Notícia
Desfazer uma ordem internacional desordenada
Num mundo cada vez mais incerto, a liderança de Trump adensa as dúvidas em torno de quem será o quê no tabuleiro mundial. Velhas alianças quebram-se e outras surgem na forja. Certa só a incerteza.
A vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas não faz dele apenas o Presidente dos Estados Unidos. Porque, já diz o cliché, o Presidente americano é também o líder da nação mais poderosa do mundo, há décadas o farol do modelo democrático e liberal vigente desde a Segunda Guerra. E Trump ameaça mudar tudo, ou quase tudo.
Sob o lema "América primeiro", com que o 45.º Presidente dos EUA promete tornar a "América grande outra vez", Trump instala uma nebulosa sobre o papel do país no mundo. Um olhar para dentro que contraria o globalismo consagrado por todos os Presidentes americanos do último meio século.
Isso mesmo ficou claro quando, na cimeira que decorreu esta semana em Davos, o Presidente chinês, Xi Jinping, assumiu o lugar de paladino da globalização, até aqui prioritariamente ocupado pelos EUA. "Ninguém emergirá vencedor numa guerra comercial", avisou Xi, criticando o proteccionismo veiculado pelo agora Presidente americano. O líder chinês pediu "cooperação" e instou a comunidade à implementação do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas.
Estas declarações de Xi têm um contexto: Trump ameaça romper os acordos comerciais e iniciar uma guerra aduaneira e cambial com Pequim. E boicotar o Acordo de Paris, já que o magnata nova-iorquino é um céptico das alterações climáticas, que considera serem uma invenção da China. Tendo em conta as declarações de Trump, pode antecipar-se que a Parceria Transpacífico (TTP) pereça e que Washington altere o padrão de relacionamento com organizações multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Pressagiam-se tempos de confrontação também com o México, com Trump a insistir na construção de um muro que os mexicanos irão pagar "de uma maneira, ou de outra".
A segurança global, que tem nos EUA o principal garante, está também em risco de mutação. Desde logo porque Trump, ao invés da não-proliferação nuclear seguida nos últimos anos, sugere que países como o Japão e a Coreia detenham este tipo de armamento para fazer frente às ameaças chinesa e norte-coreana. Outro pilar ameaçado é a NATO. Trump já avisou que não cumprirá a cláusula de defesa mútua se em causa estiverem membros da Aliança Atlântica que não cumpram as suas obrigações financeiras para com a instituição. Há ainda a possível ruptura no relacionamento de Trump com a Europa e a União Europeia. Ainda agora, a chanceler alemã, Angela Merkel, alertou Trump para não interferir nas políticas europeias, isto depois de o novo residente da Casa Branca ter criticado a política alemã de abertura aos refugiados.
O populismo que caracteriza Trump encontra eco na Europa, onde forças populistas ganham força. A proximidade demonstrada pelo americano em relação a partidos como o UKIP de Nigel Farage é disso exemplo. No entender de Trump, o Brexit foi o melhor que podia ter acontecido a uma UE que encara com desconfiança.
Vive-se uma época de erosão da ordem internacional que vingou depois da Guerra Fria. O mundo unipolar está a ser substituído por um multilateralismo pós-ocidental. E a chegada de Trump ao poder pode acelerar este processo, agravando a desordem internacional vigente. A começar pela eventual reversão do acordo sobre o programa nuclear do Irão, que permitiu normalizar as relações de uma das principais potências do Médio Oriente com a comunidade internacional. Nesta região, a proximidade de Trump face ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, contraria a resolução contra os colonatos que os EUA deixaram aprovar na ONU.
No meio deste desalinhamento, e depois de anos de relações bilaterais conturbadas, antecipa-se um alinhar de interesses no eixo Washington-Moscovo. Além da aparente proximidade em relação ao Presidente russo, Vladimir Putin, Trump quer deixar via aberta para a Rússia intervir na Síria e levantar as sanções aplicadas por Washington a Moscovo na sequência das acções russas na Ucrânia.
Na audição de confirmação no Senado, o novo chefe da diplomacia americana, o pró-russo Rex Tillerson, afirmou que "a liderança da América tem de ser reafirmada". Porém, tudo aponta em sentido contrário. É que Trump considera que a América é vítima, e não beneficiária, do papel assumido de liderança mundial.
Sob o lema "América primeiro", com que o 45.º Presidente dos EUA promete tornar a "América grande outra vez", Trump instala uma nebulosa sobre o papel do país no mundo. Um olhar para dentro que contraria o globalismo consagrado por todos os Presidentes americanos do último meio século.
Estas declarações de Xi têm um contexto: Trump ameaça romper os acordos comerciais e iniciar uma guerra aduaneira e cambial com Pequim. E boicotar o Acordo de Paris, já que o magnata nova-iorquino é um céptico das alterações climáticas, que considera serem uma invenção da China. Tendo em conta as declarações de Trump, pode antecipar-se que a Parceria Transpacífico (TTP) pereça e que Washington altere o padrão de relacionamento com organizações multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Pressagiam-se tempos de confrontação também com o México, com Trump a insistir na construção de um muro que os mexicanos irão pagar "de uma maneira, ou de outra".
A segurança global, que tem nos EUA o principal garante, está também em risco de mutação. Desde logo porque Trump, ao invés da não-proliferação nuclear seguida nos últimos anos, sugere que países como o Japão e a Coreia detenham este tipo de armamento para fazer frente às ameaças chinesa e norte-coreana. Outro pilar ameaçado é a NATO. Trump já avisou que não cumprirá a cláusula de defesa mútua se em causa estiverem membros da Aliança Atlântica que não cumpram as suas obrigações financeiras para com a instituição. Há ainda a possível ruptura no relacionamento de Trump com a Europa e a União Europeia. Ainda agora, a chanceler alemã, Angela Merkel, alertou Trump para não interferir nas políticas europeias, isto depois de o novo residente da Casa Branca ter criticado a política alemã de abertura aos refugiados.
O populismo que caracteriza Trump encontra eco na Europa, onde forças populistas ganham força. A proximidade demonstrada pelo americano em relação a partidos como o UKIP de Nigel Farage é disso exemplo. No entender de Trump, o Brexit foi o melhor que podia ter acontecido a uma UE que encara com desconfiança.
Vive-se uma época de erosão da ordem internacional que vingou depois da Guerra Fria. O mundo unipolar está a ser substituído por um multilateralismo pós-ocidental. E a chegada de Trump ao poder pode acelerar este processo, agravando a desordem internacional vigente. A começar pela eventual reversão do acordo sobre o programa nuclear do Irão, que permitiu normalizar as relações de uma das principais potências do Médio Oriente com a comunidade internacional. Nesta região, a proximidade de Trump face ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, contraria a resolução contra os colonatos que os EUA deixaram aprovar na ONU.
No meio deste desalinhamento, e depois de anos de relações bilaterais conturbadas, antecipa-se um alinhar de interesses no eixo Washington-Moscovo. Além da aparente proximidade em relação ao Presidente russo, Vladimir Putin, Trump quer deixar via aberta para a Rússia intervir na Síria e levantar as sanções aplicadas por Washington a Moscovo na sequência das acções russas na Ucrânia.
Na audição de confirmação no Senado, o novo chefe da diplomacia americana, o pró-russo Rex Tillerson, afirmou que "a liderança da América tem de ser reafirmada". Porém, tudo aponta em sentido contrário. É que Trump considera que a América é vítima, e não beneficiária, do papel assumido de liderança mundial.