Notícia
Centeno não vai a votos mas mantém a porta aberta para o FMI
Ministro das Finanças português anunciou a decisão no Twitter. Mas a auto-exclusão da votação não significa que Mário Centeno esteja definitivamente fora da corrida ao FMI.
Mário Centeno está oficialmente fora da votação que decorre esta sexta-feira para escolher o candidato europeu à liderança do Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi o próprio a fazer o anúncio esta noite na sua conta no Twitter.
"Devemos procurar consensos. Quero contribuir para isso, pelo que decidi não participar nesta fase do processo - a votação de amanhã", escreveu o ministro das Finanças na rede social.
Contudo, apesar de não participar na votação, Centeno mantém a porta aberta a ser o escolhido para liderar a instituição com sede em Washington, caso amanhã não seja encontrado um candidato com o apoio de uma maioria qualificada dos ministros das Finanças da União Europeia.
Tendo em conta a dificuldade verificada em encontrar um nome consensual, Centeno decidiu retirar-se da votação desta sexta feira para evitar contribuir para acentuar a divisão já evidente entre os ministros das Finanças.
No entanto, revelou ao Negócios fonte próxima do Governo, o português disponibilizou-se para, no caso de nenhum nome garantir a maioria qualificada necessária, poder ser considerado para a candidatura ao Fundo. Daí ter escrito na rede social: "continuo disponível para trabalhar numa solução aceitável para todos".
Para escolher um candidato para dirigir FMI como noutras decisões na UE devemos procurar consensos. Quero contribuir para isso, pelo que decidi não participar nesta fase do processo - a votação de amanhã. Continuo disponível para trabalhar numa solução aceitável para todos.
— Mário Centeno (@mariofcenteno) August 1, 2019
Ou seja, Centeno resguarda-se para poder surgir como "outsider" se se confirmar a expectativa de que ninguém assegure os votos necessários dos 28 ministros das Finanças da UE. O Negócios sabe que é convicção do Governo português que nenhum nome consiga, na votação desta sexta-feira, obter um apoio próximo de consensual.
Recorde-se que para superar o impasse para a escolha do próximo presidente da Comissão Europeia, também a chanceler alemã Angela Merkel "tirou um coelho da cartola" inesperado (Ursula von der Leyen) que acabou por ser eleita como futura líder do órgão executivo da UE.
Quatro candidatos a votos
O também presidente do Eurogrupo está assim fora da votação que vai decorrer na manhã de sexta-feira para escolher o candidato único europeu ao cargo de diretor-geral do FMI. A escolha é habitualmente efetuada através de negociações informais, mas a falta de consenso entre os 28 ministros das Finanças da União Europeia levou a que a França (que lidera o processo) optasse por agendar uma votação.
São agora quatro os candidatos que vão a votos: Nadia Calviño, ministra das Finanças de Espanha; Jeroen Dijsselbloem, ex-ministro das Finanças da Holanda e antecessor de Centeno no Eurogrupo; Olli Rehn, governador do banco central da Finlândia, e Kristalina Georgieva, diretora-executiva do Banco Mundial tida como aposta do presidente francês, Emmanuel Macron, para a liderança da instituição sediada em Washington.
O Negócios sabe que a votação vai decorrer esta sexta-feira, 2 de agosto, a partir das 7:00, envolvendo os 28 ministros das Finanças do bloco europeu. Para haver um candidato eleito, este tem de assegurar uma maioria qualificada na votação, o que significa que terá de receber apoio de, no mínimo, 55% dos países que sejam representativos de pelo menos 65 da população europeia.
Falta de consenso
Esta quinta-feira, Le Maire conversou ao telefone com alguns dos seus homólogos, que de acordo com aquilo que o Negócios apurou são sobretudo de países da Zona Euro, para aferir da margem existente para a UE encontrar um nome capaz de gerar consenso. Porém, como confirmou fonte oficial do ministério gaulês das Finanças em declarações reproduzidas pela estação France 24, "nesta altura, apesar de alguns candidatos terem reunido mais apoios do que outros, não existe consenso em torno de um único nome".
Se a UE não alcançar consenso em torno de um único candidato, países como a Índia (ou outras economias emergentes) ficarão em melhor posição para apresentar uma candidatura própria e, assim, tentar colocar em causa o acordo tácito saído de Bretton Woods segundo o qual a liderança do FMI é para um europeu e a chefia do Banco Mundial para um americano.
Nos 75 anos do FMI, a instituição foi sempre liderada por europeus, com primazia para a França que conta com cinco dos 11 diretores-gerais do Fundo.
O período para a apresentação formal de candidaturas decorre entre 29 de julho e 6 de setembro. Na semana passada, o FMI revelou que pretende ter o processo concluído até 4 de outubro.
(notícia atualizada 20:40 com declarações de fonte próxima do governo e mais contexto)