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Uma feira obrigatória

A feira de Estremoz é uma das poucas a nível nacional que continua a ter e a comercializar património genuíno de grande valor, sendo ponto de visita mais do que fundamental.

04 de Agosto de 2018 às 09:00
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Há hoje poucos sítios em Portugal onde é possível comprar um genuíno arado de madeira que Ernesto Veiga de Oliveira considerasse digno do Museu de Etnologia. No entanto, numa destas manhãs, lá estava ele em exposição na feira. Envelhecido, talvez com dois séculos, mas digno e erecto graças à recuperação, e imponente na história que encerra de sacrifício e luta impiedosa com a terra, na busca de sustento e sobrevivência. O arado mereceu a sua sorte, a de ter sido adquirido por alguém que o conservará e chamará património. A troca comercial foi feita numa manhã de um sábado, na feira de Estremoz, que sem falha se realiza no mencionado dia da semana, no Rossio da cidade, entre as 8 e as 13 horas.

A feira da rica e dinâmica cidade alentejana tem um estatuto à parte por vários motivos. Antes de tudo o mais, a feira são na verdade duas feiras, uma alimentar e uma outra de objectos. A primeira divide-se em produtos locais sazonais, enchidos, queijos e plantas, mas é necessária alguma concentração para distinguir o produto local do que é transaccionado em grandes plataformas. A segunda é uma enorme amálgama de bens culturais, onde ao lado do comum, se encontram, como em poucos lados, peças de grande valor.

No capítulo destas últimas, há um forte sector de instrumentos e ferramentas agrícolas, todas elas genuínas e antigas, a merecer investimento. Mas talvez o maior valor da feira de Estremoz seja o conhecimento dos vendedores, que têm noção de património, e conseguem reunir bens que raramente estão visíveis, quanto mais disponíveis.

Nas últimas visitas, foi possível encontrar, entre outros, um raro bebedouro em pedra para animais e uma janela fortificada em madeira e ferro pertencente, talvez, a uma cave de uma casa senhorial. Para além da temática agrícola e campestre, com várias boas secções de chocalhos, há vários outros sectores bem representados, como são o do mobiliário nobre e popular, o das máquinas agrícolas, e, claro, o da cerâmica, sendo a cidade fronteira às terras do barro de São Pedro do Corval e do Redondo.

A feira de Estremoz é procurada, como não podia deixar de ser, por antiquários, que depois vendem as peças nas suas operações. Deste modo, deve ser ponto de romaria obrigatório num próximo sábado de manhã, nem que seja apenas para apreciar o vasto património exibido no chão.  


Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.


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