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João Pedro Vaz: As autarquias investem mais na Cultura do que o Estado central
João Pedro Vaz, actor, encenador e director artístico do Teatro Oficina em Guimarães, sublinha a importância de uma política territorial para a Cultura. “Deve haver uma concertação de esforços entre o Estado central, as autarquias e os artistas para alinharem projectos de forma a permitir a criação de novas centralidades culturais no país”.
Não tem havido uma única palavra sobre política territorial.
E é pena porque é onde está a maior parte do investimento em Cultura. As câmaras municipais investem mais do que o Estado central, e não é de agora. Acho que essa sensibilização dos territórios para mover projectos de criação artística pode ser mais disruptora do que as pessoas pensam. A minha experiência é de que resulta. Quanto mais não seja, eu próprio fixei-me no Minho, de vez, porque percebi que aqui poderia ter um trabalho bastante mais modificador do que quando estava no Porto e em Lisboa.
É mais do que descentralização. Refiro-me à criação de novas centralidades culturais para o desenvolvimento integrado do país. Tanto nas Comédias do Minho, onde estive durante sete anos, como agora na Companhia Teatro Oficina, em Guimarães, há soluções de parceria muito fortes entre o poder central, o poder local e a criação artística. Muitas vezes, nestas discussões, a tutela municipal é superestigmatizada. O discurso que se tem é de uma generalização completamente vulgar, quando há câmaras que, para a escala que têm, são verdadeiramente revolucionárias na aposta cultural. Estes eixos de trabalho em que há aposta local, do Estado e por parte de programadores de projectos culturais - que se unem para mobilizar os orçamentos - são, para mim, uma solução para o país inteiro. Há muito investimento disperso por festas e romarias, por equipamentos, alguns deles até mais ou menos devolutos. Foram criados imensos cineteatros, auditórios, bibliotecas por esse país fora que podem desenvolver actividades culturais e podem redireccionar os seus investimentos ou, pelo menos, aplicá-los de uma maneira mais centrada. É preciso perceber o que é que o Estado central pode fazer para mobilizar também o esforço local e autárquico, no sentido de capitalizar a relação com os artistas, com a criação artística, e depois nas suas ramificações, na ligação com a área educativa, social. Tudo isto merece um trabalho da parte da tutela avisado, integrado, não avulso, para perceber se, de facto, somando os projectos que temos, e acrescentando um ou outro investimento, não chegaríamos mais facilmente ao 1% para a Cultura.
E é pena porque é onde está a maior parte do investimento em Cultura. As câmaras municipais investem mais do que o Estado central, e não é de agora. Acho que essa sensibilização dos territórios para mover projectos de criação artística pode ser mais disruptora do que as pessoas pensam. A minha experiência é de que resulta. Quanto mais não seja, eu próprio fixei-me no Minho, de vez, porque percebi que aqui poderia ter um trabalho bastante mais modificador do que quando estava no Porto e em Lisboa.