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24 de Janeiro de 2017 às 00:01

A Marcelfie política

Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito há um ano, e dificilmente o balanço poderia ser mais positivo. Mas há perigos no caminho escolhido, e só o futuro nos poderá dizer da justeza do que tem sido trilhado.

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Os seus índices de popularidade não dão sinal de fadiga, contrariando o adágio de "tudo o que é demais enjoa". Marcelo não pára, Marcelo nem sequer abranda. Está em todo o lado, em todos os momentos, todos os dias. Todos abraça, todos beija, a todos fala, com aquele seu à-vontade que cria empatia sem limites. Isto é um capital, não é um problema. Depois de mais de uma década da sua antítese, o institucionalista e tímido Cavaco Silva, o país precisava de um Marcelo.

Aquilo que alguns consideram a banalização da presença do Presidente eu vejo como um ponto positivo, num sistema tão fechado e que ganhou o vício de funcionar à roda de si mesmo. O problema não está na personalidade, arejada e aberta ao mundo. Está mesmo na política.

A curta entrevista à SIC, deste fim de semana, é ilustrativa da forma como o Presidente vê e convive com o Governo. Dir-se-ia que são o mesmo, um só. Dá a sensação de que secretamente Marcelo dá a orientação geral, Costa executa, e depois Marcelo aparece a bater palmas, como se não tivesse nada a ver com a "decisão" do Governo. É uma colaboração estratégica como poucas vezes se terá visto.

Ninguém pede ao Presidente que faça parte das famosas "forças de bloqueio" ao Governo. Mais, a postura amigável e entusiasta de Marcelo foi e continua a ser útil ao País, interna e externamente. Mas o Presidente deve dosear o seu mel por António Costa, o optimista irritante que, na verdade, tem tido em Belém o principal incentivador. O que se diria se, na Presidência, não estivesse o actual inquilino mas Maria de Belém ou Sampaio da Nóvoa, com toda esta bonomia para com Costa? Pois…

Se não deve ser oposição, também não deve exceder o que é a sã convivência. Não deve servir de amplificador aos receios sobre as finanças do País, mas deve perceber que esses receios podem, até certo ponto, ser úteis para que Costa e Centeno possam inverter um rumo que em muitos pontos traz mais dívida, mais despesa fixa e menos competitividade económica.

Não precisamos de um Presidente que passe a vida a criticar o Governo, mas também não precisamos de uma máquina de elogios, sobre um Executivo cujo balanço não pode ainda ser feito. E, sobretudo, não precisamos de um Presidente que se dê ao luxo de escolher o momento em que a oposição possa eventualmente mudar de liderança.

O problema não é Marcelo tirar selfies com os portugueses todos. É querer aparecer sempre na fotografia do Governo, quando uma maior equidistância o ajudaria em tempos difíceis que ainda podem aparecer.
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