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Virgolino Faneca lança SOS para decifrar o enigma das cartolinas
Virgolino Faneca escreve a Alfredo dos plásticos, especialista por inerência em cartolinas, para que este o ajude o clarifique sobre matérias relacionadas com as ditas e as suas especificidades.
Desculpa importunar-te com esta missiva. Sei que a tua especialidade são os plásticos, mas, na minha avaliação extrapolativa, quem percebe de plásticos entende de alumínios, quem domina os alumínios tem sabedoria em matéria de cartão canelado e quem conhece o cartão canelado está apto para tecer considerações sobre cartolinas, independentemente do tipo, do tamanho e das cores das mesmas.
Segundo o presidente do Sporting, o senhor Bruno Carvalho, o facto de o Benfica ter organizado uma coreografia com recurso a cartolinas foi apenas uma artimanha para, posteriormente, usar as ditas como armas para infligir dor física nos adversários. O senhor Bruno, terminado o jogo, exibiu como prova deste crime uma cartolina muito bem dobradinha e aprisionada por fita adesiva, de forma a torná-la num objecto contundente.
Agindo em conformidade, o senhor Bruno pediu explicações à FPF, à FIFA, à UEFA, à Polícia, ao Ministério Público, ao Ministério da Administração Interna e ao Presidente da República, mas a única resposta que até agora obteve foi de Marcelo Rebelo de Sousa. Numa nota enviada à comunicação social, o chefe de Estado disse esperar que Eder volte rapidamente aos golos, de forma a repetir na Taça das Confederações o feito alcançado no Europeu de França.
Cá para mim tenho que o Presidente Marcelo fugiu deliberadamente à pergunta, mas se calhar é só impressão minha. Quanto ao Benfica, questionado pela minha pessoa sobre o assunto, remeteu todas as explicações para a Prado - Cartolinas da Lousã e anexou na resposta uma caixa com uma camisola do Eusébio e um voucher para morfar na Catedral da Cerveja.
Penso ainda que o senhor Bruno Carvalho foi contido nas suas acusações. Passo a explicar. Segundo me foi possível observar, o Benfica colocou à disposição dos seus adeptos-soldados cartolinas brancas, amarelas e vermelhas. Ora, os árbitros usam cartolinas amarelas e vermelhas para admoestar os jogadores, pelo que as ditas devem também ser fornecidas pelo Benfica, numa clara acção de aliciamento (já não bastavam os vouchers!) que o timoneiro sportinguista deixou passar em claro, vá-se lá saber porquê.
É todo este imbróglio que só tu podes deslindar, Alfredo. A começar pelo básico. Por exemplo, foram mesmo usadas cartolinas, terá sido color-set ou papel cartão? A fita-cola era de fabrico nacional? Em que escola é que Bruno Carvalho aprendeu artes manuais? O Luís Filipe Vieira sabe fazer aviões com cartolinas? E o Rui Costa? Qual é a relação entre a gramagem das ditas e o seu tempo de voo após terem sido atiradas por energúmenos? O facto de as crianças usarem cartolinas diz alguma coisa sobre este tipo de discussão? Como é que se fazem origamis com cartolinas?
Agradeço que passes cartão a esta missiva e me respondas tão rápido quanto possível, a bem da estabilidade nacional, que por esta altura se encontra ferida pela aresta aguçada de uma cartolina.
Um abraço deste teu,
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.