Notícia
Virgolino Faneca queixa-se dos opiáceos de má qualidade
A Anastácia vendeu opiáceos marados a Virgolino, colocando-o num estado de paranóia. De tal forma que o homem leu coisas que não existem e até deu por ele a sobrevoar Nova Iorque, algo pouco recomendável nos dias que correm.
Esta carta não serve para te saudar, elogiar, perguntar como vão os teus ou contar-te como vão os meus. Não. A minha carta é de protesto relativamente aos opiáceos que me vendeste, que se é certo têm o objectivo de nos colocar a flutuar num mundo paralelo, não devem exagerar na dose porque existe o risco de nos deixar paranóicos.
Como não acho, em plena consciência, que o Governo e o Banco de Portugal raciocinem assim, só posso concluir que os opiáceos me afectaram a capacidade cognitiva, fazendo com que tivesse lido devedores em vez de credores.
Outro exemplo? Na comissão parlamentar de inquérito à CGD ouvi o senhor Faria de Oliveira, que foi presidente da instituição, dizer que a mesma foi "servida ao longo dos anos por grandes profissionais, quer a nível do seu conselho de administração, quer da alta direcção e restantes quadros e colaboradores". Além da má conjugação do verbo servir, a dita frase fez-me rir a bandeiras despregadas, originando uma ruptura dos músculos abdominais que poderá descambar numa hérnia. Tudo porque pensei que estava a assistir a uma homenagem a Gordon Kaye, actor que se tornou célebre a interpretar o papel de René, personagem da série "Alô, Alô!", dei por mim a gritar "you stupid woman" e a minha mulher meteu os papéis do divórcio.
Mas há mais. Esta droga que me vendeste, com o bordão de que era de primeira classe, fez com que lesse um artigo de opinião do João Miguel Tavares a criticar Marcelo Rebelo de Sousa. Ora, como é evidente, trata-se de uma impossibilidade ideológica, porque a lógica aponta que o mesmo terá sido escrito por alguém com o perfil do João Galamba ou mesmo do Daniel Oliveira. Ou seja, trata-se de uma droga marada, porque em vez de me colocar bem-disposto, só me faz ver perversidade em tudo.
Na realidade, os opiáceos são tão maus que até me puseram a sobrevoar Nova Iorque ao som do "Lucy in the Sky with Diamonds" e se há sítio para onde não quero ir agora, por razões de higiene mental, são os EUA. Por isso, Anastácia, exijo o meu dinheiro de volta. Já! E não venhas com falinhas mansas de que isto que te contei aconteceu mesmo, porque esse tipo de patranhas não pega.
Face ao exposto, despeço-me com um protesto violento, desejando que charlatãs como tu sejam desterradas para o muro que vai separar o México dos EUA e que fiques do lado norte-americano para veres como elas mordem.
Virgolino Faneca
Quem é Virgolino Faneca
Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.