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Centeno avisa que desemprego pode subir rapidamente na Zona Euro
Numa nova nota de análise – desta feita, ao mercado de trabalho da Zona Euro – o governador do Banco de Portugal volta a defender moderação nos salários e adverte contra restritividade excessiva nos juros e nos orçamentos.
O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, lança nesta segunda-feira um alerta para a possibilidade de uma subida rápida nos números do desemprego face ao prolongar da desaceleração económica e, mais uma vez, defende moderação nas subidas salariais.
Numa nova nota que repete a iniciativa de publicações de análise pelo governador inaugurada em setembro – a primeira destas notas focou-se no estado da economia nacional –, Mário Centeno apresenta um "elogio" ao mercado de trabalho do espaço do euro, que ao longo de mais de um ano de choque inflacionista tem resistido com máximos de emprego.
Porém, a continuada desaceleração económica – com alguns países do euro, inclusivamente, em recessão – poderá reverter subitamente esta dinâmica, defende. "O mercado de trabalho não se ajusta gradualmente durante recessões ou desacelerações económicas prolongadas. Quando as empresas iniciam reduções de emprego, tal ocorre de forma síncrona, conduzindo ao disparar no desemprego. A destruição de postos de trabalho e a suspensão de novas contratações são mais sincronizadas nas recessões do que em períodos de crescimento", escreve o governador do BdP.
No início de outubro, aquando da apresentação do último boletim económico da instituição, Centeno tinha já defendido que o mercado de trabalho tem vindo a suportar as economias, atuando como "dique" para os rendimentos e procura interna. O governador convidava também à "temperança", em particular nas atualizações salariais, numa mensagem que é retomada agora também.
Na análise publicada em inglês apenas pelo BdP, Mário Centeno diz que "a cautela deve guiar as subidas salariais, que devem ser conduzidas pelos ganhos de produtividade, tal como observado nos últimos 35 anos".
Em particular, a mensagem do governador sugere que seja dada maior atenção aos mais baixos rendimentos. "O sucesso de uma economia não se mede apenas pelo seu desempenho geral, mas também pelo sucesso daqueles que estão no limite da exclusão ou inclusão. Atuar na margem é essencial", diz.
Por outro lado, também, a análise adverte contra mais subidas nas taxas de juro e contra políticas orçamentais excessivamente contracionistas. "As políticas monetária e orçamental devem estar cientes dos desafios do mercado de trabalho, reconhecendo que a procura por mão de obra é uma ‘procura derivada’ da atividade económica. Preservar os investimentos e aspirações dos trabalhadores é incompatível com maior restritividade do que a necessária", defende.
As subidas dos juros pelo Banco Central Europeu encontram-se atualmente em pausa, mas com a inflação na moeda única a aproximar-se rapidamente da meta dos 2%. Já no que toca a política orçamental, os governos do euro prepararam, na sua maioria, para 2024 orçamentos de impulso restritivo. Portugal está entre as exceções, com uma política orçamental classificada como expansionista pela Comissão Europeia.