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Emissões devem reduzir para metade até 2030 para limitar aquecimento a 1,5°C

O "relatório de relatórios" do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas sintetiza as opções “urgentes” que o mundo tem de tomar para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Guterres propõe ao G20 um Pacto de Solidariedade Climática.

21 de Março de 2023 às 08:56
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Manter o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais requer reduções profundas, rápidas e sustentadas das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em todos os setores. As emissões terão de ser reduzidas em quase metade até 2030, para que o aquecimento seja limitado a 1,5°C. E para isso existem múltiplas opções viáveis e eficazes, disseram os cientistas no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC), divulgado nesta segunda-feira.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, descreveu o relatório como um "guia de como desativar a bomba de tempo climática", acrescentando que a ação climática é necessária em todas as frentes: "Tudo, em todo o lado, tudo ao mesmo tempo".

O relatório integra e resume as conclusões dos seis relatórios divulgados pelo IPCC durante o atual ciclo de avaliação, que teve início em 2015. Em 2018, o IPCC destacou a escala "sem precedentes" do desafio necessário para manter o aquecimento a 1,5°C. Cinco anos mais tarde, esse desafio tornou-se ainda maior devido ao aumento contínuo das emissões de GEE. O ritmo e a escala do que foi feito até agora, e os planos atuais, são insuficientes para enfrentar as alterações climáticas, concluem os cientistas.

"A integração de uma ação climática eficaz e equitativa não só reduzirá as perdas e danos para a natureza e as pessoas, como também proporcionará benefícios mais amplos", disse Hoesung Lee, presidente do IPCC. "Este Relatório de Síntese sublinha a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos assegurar um futuro sustentável e habitável para todos".

No seguimento deste relatório, Guterres propôs ao grupo do G20 de economias altamente desenvolvidas um "Pacto de Solidariedade Climática", no qual todos os grandes emissores fariam esforços extra para reduzir as emissões, e os países mais ricos mobilizariam recursos financeiros e técnicos para apoiar as economias emergentes num esforço comum para assegurar que as temperaturas globais não subissem mais de 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais.

Guterres anunciou que está a apresentar um plano para impulsionar os esforços para alcançar o Pacto através de uma Agenda de Aceleração, que envolve líderes de países desenvolvidos que se comprometem a atingir a neutralidade carbónica o mais próximo possível de 2040 e nos países em desenvolvimento o mais próximo possível de 2050.

Olhando para a próxima conferência das Nações Unidas sobre o clima, a realizar no Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro, Guterres disse que espera que todos os líderes do G20 se comprometam com contribuições ambiciosas a nível nacional para a nova economia, abrangendo todos os gases com efeito de estufa e indicando as suas metas de redução absoluta de emissões para 2035 e 2040.

O relatório agora apresentado refere que ondas de calor e chuvas mais intensas e outros eventos extremos climáticos aumentam ainda mais os riscos para a saúde humana e os ecossistemas. Em todas as regiões, as pessoas estão a morrer devido ao calor extremo. Prevê-se que a insegurança alimentar e hídrica, impulsionada pelo clima, aumente com o aumento do aquecimento.

O relatório traz para o centro das atenções as perdas e danos que atingem sobretudo pessoas e ecossistemas mais vulneráveis. "A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para as alterações climáticas estão a ser desproporcionadamente afetados", disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório de Síntese. "Quase metade da população mundial vive em regiões altamente vulneráveis às alterações climáticas". Na última década, as mortes por inundações, secas e tempestades foram 15 vezes mais elevadas em regiões altamente vulneráveis", acrescentou.

Os cientistas sustentam que, nesta década, uma ação acelerada de adaptação às alterações climáticas é essencial para colmatar o fosso entre a adaptação existente e o que é necessário. Isto envolve a integração de medidas de adaptação às alterações climáticas com ações para reduzir ou evitar as emissões de gases com efeito de estufa de forma a proporcionar benefícios mais amplos.

Alterações no setor alimentar, eletricidade, transportes, indústria, edifícios e uso do solo podem reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Ao mesmo tempo, podem facilitar às pessoas a adoção de estilos de vida com baixo teor de carbono, o que também irá melhorar a saúde e o bem-estar, indica também o relatório.

Como reação ao relatório, a ZERO considera que é essencial vontade política. "Há uma razão pela qual se fala sobre um aumento máximo da temperatura de 1,5° Celsius. Não é um desejo, nem uma palavra da moda... é um alvo de sobrevivência científica. Por mais dramática que seja, a equação é bastante direta: conhecemos os problemas e as soluções, resta a vontade política", referiu Francisco Ferreira, presidente da ZERO.

No caso de Portugal, a associação ambientalista considera que o país deve fazer uma melhor gestão da procura de energia, "com destaque para as medidas que proporcionem efetivamente uma redução nas emissões no transporte rodoviário individual, edifícios mais confortáveis e eficientes e investimentos em fontes de energia renovável aplicados de forma sustentável".

Considera que a aposta "não pode passar por falsas soluções, como um uso ineficiente de hidrogénio verde como alternativa ao uso de eletricidade renovável ou de investimentos que dão prioridade a soluções tecnológicas que nos distraem dos objetivos de mitigação das emissões, como a captura e armazenamento de carbono (CCS), a remoção tecnológica de dióxido de carbono (CDR), ou a compensação de emissões evitáveis".

 

 

 

 

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