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Sim, senhor engenheiro

O que menos impressiona na despedida da administração da EDP é a extensão do número da primeira página do jornal de hoje. Mais de mil milhões de euros. Nunca uma empresa cotada havia lucrado tanto num só ano. Tratando-se de um mercado que funciona em quas

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Tratando-se de um mercado que funciona em quase-monopólio, pode dizer-se que os portugueses estão a pagar cara a electricidade que consomem. Pode, mas não se deve. Não, neste caso.

Esta leitura aos fabulosos lucros não seria apenas cínica, mas também errada. Por uma razão simples – mais de metade dos resultados nada têm a ver com a actividade propriamente dita da EDP.

Quatrocentos milhões é a mais-valia obtida com a venda da Galp. E cento e tal milhões devem-se a factores não-recorrentes em Espanha e ganhos cambiais no Brasil.

É precisamente por isso que os lucros-recorde do ano 2005 não são a boa medida da gestão Talone na EDP. Nem boa, nem justa. Seria injusto não reconhecer que o grupo EDP se transformou nos últimos anos. A empresa mudou tanto que quase se pode falar da EDP antes e depois de Talone.

O problema é que as concorrentes andaram muito mais depressa. O sector não ficou parado e sobretudo as eléctricas espanholas, ou seja as suas principais ameaças, realizaram reestruturações mais agressivas e mais profundas.

Na hora de saída, dificilmente Talone resistirá à tentação de se desculpar com Bruxelas, alegando que a EDP não está hoje melhor e mais forte porque o seu projecto foi chumbado. É humano que o faça. Mas é errado.

A coisa deve ser vista ao contrário. Ou seja, não tivesse a EDP ficado dois anos parada, à espera de um plano que nunca existiu, e provavelmente não apresentava hoje as vulnerabilidades que se lhe reconhecem.

Não há dúvida que Talone profissionalizou a gestão, recrutou quadros de qualidade e desenvolveu uma política que mobilizou recursos humanos e injectou ambição.

Toda a gente reconhece que, na internacionalização, arrumou aquela «bagunça» que reinava no Brasil e, em Espanha, enfrentou um filme de terror chamado Hidrocantábrico, embora a um preço demasiado elevado.

É um facto que a empresa racionalizou efectivos sem convulsões internas. E é indesmentível que, para fora, Talone reconciliou a EDP com o mercado de capitais e pacificou as relações, até então escaldantes, com o regulador.

Não é pouco. Mas, lá está, podia ser mais. Devia ter sido mais. O Grupo EDP é um grande consumidor de gás e nunca teve capacidade própria de abastecimento. Continua assim dependente.

Talone pensou que, tirando gás à Galp, a EDP ficava um grupo integrado. Um equívoco. Talone conquistou o controlo da Hidrocantábrico e pensou que a EDP ficava assim uma empresa ibérica. Outro equívoco.

A febre de OPA que varre o sector pela Europa torna mais visível a nossa fragilidade: nem um núcleo accionista sólido, nem um quadro de parcerias fiável. Não é famoso. Ainda assim, Mexia recebe uma EDP em muito melhor estado do que aquela que Talone encontrou.

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