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Virgolino Faneca queixa-se dos opiáceos de má qualidade

A Anastácia vendeu opiáceos marados a Virgolino, colocando-o num estado de paranóia. De tal forma que o homem leu coisas que não existem e até deu por ele a sobrevoar Nova Iorque, algo pouco recomendável nos dias que correm.

27 de Janeiro de 2017 às 17:00
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Ignóbil Anastácia

Esta carta não serve para te saudar, elogiar, perguntar como vão os teus ou contar-te como vão os meus. Não. A minha carta é de protesto relativamente aos opiáceos que me vendeste, que se é certo têm o objectivo de nos colocar a flutuar num mundo paralelo, não devem exagerar na dose porque existe o risco de nos deixar paranóicos.

E é assim que estou: paranóico. Queres exemplos que te convençam a ressarcir-me dos danos causados? Ora aqui vão. Vê lá que li uma notícia na qual se relata que o Governo quer uma solução para resolver o problema do crédito malparado e de outros activos não rentáveis dos bancos que proteja os interesses dos devedores. Os interesses dos credores que se danem. Os dos devedores, sobretudo os grandes, esses sim, devem ser tratados com desvelo, porque os senhores foram vítimas das circunstâncias e coiso e tal, têm empresas que empregam muitas pessoas e se forem para o charco é uma chatice. Ou seja, em vez de se fazer uma limpeza, o melhor é pôr os esqueletos no armário, assobiar para o ar e esperar que ninguém abra a porta.

Como não acho, em plena consciência, que o Governo e o Banco de Portugal raciocinem assim, só posso concluir que os opiáceos me afectaram a capacidade cognitiva, fazendo com que tivesse lido devedores em vez de credores.

Outro exemplo? Na comissão parlamentar de inquérito à CGD ouvi o senhor Faria de Oliveira, que foi presidente da instituição, dizer que a mesma foi "servida ao longo dos anos por grandes profissionais, quer a nível do seu conselho de administração, quer da alta direcção e restantes quadros e colaboradores". Além da má conjugação do verbo servir, a dita frase fez-me rir a bandeiras despregadas, originando uma ruptura dos músculos abdominais que poderá descambar numa hérnia. Tudo porque pensei que estava a assistir a uma homenagem a Gordon Kaye, actor que se tornou célebre a interpretar o papel de René, personagem da série "Alô, Alô!", dei por mim a gritar "you stupid woman" e a minha mulher meteu os papéis do divórcio.

Mas há mais. Esta droga que me vendeste, com o bordão de que era de primeira classe, fez com que lesse um artigo de opinião do João Miguel Tavares a criticar Marcelo Rebelo de Sousa. Ora, como é evidente, trata-se de uma impossibilidade ideológica, porque a lógica aponta que o mesmo terá sido escrito por alguém com o perfil do João Galamba ou mesmo do Daniel Oliveira. Ou seja, trata-se de uma droga marada, porque em vez de me colocar bem-disposto, só me faz ver perversidade em tudo.

Na realidade, os opiáceos são tão maus que até me puseram a sobrevoar Nova Iorque ao som do "Lucy in the Sky with Diamonds" e se há sítio para onde não quero ir agora, por razões de higiene mental, são os EUA. Por isso, Anastácia, exijo o meu dinheiro de volta. Já! E não venhas com falinhas mansas de que isto que te contei aconteceu mesmo, porque esse tipo de patranhas não pega.

Face ao exposto, despeço-me com um protesto violento, desejando que charlatãs como tu sejam desterradas para o muro que vai separar o México dos EUA e que fiques do lado norte-americano para veres como elas mordem.


Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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