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O preço das emissões de dióxido de carbono (CO2) no Sistema de Comércio de Emissões (ETS, sigla em inglês) atingiu, pela primeira vez, os 100€ por tonelada. Um recorde no mercado europeu que deverá continuar a ser batido. "A tendência do preço é para aumentar, porque o mercado antecipa que irá existir um cenário de transição desordeira, onde por volta de 2030 o imposto sobre o carbono possa chegar aos 150/200 euros", explica Sofia Santos, CEO da Systemic, ao Negócios.
O recorde, atingido nesta terça-feira, reflete a recuperação da atividade industrial e o consequente aumento dos custos que fábricas e centrais de energia pagam quando poluem, na lógica do ETS que consagra o princípio do "poluidor-pagador".
O sistema obriga fabricantes, empresas de energia e companhias aéreas a pagar por cada tonelada de dióxido de carbono que emitem como parte dos esforços da União Europeia (UE) para cumprir as suas metas climáticas.
Este aumento de preço, para além de aumentar os custos das empresas que emitem mais CO2 do que as licenças que têm, pode ter outras consequências no mercado. Nomeadamente, "aumentar o investimento em inovação e na compra de equipamento, pois com estes preços por tonelada de carbono começa a fazer sentido investir em tecnologia para baixar as emissões de CO2", salienta Sofia Santos. Mas também pode "aumentar os pedidos de empréstimos aos bancos para a aquisição destas tecnologias que vão contribuir para aumentar o transition asset ratio dos bancos no presente, e para aumentar o green asset ratio dos bancos no futuro", acrescenta.
Quanto mais os emissores tiverem que pagar pelas licenças de carbono para cobrir cada tonelada de C02 que produzem, maior será o incentivo para investir em tecnologias de baixo carbono e mudar para combustíveis menos poluentes, destaca, por sua vez, Carolina Silva, responsável de projeto na ZERO. "Quanto mais caro for o preço do carbono, maior será o incentivo para descarbonizar e, como tal, este aumento do preço do carbono é realmente importante para enviar os sinais de investimento necessários para alavancar a transição energética". Considera, inclusive, que "100€/t é um valor significativo, mas não se aproxima dos reais custos sociais da poluição por CO2", o que equivale a cerca de 173€.
O ETS está no centro da política climática europeia para alcançar o objetivo da neutralidade climática da UE. Ao atribuir um preço às emissões de gases com efeito de estufa (GEE), o ETS desencadeou reduções significativas nas emissões da UE, uma vez que as indústrias têm um incentivo para reduzir as suas emissões e investir em tecnologias amigas do clima.
Para a responsável da associação ambientalista, "com menos licenças disponíveis, o preço do carbono deverá manter-se elevado, criando um incentivo para a canalização de investimentos em tecnologias mais verdes. Contudo, ainda é prematuro prever se o preço do carbono continuará a aumentar para além ou mesmo manter-se dentro do marco histórico dos 100€ por tonelada". Carolina Silva refere ainda que "esta é uma questão com elevada sensibilidade política, especialmente em países cuja produção elétrica ainda está muito dependente dos combustíveis fósseis. Há, por isso, ainda muita pressão para colocar um limite aos preços do carbono para evitar prejudicar a recuperação económica da UE".
Recorde-se que, em dezembro passado, os estados-membros da União Europeia acordaram reformular o mercado de carbono, estipulando uma redução de 62% das emissões dos setores abrangidos até 2030 (antes era 43%), em comparação com os valores de 2005. Para se conseguir um ETS "mais ambicioso", foi decidido que as licenças gratuitas para as indústrias serão gradualmente eliminadas a partir de 2026 e desaparecerão até 2034.