Notícia
O comboio vermelho de Lenine
1917 foi um ano tempestuoso na Rússia. O czar caiu e o poder estava nas ruas. Lenine, na Suíça, apanhou um comboio rumo a Petrogrado. Para tomar conta da revolução.
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Lenine no Comboio
Temas & Debates,
344 páginas, 2017
Nestes dias em que vão passar 100 anos da revolução russa, podem publicar-se muitos livros, mas poucos poderão ser tão empolgantes como este "Lenine no Comboio", de Catherine Merridale. Não é difícil perceber porquê: para além de brilhantemente escrito, ao estilo britânico, a autora dá-nos a visão não só de uma das mais importantes viagens de comboio da História (a da ida de Lenine para a Rússia no Verão de 1917, a partir de Zurique) mas também nos integra dos conturbados dias vividos num país que estava simultaneamente em guerra e em revolução.
Foi assim que o inimigo da guerra (e por isso visto com simpatia pelos alemães e com desconfiança por ingleses e franceses) chegou, viu e venceu.
Lenine chegou à estação Finlândia de Petrogrado no meio de uma confusão total. O czar tinha sido afastado por uma revolução liberal e substituído pelo chamado Governo Provisório. A 16 de Abril, Lenine chegou, depois de 12 anos de exílio. Em meio ano, conseguiria afastar o Governo Provisório e substituí-lo pelo primeiro regime comunista do mundo. Merridale, no meio da forma como descreve a fantástica viagem de comboio, dá-nos o ambiente desses dias. Lenine tinha 47 anos e para trás tinha décadas de activismo político.
A partir de 1900, no exílio, viveu em diferentes países europeus enquanto escrevia teses onde, com base no marxismo, criou o seu próprio espaço ideológico com vista à criação de uma sociedade comunista. Mas se Marx achava que a sociedade burguesa e a ordem capitalista chegariam a um ponto de implosão, levando a um levantamento popular, Lenine não tinha tempo para esperar: queria tomar o poder pela violência, se necessário, executado por uma vanguarda. Se tinha falhado a hipótese de liderar a revolução de 1905, agora, em 1917, não havia tempo a perder.
Foi assim que afastou Kerensky e o seu governo que alinhava com as teses dos países aliados na Primeira Guerra Mundial. Para atingir os seus objectivos, Lenine tinha de acalmar os alemães, que o deixaram passar no célebre comboio, rumo à Rússia. A História, depois, não correria como nenhuma das potências vislumbrava, apesar das ligações fortes a um sector muito forte da elite norte-americana. Mas isso é outra história.
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