nosso país, ao nível do relevo, clima, abandono de terras e preponderância do minifúndio. 

1989 foi para a Galiza como 2017 está a ser para Portugal. Nesse ano arderam 200 mil hectares e morreram quatro pessoas na região espanhola. Conta o El País que no ano seguinte o governo autonómico deu um murro na mesa para inverter a tendência, delineando uma estratégia que passou pela criação de uma direcção-geral totalmente dedicada à prevenção de incêndios. Uma unidade que hoje também tem a competência do combate aos incêndios e que há mais de 25 anos é dirigida pela mesma pessoa.    

A batalha contra os grandes incêndios e as suas consequências foi ganha e o que aconteceu a 15 de Outubro é disso um exemplo. O dia foi de muitos fogos em Portugal e na Galiza. Em Portugal arderam 150 mil hectares e morreram 44 pessoas. Na Galiza arderam 35 mil hectares e contam-se quatro vítimas mortais. 

De acordo com o jornal espanhol, o número de pessoas que esteve envolvida no combate aos incêndios desse dia foi praticamente a mesma: 5 mil em Portugal e outros tantos na Galiza. A diferença, diz o El País, esteve na perícia: enquanto em Portugal a maioria dos bombeiros são voluntários, no caso galego são profissionais e militares.

"Portugal combate os incêndios com bombeiros voluntários, Espanha com profissionalismo e conhecimentos", disse ao El País o professor e engenheiro florestal Paulo Fernandes, acrescentando que "nos anos 90, Espanha e a Galiza alteraram o plano de combate aos incêndios, que ficou mais eficiente, mais baseado em conhecimento, mais profissional". 

Os galegos foram pioneiros na utilização de aviões anfíbios, nas técnicas de fogos controlados, nos centros de coordenação e na instalação de câmaras automáticas de vigilância. "O plano galego é impressionante, com a análise das incidências e causas por semana, dias e horas", refere Inés González, professora da Universidade Politécnica de Madrid. 

As diferenças entre Portugal e Espanha também estão no dinheiro e onde este é empregue. O país vizinho destina cerca de 2 mil milhões de euros por ano no combate aos incêndios, uma das somas mais elevadas em todo o mundo. Em Portugal são cerca de 100 milhões.

 

Segundo Paulo Fernandes, desta verba que Portugal gasta, apenas 5% é dedicada à prevenção contra incêndios, sendo 15% na vigilância e todo o resto na extinção dos fogos. Na Galiza dois terços do orçamento é gasto na prevenção e apenas um terço no combate.
 

O comando único no combate e prevenção de incêndios é outra das grandes diferenças entre Portugal e a Galiza, com a região espanhola a ter, desde 1990, uma única unidade que agrega todas as responsabilidades. Em Portugal "a GNR tem a cargo a vigilância, o Ministério da Agricultura a prevenção e o Ministério da Administração Interna a extinção" dos incêndios, refere Paulo Fernandes. Nos incêndios na Galiza de 15 de Outubro, os militares estavam no terreno em poucas horas. Nos incêndios de Pedrógão Grande de Junho, foram necessários três dias para mobilizarem os militares.

Várias das deficiências da estratégia de Portugal no combate aos fogos foram já identificadas pelo Governo, que num Conselho de Ministros Extraordinário realizado este sábado delineou várias medidas de alteração, que prometem uma revolução na forma como Portugal combate os fogos. Para que o ano de 2017 em Portugal tenha ainda mais semelhanças com o 1989 da Galiza.

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