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Destinos exóticos das exportações: Vinho para o Nepal e iogurtes para as Seychelles

Empurradas pela crise interna e no resto da Europa, as empresas portuguesas têm procurado nos últimos anos mercados menos comuns, onde o potencial de crescimento seja maior. Países terceiros já valem quase um terço das exportações.

Pedro Elias
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Os iogurtes da Tom Milk demoram 75 dias a chegar às ilhas Seychelles. A empresa da Maia ganhou há quatro anos um concurso público de fornecimento da sobremesa para escolas do arquipélago do Índico, que acabou por ser a porta de entrada no País, para onde já exporta 100 mil euros por ano. "Tudo é bom; logo que se venda o mercado é bom", conta o dono da empresa, Adélio António Pereira.


Se fica surpreendido por saber que Portugal vende iogurtes para as Seychelles, saiba que esse nem sequer é o principal produto vendido a esse País por empresas nacionais. Essa distinção cabe ao óleo de girassol. Em 2014, Portugal exportou 1,15 milhões de euros para as Seychelles, um terço dos quais foram óleos (370 mil euros). 


Muitas vezes quando se fala de exportações portuguesas pensa-se em grandes mercados de destino, como Espanha, Alemanha, França ou, fora da União Europeia, Angola. Quando um desses países "mexe", as empresas sentem o abano. Seja ele positivo ou negativo. No entanto, uma fatia importante das saídas de bens tem como destino países pequenos e, de certa forma, surpreendentes.
Sabia, por exemplo, que a principal exportação portuguesa para o Nepal é vinho? 43 mil euros em 2014. Para o Burundi nenhum produto vende melhor do que cabos eléctricos. Para a Coreia do Norte destacam-se os produtos feitos de cobre e para o Burkina Faso as garrafas e garrafões de vidro.


A Viriato, empresa de Paredes, não vende garrafas para o Burkina Faso, mas é responsável por mobilar e decorar dois hotéis na capital, Ouagadougou. O risco é obviamente maior, do que começar a vender para Barcelona. "Todo o montar da estrutura financeira do negócio é um dos aspectos mais complexos, porque tem de estar tudo definido, garantido e assegurado antes de fisicamente mover materiais. Aí usamos os instrumentos internacionais de crédito e de garantia para estas questões serem acauteladas e não corrermos um risco muito grande, explica o CEO Paulo Nogueira.


Miguel Frasquilho, presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) admite que "há mercados mais arriscados que outros", mas é também aí que "os ganhos são maiores". "Falamos de países com crescimento [económico] elevado", acrescenta. Ainda assim, são necessárias cautelas. Por exemplo, a AICEP vai abrir delegações em 12 novos mercados, mas só o faz na Guiné Equatorial depois de Portugal ter representação diplomática no País.


Enfrentar maior risco em busca de rendibilidades mais atractivas é o resultado de três anos de recessão em Portugal e de uma economia europeia em convalescência. A tendência é mais abrangente do que alguns casos caricaturais. Em 2004, a venda de bens para países terceiros representava menos de 20% do total das exportações. Dez anos depois, ascende a 29%, crescendo a um ritmo três vezes superior às exportações para o espaço comunitário.


"Há uma diversificação", nota Frasquilho. "Os empresários viraram-se para fora perante o ajustamento da economia portuguesa e a crise na Europa." Se foi isso que os levou, impõe-se a pergunta: com a recuperação da economia nacional e europeia, podemos assistir a um recuo? "Mesmo que desça alguns pontos, não me parece preocupante. As oportunidades continuarão a ser maiores lá fora", sublinha Frasquilho. "Pergunto aos empresários se pensam deixar de exportar e a resposta é ‘nem pensar!’ É imparável."

 

Pergunto aos empresários se pensam em deixar de exportar e resposta é ‘nem pensar!’. 
Miguel Frasquilho
Presidente da AICEP

 

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