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Perdidos... no mundo financeiro

Dois antiquários andaram durante uns tempos a vender uma pulseira um ao outro. Começaram por, digamos, 50 euros e já iam, nessas trocas entre eles, nos 500 euros. Até um dia que o que não a tinha nessa altura perguntou de novo: “Dou-te 550 euros pela puls

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Os antiquários não tiveram de fazer, com certeza, a contabilização de menos valias pelos ganhos não realizados. Mas esta e muitas outras estórias anedóticas ilustram bem o modelo de economia em que hoje vivemos e que, verdadeiramente, ninguém entende ainda bem.

A primeira crise do pós-segunda guerra mundial com origem no mundo capitalista ocidental, e iniciada já lá vão sete meses, é também a primeira crise que se pode apelidar como financeira. Todas as outras, desde as dos anos 80 na América do Sul, às da década de 90 no sudeste asiático e na Rússia foram os primeiros sintomas do que poderia ser uma grande crise nesta nova economia baseada na criação de valor financeiro.

A “grande Depressão” de 1929 pode ter sido a última crise de origem monetária. Quando aprendemos a lidar com ela a economia saltou para um novo patamar, o financeiro, que não sabemos como curar, dentro das regras, quando está doente.

A “política de experimentação” e de “salvação” de instituições não-bancárias que está a ser seguida pela Reserva Federal revela não só como se foi longe de mais na desregulamentação do sector financeiro como também mostra que os banqueiros centrais não sabem já como actuar. Certo é que já não conseguem – pelo menos nos Estados Unidos – cumprir as regras que anunciam.

De acordo com as regras, a Bear & Sterns não deveria ser “salva” pela Reserva Federal. Actua à margem do sector bancário e, um pouco à semelhança do britânico Northern Rock, endivida-se a curto prazo para conceder financiamentos a médio e longo prazo. Mas também não é a primeira vez que a Fed decide salvar quem faz questão em actuar no segmento desregulamentado do sector financeiro. Em 1998 salvou o Long Term Capital Management, um fundo que reunia poupanças privadas e endividamento fazendo aplicações de elevado risco.

O que se está a passar viola escandalosamente as regras de mercado, incentivando como nunca que o sistema financeiro corra elevados riscos porque será sempre salvo pelos governos, com dinheiro dos contribuintes. Como podemos, a partir de agora, criticar um Governo que tente salvar uma empresa por esta ser, por exemplo, o único empregador numa região desertificada e empobrecida? Ou até aquela família dos EUA que teve de largar a casa depois de lhe ter sido prometido “o sonho americano”?

É bastante desequilibrado este quadro de valores puramente financeiro. Vivemos num ambiente em que “uns são mais iguais que outros” quando chega a hora de salvar da morte empresas que actuaram irresponsavelmente. Um desequilíbrio que não afecta apenas o sector financeiro mas todas as grandes empresas de todos os outros sectores que hoje se gerem mais pela engenharia financeira que pela criação de valor. Um desequilíbrio potenciador de desigualdades graves geradas por estarmos perdidos... num mundo financeiro de ganhos virtuais. Como os lucros gerados pela pulseira dos antiquários.

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