Notícia
Virgolino Faneca usa os Pokémons para erradicar todos os males do mundo
Virgolino Faneca explica a Albérico a estratégia para acabar com todos os males do mundo até ser interrompido por uns senhores de bata branca que lhe querem vestir uma camisa com velcros, também ela branca.
Caro Albérico
Meu grande amigo. Podes achar que isto é coisa de um tipo sem tino algum, um peneirento da pior espécie, ou até mesmo um egocêntrico sem remissão, mas a verdade é para ser dita e espalhada como uma boa nova. A verdade, no caso em apreço, é a seguinte: descobri a fórmula para eliminar todos os males do mundo.
Aí nos confins do Camboja, onde te encontras na demanda do teu eu, já deves estar a arreganhar o sobrolho e a pensar que ensandeci de vez. Mas pára aí os cavalos e os demais meios de locomoção mentais, porque estou na posse de todas as minhas faculdades, excepto as da Lusófona, que não me reconhece créditos para ser doutor honoris causa de Epistemologia, embora tenha exibido como comprovativo um recibo de compra de todos os livros de Gaston Bachelard, considerado o pai contemporâneo desta disciplina.
Escrevi e reescrevo: tenho a fórmula para eliminar todos os males do mundo e vou aprestar-me a contar-te porque tenho uns senhores de bata branca e estetoscópio a bater-me à porta num registo veemente. Presumo que sejam do Continente e não os posso deixar à espera porque encomendei uma catrefa de congelados que correm riscos de sucumbir a este calor imundo.
Para concretizar este plano magistral, que tem tanto de ambicioso como de fazível, preciso apenas da colaboração dos senhores da Nintendo. A ideia é simples. Transforma-se todos os maus do mundo, o Erdogan, o Putin, o Trump, a trupe toda do Daesh, o Payet, o Mugabe, o Maduro e por aí fora, em Pókemons, colocamo-los na realidade virtual, e desafiamos a malta a apanhá-los com pokébolas. Se eles tiveram saudades de andar à porrada também não há problemas, é só levá-los a um ginásio de Pókemons, para eles descarregarem a adrenalina e a malvadez, sendo que ainda proporcionam uns holísticos momentos de entretenimento aos seus proprietários. Com uma maravilhosa vantagem: como é tudo realidade virtual, ninguém se magoa.
Imagina o Trump como um Bulbasaur, o Pókemon verde, tipo sapo, de olhos vermelhos e uma grande boca, equipado com chicotes na costa, a lutar com o Putin, transformado em Charmander, aquele Pókemon que se assemelha a um pequeno e fofo dinossauro, mas que luta bravamente utilizando a chama que lhe sai da cauda. O chicote a ser queimado pela cauda, a cauda a ser presa pelo chicote, só a concatenação destas possibilidades é a antecipação de um grande espectáculo. As combinações são infinitas e o mundo seria, por certo, um lugar melhor com estes senhores a viverem num imaginário que só os japoneses seriam capazes de criar. Aliás, o senhor Satoshi Tajiri inspirou-se no seu hobby de criança que era coleccionar insectos para criar o universo Pókemon, o que diz muito sobre o próprio e sobre o mundo.
Mas há mais. Qualquer pessoa poderia constituir a sua lista de Pókemons. Congemina, um fazia um rol só com estrangeiros, Schäuble, Merkel e Dijsselbloem. Outro com figurões e figurinhas tipo Castelo Branco, Teresa Guilherme, Júlia Pinheiro e Cláudio Ramos. Outro ainda com o Luís Filipe Vieira, o Bruno de Carvalho, o Pinto da Costa e o Jorge Jesus. E um outro, uma lista só com o José Sócrates, porque ele é demasiado vaidoso para partilhar o espaço com outros Pokémons, exceptuando talvez o Carlos Santos Silva, porque é útil ter uma carteira sempre à mão.
Agora semicerra os olhos e fantasia esta malta toda num ginásio de Pókemons, tudo gente de fino coturno a clamar o lema do Team Rocket: "Para proteger o mundo da devastação/para unir todos os povos da nossa nação/para denunciar os males da verdade e do amor/para conquistar todo o universo em redor/Team Rocket à velocidade da luz vai atacar/rendam-se agora ou preparem-se para lutar." Vês?! Vês, como o inferno se pode transformar num paraíso, se olharmos para a coisa do ponto de vista de um jogador de Pókemons. Já me correspondi com o senhor Satoshi e aguardo o fio de beque deste para arrancar com este maravilhoso projecto.
Ó senhores do Continente, mas que porra é esta! Eu não encomendei nenhuma camisa branca com velcros!…
Larguem-me. Deixem-me, ao menos, assinar a carta.
Um abraço deste que muito te estima,
Meu grande amigo. Podes achar que isto é coisa de um tipo sem tino algum, um peneirento da pior espécie, ou até mesmo um egocêntrico sem remissão, mas a verdade é para ser dita e espalhada como uma boa nova. A verdade, no caso em apreço, é a seguinte: descobri a fórmula para eliminar todos os males do mundo.
Escrevi e reescrevo: tenho a fórmula para eliminar todos os males do mundo e vou aprestar-me a contar-te porque tenho uns senhores de bata branca e estetoscópio a bater-me à porta num registo veemente. Presumo que sejam do Continente e não os posso deixar à espera porque encomendei uma catrefa de congelados que correm riscos de sucumbir a este calor imundo.
Para concretizar este plano magistral, que tem tanto de ambicioso como de fazível, preciso apenas da colaboração dos senhores da Nintendo. A ideia é simples. Transforma-se todos os maus do mundo, o Erdogan, o Putin, o Trump, a trupe toda do Daesh, o Payet, o Mugabe, o Maduro e por aí fora, em Pókemons, colocamo-los na realidade virtual, e desafiamos a malta a apanhá-los com pokébolas. Se eles tiveram saudades de andar à porrada também não há problemas, é só levá-los a um ginásio de Pókemons, para eles descarregarem a adrenalina e a malvadez, sendo que ainda proporcionam uns holísticos momentos de entretenimento aos seus proprietários. Com uma maravilhosa vantagem: como é tudo realidade virtual, ninguém se magoa.
Imagina o Trump como um Bulbasaur, o Pókemon verde, tipo sapo, de olhos vermelhos e uma grande boca, equipado com chicotes na costa, a lutar com o Putin, transformado em Charmander, aquele Pókemon que se assemelha a um pequeno e fofo dinossauro, mas que luta bravamente utilizando a chama que lhe sai da cauda. O chicote a ser queimado pela cauda, a cauda a ser presa pelo chicote, só a concatenação destas possibilidades é a antecipação de um grande espectáculo. As combinações são infinitas e o mundo seria, por certo, um lugar melhor com estes senhores a viverem num imaginário que só os japoneses seriam capazes de criar. Aliás, o senhor Satoshi Tajiri inspirou-se no seu hobby de criança que era coleccionar insectos para criar o universo Pókemon, o que diz muito sobre o próprio e sobre o mundo.
Mas há mais. Qualquer pessoa poderia constituir a sua lista de Pókemons. Congemina, um fazia um rol só com estrangeiros, Schäuble, Merkel e Dijsselbloem. Outro com figurões e figurinhas tipo Castelo Branco, Teresa Guilherme, Júlia Pinheiro e Cláudio Ramos. Outro ainda com o Luís Filipe Vieira, o Bruno de Carvalho, o Pinto da Costa e o Jorge Jesus. E um outro, uma lista só com o José Sócrates, porque ele é demasiado vaidoso para partilhar o espaço com outros Pokémons, exceptuando talvez o Carlos Santos Silva, porque é útil ter uma carteira sempre à mão.
Agora semicerra os olhos e fantasia esta malta toda num ginásio de Pókemons, tudo gente de fino coturno a clamar o lema do Team Rocket: "Para proteger o mundo da devastação/para unir todos os povos da nossa nação/para denunciar os males da verdade e do amor/para conquistar todo o universo em redor/Team Rocket à velocidade da luz vai atacar/rendam-se agora ou preparem-se para lutar." Vês?! Vês, como o inferno se pode transformar num paraíso, se olharmos para a coisa do ponto de vista de um jogador de Pókemons. Já me correspondi com o senhor Satoshi e aguardo o fio de beque deste para arrancar com este maravilhoso projecto.
Ó senhores do Continente, mas que porra é esta! Eu não encomendei nenhuma camisa branca com velcros!…
Larguem-me. Deixem-me, ao menos, assinar a carta.
Um abraço deste que muito te estima,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino FanecaVirgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.