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Centeno pede “temperança” no mercado de trabalho
Segundo governador do Banco de Portugal, o emprego tem sido “o dique” que sustém a economia, e vai continuar a registar subidas curtas. Mas não se pode querer fazer transições “demasiado depressa” no mercado de trabalho.
O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, pede "temperança" no mercado de trabalho, com alertas, em particular, para evoluções nas leis laborais e no quadro das discussões dos parceiros da Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS).
"Se não mostramos temperança neste momento, vamos soçobrar", afirmou nesta quarta-feira, durante a apresentação do último boletim económico do BdP, cujas projeções apontam para a manutenção da resistência do emprego num quadro que será de maior abrandamento económico do que aquele que a instituição antecipava em junho.
Neste ano, o emprego deve subir em 0,8%, tendo crescimentos previstos de 0,2% e 0,4% nos dois anos seguintes.
O emprego, alertou Centeno durante a apresentação, tem sido o "dique" a suportar as economias, mas o governador alertou também para dinâmicas que é preciso "respeitar", aludindo a equilíbrios necessários na transição para um mercado de trabalho com maiores qualificações e maiores remunerações.
Este processo, disse, está a desenvolver-se, mas com 40 a 50 anos de atraso em relação a outros países. Ainda assim, segundo Mário Centeno, avançar exige cautelas."Se quisermos chegar demasiado tarde e demasiado depressa podemos não conseguir", disse.
Sobre o destino dos avisos, Centeno apontou em particular para o quadro institucional do mercado de trabalho, dando com exemplos as leis laborais e também o diálogo da Concertação Social, que neste momento está a discutir uma atualização do acordo de rendimentos selado no final de 2022 entre confederações patronais, UGT e Governo. Nestas discussões, o primeiro-ministro, António Costa, indicou nesta semana a possibilidade de serem revistos em alta os valores de salário mínimo e de referencial de aumentos para contratação coletiva (4,8% até aqui).
A subida será adequada "se esses valores forem compatíveis" com o emprego e também com a remuneração adequada das qualificações num mercado de trabalho que, descreveu o governador, se tornou mais exigente na criação de cada novo posto de trabalho. Mário Centeno não considerou que as melhorias em discussão fujam à "temperança" aconselhada, mas defendeu gradualismo.
Também para o governador do Banco de Portugal, se houver margem para o pagamento de um 15º mês, proposto pela Confederação Empresarial de Portugal, "só podemos estar satisfeito". "Quando falamos de salários, devemos sempre considerar que a remuneração reflete o contributo de cada um de nós para o aumento da riqueza do país, e é isso que as empresas devem refletir. Se é distribuída em 14, 15 meses ou mais, é indiferente", disse também.
"O que se exige às empresas, não é tanto o pagamento do 15º mês, mas que nos organizemos para permitir que esse capital humano seja utilizado aqui e com a remuneração que lhe é devida", afirmou.