Notícia
Virgolino Faneca põe 2017 a nu. Uma pouca vergonha
A pedido do dilecto Marcelo, Virgolino Faneca faz as suas previsões para 2017. É o que dá ser vizinho do professor Bambo, jogar à bisca dos nove com a Maya e comer caracóis com o mestre Baio.
Foi com indisfarçável alegria que recebi a tua carta natalícia desejando-me uma óptima quadra festiva e uma boa Páscoa. Este "dois em um" é mais uma prova de que estás sempre um passo à frente e de que antecipas os factos muito antes de eles acontecerem. Por força desta tua capacidade, fiquei surpreendido com o facto de solicitares os meus préstimos para prever 2017, esgrimindo os argumentos de ser vizinho do professor Bambo, jogar à bisca dos nove com a Maya e comer caracóis com o mestre Baio. Obviamente, o teu pedido envaidece-me, mas em simultâneo o elevado sentido de responsabilidade que o mesmo acarreta tolhe-me as capacidades preditivas.
Ora, a minha primeira previsão é a de que, em 2017, Portugal fará história, conquistando o Festival da Eurovisão. Tal feito será protagonizado por Maria Leal, com a música Dialectos da Fruta, sendo que a artista actuará com um cabaz da dita na cabeça com dois propósitos concomitantes: dar imagens às palavras e homenagear Carmen Miranda. O inusitado de colocar a cantar alguém que não o sabe fazer convencerá o exigente júri.
Prevejo também que Bruno de Carvalho vai culpar os árbitros pelo facto do Sporting não ganhar o campeonato nacional de futebol. Para os teus botões desabafarás: ora bolas, Virgolino, isso não tem nada de novo. Mas tem, Marcelo. A novidade desta previsão é de que Bruno de Carvalho fará a acusação no interior da jaula de leões do circo Victor Hugo Cardinal e proferirá a seguinte frase: que estes me comam se não estiver a dizer a verdade. Victor Hugo, dono do circo, dilatará as pupilas antecipando poupanças na alimentação dos felinos. A coisa não será bonita de se ver.
Também está escrito nas estrelas, em maiúsculas, para se ler melhor, que Augusto Santos Silva irá participar na inauguração de uma dezena de feiras de gado vacum, incluindo a da Golegã, provocando a ira de Capoulas Santos. Ai, se é assim, vou ali a Nova Iorque chamar charoleses aos tipos da ONU, para ver se o Augusto gosta que se metam nos assuntos dele, dirá o ministro da Agricultura a António Costa. O PAN irá manifestar-se contra o uso de animais para fins políticos e/ou piadas de gosto duvidoso.
Uma grande surpresa em 2017 será a participação de Hillary Clinton no programa televisivo "O Aprendiz", destinado a celebridades, que tem como produtor executivo o presidente dos EUA, o senhor Trump. A senhora Clinton explicará ao seu "staff" que esta é a melhor forma de aprender certas e profícuas manhas com o maior mestre do ofício, constituindo um sinal claro que poderá voltar a ser candidata à Casa Branca ou, em alternativa, administradora da Trump Organization.
O próximo ficará ainda marcado pela tentativa de António Costa aprender a andar de bicicleta sem rodinhas. Catarina e Jerónimo vão ficar chateados com o facto e, pela calada da noite, irão roubar o guiador da geringonça. Na manhã seguinte, Costa acordará e, verificando a ausência do dito, vai à polícia queixar-se de Passos Coelho.
Por fim, posso garantir-te, por obra e graça de todas as cartas de tarot, búzios e demais artefactos proféticos, que 2017 será um ano marcado pela imprevisibilidade, com um misto de surpresas positivas e negativas.
Um abraço deste que te estima,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.