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27 de Janeiro de 2017 às 00:01

A porteira da Euronext

Em circunstâncias normais, o lugar de presidente da bolsa portuguesa deveria ser apetecível. Mas na verdade não é assim tanto, e devíamos reflectir sobre a razão para esse fenómeno.

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O salário certamente não será mau, é um cargo com visibilidade e a tarefa é estimulante: desenvolver o enfraquecido mercado de capitais em Portugal, decisivo para o país. Acontece que a actual presidente não hesitou em sair à primeira oportunidade - para integrar a equipa de Paulo Macedo na Caixa - e o grupo está a revelar dificuldades em atrair nomes de topo para preencher a vaga.

A questão não é acerca das pessoas, embora estas influam, sobretudo ao nível da liderança, no ritmo e na postura de cada instituição. Mais importante é perceber porque é que uma função teoricamente tão apetecível, afinal, não o é. E a resposta terá principalmente a ver com aquilo que o grupo pan-europeu espera (ou não) da sua actividade em Portugal.

O nosso país até ganhou recentemente um peso mais relevante dentro da estrutura do grupo, por via da instalação, no Porto, da sensível unidade de tecnologias de informação que até agora estava em Belfast. Os primeiros passos desta unidade têm sido, aliás, um sucesso, até pela qualificação elevada dos engenheiros portugueses. Este projecto é bom para Portugal, é bom para o Porto, e é bom para o grupo Euronext. Já se percebeu uma das coisas que Portugal pode dar ao grupo, sendo altura de perguntar o que pode, ou melhor, o que quer o grupo Euronext fazer pelo mercado português.

Entre os vários putativos candidatos a substituir Maria João Carioca há uma versão que se destaca das conversas que foram tendo: a falta de ambição para o desenvolvimento do mercado nacional. Neste momento, Portugal vale mais pelo centro de tecnologias - que serve muito bem o grupo - do que pelo nível de desenvolvimento da nossa bolsa. E o diagnóstico está feito: a liquidez anda pelas ruas da amargura; o número de cotadas é, hoje, bem menos de metade do que era em 2000; a capitalização bolsista sobre o PIB passou de 55 para perto de 30%; e há vários anos que não temos um IPO relevante a tocar o sino em Lisboa. Perante este panorama, seria de esperar que um choque anímico fosse a prioridade máxima. Mas não é.

O que o grupo Euronext pede ao próximo presidente da bolsa é que acompanhe bem, a nível técnico, o centro de tecnologia do Porto. Quanto ao resto? Bem, reconhece-se que as coisas não estão famosas, mas ficam para o médio e
longo prazo.

Não nos podemos dar a esse luxo.

Maria João Carioca, no pouco tempo em que esteve à frente da bolsa, fez um trabalho importante que pode vir a dar frutos, graças ao seu dinamismo. E há mudanças legislativas em estudo, pela Unidade de Missão para a Capitalização das Empresas. Mas é preciso que Paris deixe de olhar para Lisboa como a porteira do luxuoso prédio onde vive, que dá muito jeito mas que não precisa de ter vida própria.
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