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Confinamento até à Páscoa, abertura a “conta-gotas” e os critérios para um novo recuo
O primeiro-ministro revelou que apesar das condições para se iniciar uma reabertura cautelosa, o dever geral de confinamento vai permanecer em vigor até à Páscoa, ficando ainda proibida a circulação entre concelhos entre os dias 26 de março e 5 de abril.
O plano de desconfinamento anunciado ao início da noite desta quinta-feira por António Costa assenta em quatro fases de levantamento progressivo de restrições que, em função da evolução da pandemia, poderão conhecer recuos. E para evitar surpresas, ficou já estabelecido que não haverá lugar a qualquer aceleração no levantamento de restrições, também para prevenir que avanços demasiado céleres pudessem colocar em causa a situação favorável da situação pandémica conseguida após os últimos dois meses de confinamento generalizado.
"O plano de abertura tem de ser de abertura prudente, cautelosa, gradual e a conta-gotas", resumiu o primeiro-ministro. Para já, o país vai permanecer sob dever geral de confinamento até ao dia seguinte à Páscoa (5 de abril), o que significa que o estado de emergência, hoje renovado até 31 de março, terá de ser prolongado. A proibição de circulação entre concelhos vai também manter-se nos próximos fins de semana e depois, para travar deslocações e circulação por motivos de reunião familiar, entre 26 de março e 5 de abril. Nesse sentido, também a fronteira terrestre com Espanha permanecerá encerrada até à Páscoa.
Quanto à duração do dever geral de confinamento, Costa esclareceu que este manter-se-á até à Páscoa e, "nessa altura", será feita uma reavaliação "sobre se se justifica ou não". Certo é que "só há dever geral de confinamento se houver estado de emergência", precisou o primeiro-ministro, recordando que sem o chapéu deste regime de exceção é apenas possível impor o "dever cívico de recolhimento".
Reabertura em quatro fases
A "reabertura da sociedade" tem início a 15 de março, desde logo com a abertura de creches, jardins de infância e as escolas do 1.º ciclo do ensino básico. O Governo cumpre assim a garantia dada de que o desconfinamento teria início com a reabertura das escolas, indo mesmo além das sugestões dos especialistas que, nesta primeira fase, afastavam a retoma do ensino primário. Passa também a ser permitido o comércio ao postigo, e é dada luz verde à reabertura de estabelecimentos de cuidados de beleza e livrarias.
A possibilidade de aplicação de um novo plano de abertura após 5 de maio fica dependente da avaliação da situação que se registar nessa altura, percebendo-se então se há "condições para dar mais passos em frente ou se a prudência manda ficarmos no ponto" que se verificar.
Note-se que a fim de acautelar potenciais focos de contágio e um consequente descontrole da pandemia, o teletrabalho vai manter-se sempre que for possível e os horários de supermercados continuarão restringidos.
O @govpt apresentou hoje o Plano de #Desconfinamento para #Portugal. É um plano que assenta em critérios científicos e que precisa do contributo de todos. Juntos, vamos vencer a #COVID19.#EstamosOn
— República Portuguesa (@govpt) March 11, 2021
Os critérios que regulam o desconfinamento
O líder do Governo fez questão de explicar o porquê de uma reabertura tão "cautelosa", que insistiu ter de ser a "conta-gotas" para afastar "riscos excessivos". Porque apesar da melhoria da situação pandémica, esta continua pior do que aquando do desconfinamento de maio do ano passado e do que quando foi decretado o estado de contingência, a 11 de setembro último. E são dois os critérios chave: o número de novos casos de covid-19 por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias e o índice de transmissibilidade (Rt).
Se estiverem respetivamente abaixo de 120 e de 1, o calendário agora estipulado fica inalterado. Se um daqueles indicadores superar aqueles valores, então é interrompido o levantamento de restrições. Já no caso de haver mais de 120 novos casos e um Rt acima de 1 em simultâneo, será preciso fazer marcha-atrás no desconfinamento.
Costa insiste na tecla da responsabilidade
Aqui chegados, António Costa recuperou a mensagem relativa à responsabilidade individual no combate à pandemia. "O que vai acontecer a partir de agora depende de todos nós, da forma como mantivermos a disciplina individual", disse em alusão ao uso da máscara e às regras de higiene e distanciamento social.
"A vacinação, o rastreamento e a testagem são instrumentos complementares, o essencial, como sempre, é o comportamento individual de cada um de nós", insistiu.
Apesar da longa explicação feita pelo primeiro-ministro, foi já o comunicado do Conselho de Ministros a dar conta da aprovação de apoios para ajudar famílias e empresas a suportarem não só as consequências do confinamento, mas também das restrições que, tal como confirmou o primeiro-ministro, estão para durar.
Entre as medidas agora aprovadas pelo Governo consta o alargamento dos apoios de tesouraria às empresas, seja por quebra de faturação, seja para pagamento de rendas de empresários sem contabilidade organizada. Foram ainda aprovados novos apoios para o setor do desporto e alargados os existentes para a cultura.
Houve ainda tempo para o também secretário-geral socialista garantir que o facto de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, desta feita, e ao contrário das anteriores renovações do estado de emergência, não dirigir uma comunicação aos portugueses se deve simplesmente a motivos de agenda. As notícias que dão conta de divergências entre Belém e São Bento quanto à escala do desconfinamento, acrescentando ser esse o motivo para Marcelo deixar a explicação destas medidas apenas para o priumeiro-ministro, são "pura especulação", assegurou Costa.
O líder socialista asseverou que permanece intacta a solidariedade institucional entre Governo e a presidência da República, como também face ao Parlamento. Assegurou mesmo que continua a haver solidariedade estratégica na gestão da pandemia entre o Executivo e Belém.
Na conferência de imprensa António Costa anunciou que a reabertura será a conta-gotas e anunciou as medidas abaixo:
Regras Gerais
- - Teletrabalho, sempre que possível;
- - Horários de funcionamento: 21h durante a semana; 13h ao fim-de-semana e feriados ou 19h para retalho alimentar;
- - Proibição de circulação entre concelhos em 20-21/03 e de 26/03 a 5/04 (Páscoa);
15 de março
- - Creches, pré-escolar e 1.º ciclo (e ATL para as mesmas idades);
- - Comércio ao postigo;
- - Cabeleireiros, manicures e similares;
- - Livrarias, comércio automóvel e mediação imobiliária;
- - Bibliotecas e arquivos
5 de abril
- - 2.º e 3.º ciclos (e ATL para as mesmas idades);
- - Equipamentos sociais na área da deficiência;
- - Museus, monumentos, palácios, galerias de arte e similares;
- - Lojas até 200 m2 com porta para a rua;
- - Feiras e mercados não alimentares (por decisão municipal);
- - Esplanadas (máximo de 4 pessoas);
- - Modalidades desportivas de baixo risco;
- - Atividade física ao ar livre até 4 pessoas e ginásios sem aulas de grupo.
19 de abril
- - Ensino secundário;
- - Ensino superior;
- - Cinemas, teatros, auditórios, salas de espetáculos;
- - Lojas de cidadão com atendimento presencial por marcação;
- - Todas as lojas e centros comerciais;
- - Restaurantes, cafés e pastelarias (máx. 4 pessoas ou 6 em esplanadas) até às 22h ou 13h ao fim de semana e feriados;
- - Modalidades desportivas de médio risco;
- - Atividade física ao ar livre até 6 pessoas e ginásios sem aulas de grupo;
- - Eventos exteriores com diminuição de lotação;
- - Casamentos e batizados com 25% de lotação.
3 de maio
- - Restaurantes, cafés e pastelarias (máx. 6 pessoas ou 10 em esplanadas) sem limite de horário;
- - Todas as modalidades desportivas;
- - Atividade física ao ar livre e ginásios;
- - Grandes eventos exteriores e eventos interiores com diminuição de lotação;
- - Casamentos e batizados com 50% de lotação.