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Virgolino Faneca torna letrado o Natal dos ilustres

Virgolino Faneca encomendou a Natalino um rol de livros para colocar no sapatinho de certos e determinados ilustres

23 de Dezembro de 2016 às 17:00
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Prendado Natalino

A lei da vida é invencível e, por isso, o caro José Lello já não está entre nós. Mas esta circunstância não deve ser impeditiva de manter as tradições que dão sentido a esta quadra. É neste sentido que tomo as vezes de José Lello, elaborando uma lista de livros que encaixam como uma luva (ou, mais a propósito, como um barrete de Natal) a um sortido de figuras públicas. Já sei que vais queixar-te de que a tua agenda é apertada e que estes pedidos em cima da hora são de difícil execução, mas quem tem renas como as tuas é capaz de tudo. Conto, por isso, com a tua amabilidade que agradeço antecipadamente. Aqui vai a lista:

 

"O Cemitério dos Livros Esquecidos"

Carlos Ruiz Záfon

Para Jerónimo de Sousa redescobrir os livros de Marx e os seus princípios doutrinários.

"A Invenção de Morel"

Adolfo Bioy Casares

Para António Costa perceber que já outros tinham inventado geringonças.

"Sentir"

Cristina Ferreira

Para a própria Cristina Ferreira não ser apanhado de surpresa quando lhe falarem sobre o livro.

"O Alquimista"

Paulo Coelho

Para Pedro Passos Coelho, pois só recorrendo a esta arte voltará ao poder.

"A Conspiração Contra a América"

Philip Roth

Para Bruno Carvalho exclamar: vêem, eu tinha razão, está tudo contra nós.

"Cala a Minha Boca com a Tua"

Pedro Paixão

Para Luís Filipe Vieira ler em conjunto com Pedro Guerra.

"Jogo Duplo"

Ben Macintyre

Para Catarina Martins aperfeiçoar a arte de estar no Governo sem estar, obtendo o melhor de dois mundos.

"Fruta Deliciosa"

James Hannaham

Para Pinto da Costa redescobrir a importância de certas e determinadas vitaminas na obtenção do êxito.

"A Sul de Nenhum Norte"

Charles Bukowski

Para Assunção Cristas se orientar sem a ajuda de Paulo Portas.

"Casa de Férias com Piscina"

Herman Koch

Será que algum ministro das Finanças sabe nadar na turbulência das contas públicas? Para Mário Centeno fazer o teste.

"Quem Sou Eu? E Se Sou, Quantos Sou"

David Precht

Para Marques Mendes se orientar nas análises semanais e fazer um uso correcto das adversativas.

"A Crónica dos Bons Malandros"

Mário Zambujal

Para os putativos compradores do Novo Banco.

"O Rouxinol"

Kristin Hannah

Para Marcelo Rebelo de Sousa entender que não está sozinho na arte das belas cantorias.

 

E pronto Natalino, é isto. Espero que executes com denodo esta demanda literária e faças chegar o seu a seu dono. Agradeço a tua disponibilidade e despeço-me com votos de boas festas. Por mim, como dizem que ler é saber mais, vou entreter-me a fazer legos, porque, por vezes, a ignorância é uma benção.

 

Um abraço iluminado deste teu

Virgolino Faneca


Quem é Virgolino Faneca

Virgolino Faneca é filho de peixeiro (Faneca é alcunha e não apelido) e de uma mulher apaixonada pelos segredos da semiótica textual. Tem 48 anos e é licenciado em Filologia pela Universidade de Paris, pequena localidade no Texas, onde Wim Wenders filmou. É um "vasco pulidiano" assumido e baseia as suas análises no azedo sofisma: se é bom, não existe ou nunca deveria ter existido. Dele disse, embora sem o ler, Pacheco Pereira: "É dotado de um pensamento estruturante e uma só opinião sua vale mais do que a obra completa de Nuno Rogeiro". É presença constante nos "Prós e Contras" da RTP1. Fica na última fila para lhe ser mais fácil ir à rua fumar e meditar. Sobre o quê? Boa pergunta, a que nem o próprio sabe responder. Só sabe que os seus escritos vão mudar a política em Portugal. Provavelmente para o rés-do-chão esquerdo, onde vive a menina Clotilde, a sua grande paixão. O seu propósito é informar epistolarmente familiares, amigos, emigrantes, imigrantes, desconhecidos e extraterrestres, do que se passa em Portugal e no mundo. Coisa pouca, portanto.



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