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Costa e Marcelo estiveram alinhados no convite a Centeno
O primeiro-ministro e o Presidente da República estiveram alinhados nos vários contactos feitos junto do governador do Banco de Portugal. Centeno admitiu avaliar, mas Marcelo acabou por optar pela dissolução da AR.
As conversas que existiram para sondar Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, para a possibilidade de suceder a António Costa como primeiro-ministro, num cenário de continuidade da atual maioria, foram sempre articuladas entre o primeiro-ministro e o Presidente da República.
Segundo informação recolhida pelo Negócios, o primeiro-ministro nada fez à revelia do Chefe de Estado e "as conversas que existiram foram sempre do conhecimento de todos os envolvidos", relata fonte conhecedora.
Na quinta-feira à noite, à entrada para a comissão política do Partido Socialista, Costa explicou que apresentou o nome de Centeno a Marcelo por entender que "o país não merecia ser chamado novamente a eleições". Costa revelou então que a ideia de convocação de eleições partiu do próprio Presidente, já que o secretário-geral do PS tinha sugerido o nome de Mário Centeno como novo chefe de Governo.
"A solução indicada pelo PS foi apresentar uma personalidade de forte experiência governativa, respeitado e admirado pelos portugueses, com forte prestígio internacional, que foi o professor Mário Centeno, mas o Presidente da República entendeu que, melhor do que ter uma solução estável e um governo forte e renovado, seria optar por eleições antecipadas", afirmou o primeiro-ministro.
Certo é que, tal como o Negócios avançou, a solução Centeno para a sucessão a Costa não agradou ao Presidente da República, mesmo que numa primeira fase tenha debatido o nome do governador com António Costa. Foram muitas as dúvidas geradas na cabeça do Chefe de Estado, sabe o Negócios, sobre se tal opção política teria legitimidade política, sobretudo depois de Marcelo ter enfatizado, no momento da posse do atual Executivo, que quando Costa saísse devolveria a palavra ao povo.
Tal como o Negócios noticiou, o Presidente da República considerou que a ideia não tinha pés para andar, a começar pelo facto de Mário Centeno nem sequer ser militante do PS, tendo sido suscitadas dúvidas sobre se não acabaria por acontecer o mesmo que se passou com Santana Lopes quando sucedeu a Durão Barroso, em 2004.
Partidos questionam posição de Centeno
Vários partidos políticos têm vindo a questionar o facto de o governador do Banco de Portugal ter sido o nome escolhido para uma eventual solução de sucessão a Costa no governo, sem dissolução.
O PSD foi o primeiro a apontar críticas, pela voz do líder da bancada parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento. À saída da conferência de líderes, na Assembleia da República, o deputado social-democrata enfatizou que "o Banco de Portugal deve ser independente e imparcial".
"Lamentamos profundamente que, se a indicação foi feita e teve a anuência do próprio governador, mostra bem como o governador é um agente político e não tem independência do poder político", frisou Miranda Sarmento.
Rodrigo Saraiva, da Iniciativa Liberal, também criticou a proposta socialista, anunciada na quinta-feira pelo próprio primeiro-ministro, dizendo que a saída de Centeno do Banco de Portugal para um governo seria "uma espécie de plataforma giratória inaceitável". Expressão também usada pela líder do PAN, Inês Sousa Real, que contestou a apresentação de uma solução que consubstanciaria "portas giratórias".