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Draghi "improvisou" quando prometeu fazer o que fosse preciso para salvar o euro. "Ridículo", diz Geithner

O antigo ministro das Finanças dos EUA diz que Draghi decidiu jogar forte e sem consultar o BCE depois de ter saído alarmado de um encontro com gestores de fundos em Londres. Diz ainda que gosta de Schäuble e que não alinhou participar em 2011 no rolo compressor sobre Atenas e Roma, embora compreendesse as razões dos seus parceiros europeus.

Andrew Harrer/Bloomberg
11 de Novembro de 2014 às 20:30
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"O BCE está pronto para fazer tudo o que for necessário para preservar o euro. E, acreditem em mim, (o que fizermos) será suficiente". A promessa firme de Mário Draghi, proferida no Verão de 2012 em tom de quase ameaça aos especuladores, ficou associada ao fim da espiral de desconfiança que durante dois anos foi tornando menos hipotético o cenário de desmembramento do euro. A acreditar em Timothy Geithner, antigo ministro das Finanças dos Estados Unidos, o presidente do Banco Central Europeu não preparou nem concertou essa sua intervenção pública com os demais membros do BCE: "improvisou em cima da hora", algo que alguns governadores o acusarão de ainda fazer.

 

A revelação vinha já no livro que Geithner publicou em Maio último, "Stress Tests: Reflexões sobre crises financeiras". Mas o Financial Times teve agora acesso a mais de 100 páginas de transcrições em bruto das entrevistas do antigo responsável norte-americano que estiveram na base do livro e dá a conhecer nesta terça-feira, 11 de Novembro, parte delas no seu blogue sobre Europa.

 

E essas transcrições revelam um pouco mais: que foi o próprio Draghi quem lhe terá confessado que decidiu inserir essas palavras, que se revelaram um autêntico golpe de mestre, no seu famoso discurso de Londres num momento de quase pânico, após um encontro com investidores na City que lhe disseram estar convencidos de que a Zona Euro estava à beira da implosão. "Eu lembro-me dele dizer-me que estava alarmado com isso, e que em cima do joelho decidiu acrescentar ao seu discurso uma data afirmações do género ‘vamos fazer o que for preciso’. Ridículo…"

 

Nessas transcrições, Geithner faz ainda um relato muito solto –  com muita "f-word" à mistura – sobre o longo e conturbado ano de 2011, quando se tornou claro que os dados fornecidos pela Grécia estavam longe da realidade, que o país precisaria de um segundo resgate e que Sílvio Berlusconi, à frente da terceira maior economia do euro e das mais endividadas, fazia e rasgava promessas de disciplinar as finanças públicas ao sabor do humor dos mercados financeiros.

 

O então secretário de Estado norte-americano do Tesouro garante que não alinhou participar na pressão sobre Atenas e Roma, embora conceda que compreendia as razões de Nicolas Sarkozy e de Angela Merkel. "Se querem mesmo pôr o pé no pescoço desses tipos [gregos], ponham. Mas têm de se assegurar que, em compensação, enviam um sinal de confiança à Europa e ao mundo de que vão pôr as coisas em ordem e proteger o resto" dos países.

 

Quanto a Roma: "não podemos ter sangue nas nossas mãos", disse ao presidente Barack Obama a propósito do pedido que terá recebido de Paris e de Berlim para que pressionasse Berlusconi a demitir-se. "Eles queriam que não concordássemos com empréstimos do FMI caso Itália precisasse se Berlusconi fosse primeiro-ministro. Foi ‘cool’, interessante. Eu disse que não… Mas eu na verdade sentia que o que Sarkozy e Merkel estavam a fazer era basicamente certo: isto não ia funcionar; a Alemanha, o eleitorado alemão, não ia aprovar a criação de uma barreira financeira maior [para proteger os demais países do euro do contágio] com Berlusconi à frente daquele país".

 

Diz ainda que gosta genuinamente de Wolfgang Schäuble, ministro alemão das Finanças. "É realmente uma pessoa impressionante, gosto mesmo dele, mesmo quando discordamos muito na substância e na resposta [de política]. Ele é um europeísta, mais velho do que Merkel, e acho que mais poderoso no seu partido, a CDU, do que Merkel".

 

Sobre a chanceler, Geithner deixa transparecer um certo lamento por nunca ter sido convidado para um encontro na chanceleria, embora esteja convencido de que "ela me respeitava, e nas reuniões falava e intervinha comigo". Já Sarkozy convidou-o e recebeu-o em Paris, "e, você sabe, normalmente nesses países todos quereriam receber-me", contrapõe.

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