Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

Bruxelas também quer virar a página da austeridade

Não é fácil dizer que se vira a página da austeridade ao mesmo tempo que se obtém um dos maiores excedentes primários da Zona Euro. Fazê-lo com a economia e o emprego a crescer parece até uma manifestação da famosa "consolidação orçamental amiga do crescimento". Com este desempenho Centeno ainda acaba no Eurogrupo.

Os portugueses habituaram-se a esperar algum tempo até que as tendências importadas se instalem, mas desta vez podemos estar a assistir ao fenómeno inverso: falo da sedutora ideia de "virar" a página da austeridade, que António Costa e Mário Centeno inventaram em Lisboa, e pode estar a caminho de Bruxelas.

É isso pelo menos que parecem indicar as recentes avaliações da Comissão Europeia sobre Portugal. O primeiro sinal chegou no
 documento que esta semana propôs as recomendações de política para o próximo ano e que, na dimensão orçamental, não explicita qualquer número ou meta de défice, mas sublinha que a política orçamental deve apoiar a recuperação em curso:

[Portugal deve] garantir a sustentabilidade da correção dos défices excessivos. Prosseguir a sua política orçamental em linha com os requisitos da vertente preventiva do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que se traduz num esforço orçamental significativo para 2018. Ao adoptar medidas políticas, ter em conta a necessidade de garantir uma orientação orçamental que apoie a recuperação em curso, garantindo simultaneamente a sustentabilidade das finanças públicas portuguesas. 

Os governos da UE ainda terão de confirmar esta formulação, mas fica desde já a posição da Comissão – de resto também presente nas recomendações para outros países – que foi reforçada um dia depois na 
avaliação técnica que fez ao Programa de Estabilidade, e na qual se lê:

"A Comissão nota que, nas suas futuras avaliações, está preparada para usar a sua margem de apreciação em casos onde o impacto de ajustamentos orçamentais significativos no emprego e no crescimento seja particularmente significativo. Nesse contexto, fará uso de toda a informação actualizada sobre a posição projectada no ciclo económico de cada Estado-membro (…)".

Com esta passagem, Bruxelas reclama para si o poder de discricionariedade na interpretação das regras europeias para não aplicar austeridade a mais. E ao destacar nesse contexto a importância de levar em conta toda a afirmação sobre "o momento no ciclo económico" dos países, parece aproximar-se dos que têm criticado a metodologia europeia de avaliação da redução do défice estrutural por forçar austeridade a mais – 
como fizeram recentemente Mário Centeno e os seus homólogos espanhol, italiano e francês.


Aos dois sinais de maior flexibilidade na frente orçamental para Portugal, juntaram-se nos últimos dias manifestações de reconhecimento de políticos europeus pela habilidade de Costa e Centeno. De facto, não é fácil dizer que se vira a página da austeridade ao mesmo tempo que se reduz o défice, e se obtém um dos maiores excedentes primários da Zona Euro. Fazê-lo com a economia e o emprego a crescer parece até uma manifestação da famosa "consolidação orçamental amiga do crescimento" tão apreciada nas lides europeias. 

Com este desempenho Centeno ainda acaba no Eurogrupo.

Ver comentários
Saber mais Centeno austeridade
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio