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Virgolino Faneca revela a Éder o equívoco de Fernando Santos
Virgolino teve acesso ao conteúdo de uma conversa que ocorreu no Museu dos Coches, através das qual é possível perceber o porquê de Fernando Santos não ter convocado Éder para o Mundial da Rússia.
Caro Éder
Sei que tu sabes que eu tinha prometido não perorar sobre futebol devido a tratar-se de uma matéria tóxica e facilmente inflamável. Contudo, como também sabes, a realidade é dinâmica e esta missiva que te dirijo não é propriamente sobre futebol, mas sim sobre a selecção nacional que é uma coisa bem diferente em quase todos os aspectos, exceptuando talvez na bola.
Escrevo-te porque pressinto a tua tristeza por não ires à Rússia com os teus colegas do Europeu, perdendo assim as noitadas de sueca (jogo de cartas, não fazer confusão), as tardes de bingo e as conversas profundas com o seleccionador nacional sobre o existencialismo na obra de Camus e que na Rússia, tudo indica, versariam sobre o surrealismo na escrita de Dostoievski.
Escrevo-te também para dizer que não estás esquecido na selecção, e que embora não estejas lá em corpo te encontras presente em espírito, conforme poderás constatar através da leitura desta conversa que um primo da Cesaltina, minha amiga do peito (e de outras partes) gravou, enquanto servia "cordon bleu" (é amesquinhar os franceses enquanto se puder) aos integrantes da selecção nacional no Museu dos Coches, registando-se neste jantar o facto do Presidente Marcelo ter apenas digerindo um croissant misto de modo a não criar incidentes diplomáticos.
Cristiano Ronaldo CR) – Sinto falta do Éder.
Fernando Santos (FS) – Onde é que ele se meteu! Não me digam que ficou na cidade do futebol a arranjar as tranças?
João Moutinho (JM) – Não. O mister não o convocou.
Fernando Santos – O quê? Onde é que tinha a cabeça! Ó Fernando Gomes, ainda é possível alterar a convocatória?
Fernando Gomes (FG) – Não.
FS – Com vocês, também nunca nada é possível. Já quando quis convocar cinco guarda-redes foi a mesma resposta. E, agora, como é que resolvo o jogo da final? Ó Cris, quem é aquele que está ali ao lado do João?
CR – É o Mário Rui, defesa-esquerdo.
FS – Não me venham dizer que também não convoquei o Eliseu!
FG – Na realidade, não.
FS – Sem o Éder, nem o Eliseu. Devo ter saltado os "e" quando fiz a convocatória. Que chatice.
Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) – Ó mister, qual será a táctica para o Mundial?
FS – Senhor Presidente, apesar das falhas, veja lá que me esqueci do Éder e do Eliseu, vou manter a mesma estratégia de França. Jogar para o empate de modo a conseguir a vitória quando formos à final.
MRS – Mas, sem o Éder, como é que faz isso?
FS – Ponho o Mário Rui a ponta de lança.
MRS – E quem é o Mário Rui?
FS – Fico mais descansado. Afinal, não sou o único que não o conhecia e por isso mesmo será a grande surpresa do torneio.
JM – Mister, que tal convidar o Éder para nosso mental "coach"?
FS – Isso podia ser uma boa ideia, não se desse o caso de já ter convidado o ministro Mário Centeno para o efeito, visto ele ser conhecido como o Cristiano Ronaldo das Finanças e porque nos dá jeito ter dois Cris, mesmo que um não jogue.
Mário Rui (MR) – Mister Fernando, porque não convocou o Éder?
FS – Por causa de ti.
MR – Que chatice. Por mim, também não ia porque já tinha combinado coisas para o Festival das Músicas do Mundo, em Sines. Há tempos que não vou à terra.
FS – Cris, afinal qual foi o outro ponta de lança que convoquei?
CR – O Gonçalo Guedes.
FS – Mas esse não é ponta de lança!
CR – Também pensei isso, mas não quis contrariá-lo.
FS – Pronto. Está decidido. O Mário Rui vai mesmo ser a arma secreta. Vou pôr o Nélson Semedo e o Fábio Coentrão a treinarem cruzamentos para ele.
JM – Olhe que o Nélson e o Fábio também não fazem parte de convocatória.
FS – Bom, o melhor é marcarmos uma reunião para amanhã, de modo a conhecer os jogadores. Doutor Gomes, pode tratar disso? Entretanto, vou ligar ao Éder a dizer-lhe que conto com ele para o próximo Europeu.
Um abraço deste que te admira,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.