Opinião
Um Presidente, três questões
Simpatizo, porque Jacques Chirac antipatiza. Apoio, porque todos o atacam. Mas a verdade é que nem a figura suscita grandes simpatias, nem é fácil apoiar quem passou um ano a revezar-se entre o azar e a incapacidade, entre a aselhice e a fatalidade.
José Manuel Durão Barroso é um homem só em Bruxelas. Não constitui qualquer novidade. Já era um homem só em Lisboa. Um general sem soldados? Pior. Um homem sem amigos. Também não constitui uma discussão politicamente relevante.
Embora seja esta a característica que, como político, e lá como cá, o projecta para o deserto, que atravessa em solidão, que sobrevive e, quando menos se espera, que sobe o monte e atinge o topo.
Durão Barroso chegou ao topo faz hoje um ano. E, nestes primeiros doze meses de mandato, três questões importantes podem ser ponderadas.
Uma: terá o presidente da Comissão Europeia conseguido afirmar a sua liderança? Duas: terá a capacidade de ainda o fazer? E, por fim, a terceira: o que está a ganhar Portugal com a sua «exportação»?
Bem sabemos que um ano é curto para balanços definitivos. Basta, aliás, ver o que aconteceu à imprensa europeia mais circunspecta. Como o «Financial Times», que deixou o deslumbramento inicial para agora o catalogar de actor principal de «um espectáculo horroroso».
Mas, num ano, em especial no último ano, dá para dizer que oportunidades não faltaram para o Presidente Barroso provar que era realmente ele o líder por quem a Europa suspira desde Delors.
A Constituição fracassada em referendos. A frustração do Orçamento que não se fecha e muito menos se aprova. A fracassada tentativa de abanar uma Europa gorda e imóvel, com a directiva de serviços boicotada pelo Eliseu.
É verdade que a culpa não lhe pertence nesta enxurrada de fracassos, frustrações e falhanços. Mas não é essa a discussão.
A questão está em saber se, no meio desta desgraça europeia, não deve o almirante – ou o piloto do Boeing – afirmar a sua voz de comando. Saber se um líder espera pelo acontecimento seguinte ou se é ele capaz de criar o acontecimento mais inesperado.
E a voz de Barroso não se ouviu. Um ano tão agitado e o que se viu foi Barroso a reboque da situação. O que nos remete para a segunda questão: consegue, no tempo que falta, e muito tempo ainda lhe resta, o líder europeu fazer uma «guinada», inverter o jogo a seu favor?
Evidentemente que, para esclarecer esta dúvida, temos de recorrer à sua experiência de primeiro-ministro de Portugal. É um pouco cruel, mas é inevitável.
Durão Barroso, chefe de Governo português, teve um arranque tão promissor como José Barroso, presidente da Comissão Europeia. Depois murchou. Foi «certinho». Nem cometeu crimes de lesa-pátria, nem deslumbrou. Ou seja, não esteve à altura dos desafios – e isso podemos afirmar com certeza.
O que, por fim, nos coloca na derradeira questão: o país beneficiou? Sim, porque não perdeu um grande Governo. Não, se Barroso continuar a presidir a Europa como governou Portugal.