Notícia
Camadas de passados por concretizar
Um desfile de recordações numa relação que teima em não se definir. Levi Martins olha-as como camadas de ilusão. Falta o tempo para pensar, para criar. Em qualquer margem do Tejo.
Tentativas para Matar o Amor
Escrita por Marta Figueiredo, a peça vencedora, em 2015, do Grande Prémio de Teatro Português da Sociedade Portuguesa de Autores e Teatro Aberto chega agora ao palco. Com encenação de Levi Martins e Maria Mascarenhas.
"Gosto da ideia de desilusão. No sentido de tirar camadas de ilusão à forma como vivemos o real". Levi Martins, encenador, vê no teatro o local privilegiado para esse confronto. "Faz-nos perceber como estamos a viver".
Multiplicam-se os ecrãs. Com eles, as recordações, memórias e pensamentos das personagens de "Tentativas para matar o amor", em cena no Teatro Aberto, em Lisboa, a partir desta sexta-feira, 3 de Março.
No centro de tudo, uma relação que não se define, mesmo que os anos passem. Retrato de uma sociedade onde é mais importante produzir do que sentir. "Parece ser um bocadinho impossível sair de certas grelhas de comportamento. O amor transcende todas as regras da economia ou da política. É uma força que não se coaduna bem com a sociedade em que vivemos".
Os pensamentos que tomam conta do palco são facilmente reconhecíveis por quem assiste. O quotidiano espelhado no beijo que fica por dar porque não se pode perder o comboio, nas discussões sobre o preço das rendas ou sobre o empréstimo pedido ao banco.
Não se procura um juízo na forma como a história é contada. "É mais constatar uma tendência. Não sentimos que nos devamos posicionar nem a favor nem contra. Com os nossos espectáculos, queremos devolver ao espectador um bocadinho aquilo que ele próprio vive". E deixá-lo tomar a decisão, reflectir.
"Tentativas para matar o amor" - premiado com o Grande Prémio de Teatro Português da Sociedade Portuguesa de Autores e Teatro Aberto - foi um passo natural para a Companhia Mascarenhas-Martins.
"Batia muito certo com o que estávamos a trabalhar. Sempre fizemos textos nossos ou adaptámos. Nunca fizemos reportório e gostávamos de continuar a trabalhar nesta ideia de textos de hoje, de preferência originais, que falem do quotidiano, das nossas preocupações, não indo para histórias exemplares ou paralelas à realidade".
Levi Martins crê que há talento e disponibilidade de autores lusos em escrever para teatro, inclusive na hora de transformar o texto em espectáculo, de encará-lo como ponto de partida para algo maior. Primeiro, é preciso trabalhar uma consciência nacional.
"Ainda persiste a ideia de que não temos muito orgulho nas coisas que são nossas, porque não se criou esse hábito de expor e de trabalhar a exposição do nosso ponto de vista. É como se houvesse um receio do julgamento dos outros. Sentimos sempre um bocadinho de vergonha. Temos é de ultrapassar isso e ter até a coragem de falhar".
Tentar, falhar, voltar a tentar, conseguir. Seja em que lugar for. A Companhia Mascarenhas-Martins tem a sua base no Montijo, "terra muito curiosa, numa espécie de impasse". Os planos para o novo aeroporto deixam tudo em aberto. "Tanto pode transformar-se num subúrbio horroroso, porque as pessoas aterram e vêm logo para Lisboa, como pode ser uma oportunidade de se transformar numa cidade muito dinâmica e culturalmente importante".
Levi Martins promete meter mãos à obra para que o segundo cenário seja uma realidade. "É até interessante estar fora dos circuitos [tradicionais] porque há uma margem de grande progressão, muita coisa por fazer".
Por agora, em ano de primeiro aniversário, a companhia cruza o Tejo para uma temporada no Teatro Aberto. O encenador diz sentir a diferença de condições entre o Montijo, onde tudo é "muito artesanal", e a capital. "Mesmo aqui, nestas condições confortáveis, não chega".
Entre as rotinas e os objectivos, passam os ponteiros do relógio. Falta o tempo. Tempo para quê? "Gostava de ter tempo e espaço para criar permanentemente, com a equipa que temos. Mais tempo para fazer teatro e arte em Portugal, com condições profissionais e algum conforto, para as pessoas não sentirem que estão sempre muito aflitas".
Escrita por Marta Figueiredo, a peça vencedora, em 2015, do Grande Prémio de Teatro Português da Sociedade Portuguesa de Autores e Teatro Aberto chega agora ao palco. Com encenação de Levi Martins e Maria Mascarenhas.
"Gosto da ideia de desilusão. No sentido de tirar camadas de ilusão à forma como vivemos o real". Levi Martins, encenador, vê no teatro o local privilegiado para esse confronto. "Faz-nos perceber como estamos a viver".
No centro de tudo, uma relação que não se define, mesmo que os anos passem. Retrato de uma sociedade onde é mais importante produzir do que sentir. "Parece ser um bocadinho impossível sair de certas grelhas de comportamento. O amor transcende todas as regras da economia ou da política. É uma força que não se coaduna bem com a sociedade em que vivemos".
Os pensamentos que tomam conta do palco são facilmente reconhecíveis por quem assiste. O quotidiano espelhado no beijo que fica por dar porque não se pode perder o comboio, nas discussões sobre o preço das rendas ou sobre o empréstimo pedido ao banco.
Não se procura um juízo na forma como a história é contada. "É mais constatar uma tendência. Não sentimos que nos devamos posicionar nem a favor nem contra. Com os nossos espectáculos, queremos devolver ao espectador um bocadinho aquilo que ele próprio vive". E deixá-lo tomar a decisão, reflectir.
"Tentativas para matar o amor" - premiado com o Grande Prémio de Teatro Português da Sociedade Portuguesa de Autores e Teatro Aberto - foi um passo natural para a Companhia Mascarenhas-Martins.
"Batia muito certo com o que estávamos a trabalhar. Sempre fizemos textos nossos ou adaptámos. Nunca fizemos reportório e gostávamos de continuar a trabalhar nesta ideia de textos de hoje, de preferência originais, que falem do quotidiano, das nossas preocupações, não indo para histórias exemplares ou paralelas à realidade".
Levi Martins crê que há talento e disponibilidade de autores lusos em escrever para teatro, inclusive na hora de transformar o texto em espectáculo, de encará-lo como ponto de partida para algo maior. Primeiro, é preciso trabalhar uma consciência nacional.
"Ainda persiste a ideia de que não temos muito orgulho nas coisas que são nossas, porque não se criou esse hábito de expor e de trabalhar a exposição do nosso ponto de vista. É como se houvesse um receio do julgamento dos outros. Sentimos sempre um bocadinho de vergonha. Temos é de ultrapassar isso e ter até a coragem de falhar".
Tentar, falhar, voltar a tentar, conseguir. Seja em que lugar for. A Companhia Mascarenhas-Martins tem a sua base no Montijo, "terra muito curiosa, numa espécie de impasse". Os planos para o novo aeroporto deixam tudo em aberto. "Tanto pode transformar-se num subúrbio horroroso, porque as pessoas aterram e vêm logo para Lisboa, como pode ser uma oportunidade de se transformar numa cidade muito dinâmica e culturalmente importante".
Levi Martins promete meter mãos à obra para que o segundo cenário seja uma realidade. "É até interessante estar fora dos circuitos [tradicionais] porque há uma margem de grande progressão, muita coisa por fazer".
Por agora, em ano de primeiro aniversário, a companhia cruza o Tejo para uma temporada no Teatro Aberto. O encenador diz sentir a diferença de condições entre o Montijo, onde tudo é "muito artesanal", e a capital. "Mesmo aqui, nestas condições confortáveis, não chega".
Entre as rotinas e os objectivos, passam os ponteiros do relógio. Falta o tempo. Tempo para quê? "Gostava de ter tempo e espaço para criar permanentemente, com a equipa que temos. Mais tempo para fazer teatro e arte em Portugal, com condições profissionais e algum conforto, para as pessoas não sentirem que estão sempre muito aflitas".