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Ana Martinho: “O alargamento da UE é uma necessidade, não uma fatalidade”

Esta é uma viagem aos temas que vão marcar a diplomacia internacional em 2024, à boleia do pensamento de Ana Martinho. A embaixadora explica o porquê do alargamento da UE ser imperativo, perspetiva as eleições presidenciais dos EUA, mas avisa que antes se vai realizar um ato eleitoral igualmente relevante, em Taiwan.
Celso Filipe e Bruno Colaço - Fotografia 26 de Dezembro de 2023 às 09:10

Bilhete de identidade
Formação: Licenciada em Direito.
Cargo: Embaixadora. Entrou no Ministério dos Negócios Estrangeiros em 1975 e o seu primeiro posto como embaixadora foi na República Checa.
Atividade: Investigadora Associada no Instituto de Estudos Políticos na Universidade Católica.


Na sessão fotográfica, Ana Martinho mostra com indisfarçável orgulho uma pulseira em borracha sintética, que usa na mão esquerda, concebida pelo designer suíço Otto Künzli. A pulseira, que entra na categoria de obra de arte de joalharia, intitula-se "Gold Makes you Blind" e no seu interior esconde uma esfera de ouro. Segundo os especialistas, a peça questiona a natureza arbitrária do ouro como fonte de valor e, em seu lugar, propõe critérios estéticos como a originalidade criativa. Para a embaixadora, o maior valor da pulseira reside no facto de ter sido oferecida pelo marido. "A família foi sempre a âncora da minha vida."

 

Nascida em 1948, Ana Martinho foi uma das primeiras mulheres a derrubar o preconceito da diplomacia como uma atividade só para homens, tendo entrado no Ministério dos Negócios Estrangeiros em 1975, na sequência de um concurso então realizado. Teve uma vida diplomática preenchida, tendo sido conselheira do primeiro-ministro Cavaco Silva, em 1986; conselheira principal do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, em 2005, e de Marcelo Rebelo de Sousa entre 2017 e 2021. Nesta entrevista perspetiva 2024, os nós górdios da diplomacia mundial.

 

As atuais estratégias políticas obrigam a uma mudança do "modus operandi" diplomático?

A diplomacia é por natureza uma forma dinâmica de intervenção, adaptando-se às circunstâncias em que tem de operar e às questões que tem de ajudar a resolver.

 

A diplomacia, digamos, é uma espécie de poder silencioso. Qual a sua importância nestes tempos turbulentos?

A ideia de um poder silencioso implica uma outra, a de que ‘não se pode dizer as coisas na cara’. E isto, por sua vez, implica que não se pode ser assertivo. Pode e deve, mas em tempos turbulentos, o modo como se ouve, se fala e se tenta atuar, é tanto mais eficaz quanto ele seja muito modulado, mais flexível, adaptado ao momento e incansável perante as dificuldades. É uma forma de atuação que exige um treino muito específico, que exige uma abertura à experiência, um conhecimento das situações que é adaptativo. Isto implica um poder discreto, que tem de manter a estabilidade emocional para melhorar a sua capacidade analítica, para manter a sua credibilidade, para conceber as estratégias mais eficazes.

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