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Dono da Sanjo recorda declínio do sector do calçado com revolução do 25 de Abril

A indústria do calçado não aproveitou o fim da ditadura e a abertura de Portugal ao mundo para se lançar mais cedo nas exportações. Esta é a opinião do líder da Sanjo, marca portuguesa de ténis que passou pelo declínio e nos últimos anos renasceu.

Paulo Duarte/Negócios
25 de Abril de 2014 às 13:00
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O sector do calçado não aproveitou o fim da ditadura e a abertura de Portugal ao mundo para se lançar mais cedo nas exportações, considera o dono da Sanjo, líder na venda de ténis até à década de 1970.

 

A indústria do calçado acabou por modernizar-se apenas nos últimos 15 a 20 anos e hoje disputa os preços mundiais do calçado, exportando por ano 71 milhões de pares de sapatos.

 

Após o 25 de Abril de 1974, "houve a oportunidade de desenvolver as marcas portuguesas e equipará-las às marcas internacionais, mas não foi o caso da Sanjo", que reflectiu o que se passou em todo o sector do calçado, disse Paulo Fernandes, gerente da empresa que desde 2009 detém a marca e está a relançá-la no mercado com a retoma da produção nacional dos tradicionais ténis que a geração hoje com 40 anos usou na infância.

 

Para o empresário, o declínio do sector de calçado no pós-25 de Abril deveu-se também ao facto de "naquele período se considerar que tudo o que era estrangeiro era bom", tal era a ânsia que os portugueses tinham de se libertar das amarras da ditadura e da falta de liberdade.

 

Criada em 1933, ano em que António Salazar chega a presidente do Conselho de Ministros, a marca mais conhecida de ténis em Portugal até ao 25 de Abril de 1974 acabou por ter um período de ascensão e queda coincidente com o regime político do Estado Novo, proteccionista, conservador e nacionalista, refere o designer português Pedro Carvalho de Almeida na sua tese de doutoramento alusiva à marca e apresentada em 2012 na Universidade de Artes de Londres.

 

Durante a ditadura, a Empresa Industrial de Chapelaria, detentora da marca e da respectiva fábrica, não só incorporava os símbolos da iconografia nacionalista, como beneficiava da economia fechada, virada para o autoconsumo e para uma produção manual distante do desenvolvimento tecnológico fora de Portugal e com barreiras comerciais à importação como instrumento de controlo pelo regime do crescimento industrial.

 

Com o estalar da Revolução dos Cravos, Portugal passou para o mercado global da livre circulação de produtos e marcas internacionais começaram a chegar ao país.

 

"Começaram a entrar marcas estrangeiras em Portugal e a Sanjo não acompanhou a moda. Basicamente usava duas cores (o branco e o preto e branco) e começaram a aparecer outras marcas internacionais com muitas variedades de cor e muita oferta e a Sanjo não acompanhou a tendência, porque continuou a produzir o mesmo e acabou por fechar as portas", disse Paulo Fernandes.

 

Apesar de as restrições às importações terem sido levantadas pelo Governo em 1984, a mão-de-obra emergente nos países asiáticos foi mais uma das ameaças à indústria nacional de calçado desportivo.

 

Os concorrentes asiáticos diversificavam a produção, utilizando design e materiais diferentes e fabricando ténis para as diferentes modalidades, e vendiam o calçado a baixos custos, enquanto a Sanjo passava por dificuldades em manter a qualidade e se tornava incapaz de reagir ao mercado.

 

A Sanjo anunciou no início de abril que retomou a produção a 100% em Portugal, 30 anos depois de a histórica fábrica de São João da Madeira ter praticamente deixado de produzir as sapatilhas.

 

A empresa tem na Venda do Pinheiro, no concelho de Mafra, uma pequena unidade de produção que permitiu criar 14 postos de trabalho directos e mais de 60 indirectos.

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