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O comboio vermelho de Lenine

1917 foi um ano tempestuoso na Rússia. O czar caiu e o poder estava nas ruas. Lenine, na Suíça, apanhou um comboio rumo a Petrogrado. Para tomar conta da revolução.

04 de Fevereiro de 2017 às 12:15
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Catherine Merridale
Lenine no Comboio
Temas & Debates,
344 páginas, 2017


Nestes dias em que vão passar 100 anos da revolução russa, podem publicar-se muitos livros, mas poucos poderão ser tão empolgantes como este "Lenine no Comboio", de Catherine Merridale. Não é difícil perceber porquê: para além de brilhantemente escrito, ao estilo britânico, a autora dá-nos a visão não só de uma das mais importantes viagens de comboio da História (a da ida de Lenine para a Rússia no Verão de 1917, a partir de Zurique) mas também nos integra dos conturbados dias vividos num país que estava simultaneamente em guerra e em revolução.

É um documento magnífico. Como escreve a autora: "Os diplomatas britânicos na Rússia cometeram o mesmo erro no tempo de Lenine, quando partiram do princípio de que todos os indivíduos queriam ser uns tipos decentes como eles eram. Nunca compreenderam realmente que Lenine não era um tipo de demónio importado, desviando os russos do seu destino de se parecerem com versões dóceis dos ingleses. Como viria a descobrir, os britânicos patrocinaram os seus próprios exilados, escoltando-os até Petrogrado para pregarem às multidões que os aguardavam. Falharam, enquanto a missão de Lenine terminou em êxito porque prometeu coisas que importavam mais do que a respeitabilidade inglesa e ainda mais armas. (…) Independentemente do que aconteceu quando se encontrava no poder, o homem que regressou no comboio selado era popular porque proporcionava claridade e esperança".

Foi assim que o inimigo da guerra (e por isso visto com simpatia pelos alemães e com desconfiança por ingleses e franceses) chegou, viu e venceu.

Lenine chegou à estação Finlândia de Petrogrado no meio de uma confusão total. O czar tinha sido afastado por uma revolução liberal e substituído pelo chamado Governo Provisório. A 16 de Abril, Lenine chegou, depois de 12 anos de exílio. Em meio ano, conseguiria afastar o Governo Provisório e substituí-lo pelo primeiro regime comunista do mundo. Merridale, no meio da forma como descreve a fantástica viagem de comboio, dá-nos o ambiente desses dias. Lenine tinha 47 anos e para trás tinha décadas de activismo político.

A partir de 1900, no exílio, viveu em diferentes países europeus enquanto escrevia teses onde, com base no marxismo, criou o seu próprio espaço ideológico com vista à criação de uma sociedade comunista. Mas se Marx achava que a sociedade burguesa e a ordem capitalista chegariam a um ponto de implosão, levando a um levantamento popular, Lenine não tinha tempo para esperar: queria tomar o poder pela violência, se necessário, executado por uma vanguarda. Se tinha falhado a hipótese de liderar a revolução de 1905, agora, em 1917, não havia tempo a perder.

Foi assim que afastou Kerensky e o seu governo que alinhava com as teses dos países aliados na Primeira Guerra Mundial. Para atingir os seus objectivos, Lenine tinha de acalmar os alemães, que o deixaram passar no célebre comboio, rumo à Rússia. A História, depois, não correria como nenhuma das potências vislumbrava, apesar das ligações fortes a um sector muito forte da elite norte-americana. Mas isso é outra história.

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