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Virgolino Faneca escreve sobre o Y de Floribella

A persistência de Luciana Abreu no ípsilon não é inocente. Virgolino explica porquê e desanca na Otília por teimar em não reflector sobre assuntos sérios e fracturantes.

09 de Dezembro de 2016 às 17:00
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Adorada Luciana

Sei que não me conheces de lado nenhum, mas deixa que te diga que me tornei um fervoroso fã da tua pessoa desde os saudosos tempos da Floribella. E depois, ao contrário de outros tacanhos de espírito, classifiquei como genial os nomes que escolheste para as tuas filhas, Lyonce Viiktórya e Lyani Viiktórya. A persistência do ípsilon não é inocente e demonstra a tua imensa argúcia. Isto porque o Y tanto identifica o cromossoma masculino, mas também é usado na matemática para representar a segunda incógnita.

Ora, segundo leio no Correio da Manhã, actualmente não tens qualquer cromossoma masculino em teu redor e existe, matematicamente falando, uma segunda incógnita alegadamente relacionada com a tua orientação sexual. Ou seja, quando te fartaste de pôr ípsilones nos nomes das miúdas, não fizeste mais do que rasgar os horizontes dos místeres preditivos.

Mas, deixa-me sublinhar, não são os teus ípsilones que me levam a escrever esta cartinha. Aliás, até guerreei com a Otília do quiosque quando ela começou com conversa de chacha. Ai, uma moça tão jeitosa, não sei o que lhe deu para levar uma feiosa para casa. Mais valia ter ficado com o Djaló, um rapazito que dá ares de não fazer mal a uma mosca. E eu. Otília, cala essa matraca e não te metas nos assuntos do forno íntimo da Luciana. Assim mesmo, forno, porque a conversa já me estava a queimar os miolos, além de que é um sinal de clarividência citar pessoas que dão outra clareza à língua portuguesa, caso do treinador Jesus.

Olha, Otília, em vez de folheares essas revistas de mexericos que vendes aí no quiosque, porque é que não lês a imprensa séria para poderes falar do Fillon, do Trump, do Renzi, dos problemas da Europa, da reestruturação da dívida, do Costa, do Passos, da geringonça. Tudo isto, dito de jacto, com um ponto de interrogação no fim.

E ela a insistir. Virgolino, se ela transferisse para a minha conta os dois mil euros mensais que prometeu dar à mãe, eu até leria a obra completa da Cristina Ferreira. E eu. Ó Otília, mas a Cristina Ferreira só escreveu um livro. E ela, inquisitiva. Quem és tu para julgar se é muito ou pouco. Olha que o livro da Cristina, segundo o Goucha, tem a densidade da Eneida. E eu. Não faz sentido, Otília, estás a falar de coisas que não conheces. E ela, peremptória. Acabou-se a conversa e o fiado.

Existem assuntos mais importantes sobre os quais escrever? Claro que sim, mas em matéria de ridículo, o teu assunto dá uma abada às cartas de amor do Fernando Pessoa e a malta desunha-se por conteúdos escatológicos.

Olha, Luciana, com tanta conversa de permeio, até já me esqueci da razão de ser desta carta. Acho que te queria alertar para o facto do mediatismo, demasiadas vezes, se tornar uma droga que obriga a curas de desintoxicação, porque o caricato não mata, mas mói.


Cumprimentos deste teu,

Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.

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