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Algum bom senso em Bruxelas: mais vale tarde que nunca

Marco Buti, o economista-chefe da Comissão, partilhou há poucos dias a sua análise sobre o momento da Zona Euro. Uma das conclusões que se pode tirar do texto é que algum bom senso e razoabilidade está felizmente a dominar as análises de Bruxelas, o que pode ajudar a melhores políticas em Portugal.

A poucos dias de serem conhecidas as novas recomendações de políticas para Portugal e a proposta da Comissão Europeia quanto à saída do Procedimento dos Défices Excessivos, Marco Buti, o economista-chefe da Direcção-geral de Assuntos Económicos e Financeiros da Comissão, e dois outros economistas da sua equipa, partilharam a sua leitura sobre o momento económico europeu. Num artigo que vale a pena ler avisam que a recuperação da Zona Euro ainda não é sustentada, pois falta-lhe investimento e um maior contributo da procura interna da região.

Face ao diagnóstico, consideram urgente manter estímulos monetários e orçamentais (e aumentá-los onde possível), adoptar reformas que aumentem a produtividade, focadas em particular no aumento de eficiência e concorrência, e acelerar a limpeza e recuperação do sistema bancário.

Da leitura do texto podemos tirar pelo menos quatro conclusões importantes para Portugal.

A primeira é de que algum bom senso e razoabilidade está felizmente a dominar as análises de Bruxelas, o que pode ajudar a melhores políticas em Portugal – nomeadamente evitando reduções de défice excessivas, e estimulando reformas focadas em ganhos de produtividade e eficiência.

A segunda é a de que a consistência argumentativa dos economistas de Bruxelas parece flutuar ao sabor da orientação política da cúpula da Comissão, no que pode ser interpretado como um esforço de legitimação das prioridades políticas – não é nada de muito surpreendente, mas convém ter presente quando se fazem análises sobre o que se passa na Europa e em Portugal.

Em terceiro lugar, somos levados a concluir que se a Europa – em particular na liderança de Durão Barroso na Comissão Europeia e Pedro Passos Coelho em Portugal – tivesse optado por seguir mais a racionalidade económica e as lições históricas das grandes crises financeiras, e menos as restrições políticas impostas pelo Norte da Europa estaríamos hoje em melhor situação económica, financeira e social.

E, finalmente, o artigo suporta análises que defendem que não há margem para entusiamo sobre os recentes resultados económicos em Portugal, como escrevi aqui recentemente.

Pelo menos desde 2014, quando escrevi "Os 10 erros da troika em Portugal", que defendo que a estratégia europeia de ataque à crise errou ao impor austeridade a mais, em Portugal e na Zona Euro, acentuando tendências deflacionistas; errou ao dar prioridade às reformas liberalizadoras do mercado de trabalho em detrimento da defesa da eficiência e da concorrência nas economias; e errou ao desvalorizar os problemas no sistema financeiro, que ficariam a travar a retoma, o investimento e logo a criação de emprego nos anos seguintes. Aos poucos essa parece ser também cada vez mais a posição implícita nas análises de Bruxelas. Mas vale tarde do que nunca.
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