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Pêquêpê... e logo se vê

Factos importantes aconteceram ontem em Portugal em matéria de privatizações. Uma raridade nos tempos que correm. Uma fartura dado o ritmo das privatizações até agora realizadas pelo Governo que temos. Na Portucel foi confirmada a vitória de Pedro Queiroz

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Factos importantes aconteceram ontem em Portugal em matéria de privatizações. Uma raridade nos tempos que correm.

Uma fartura dado o ritmo das privatizações até agora realizadas pelo Governo que temos.

Na Portucel foi confirmada a vitória de Pedro Queiroz Pereira.

Na Galp foi declarado o interesse dos quatro candidatos. Nada de surpreendente. Tudo bastante relevante.

Porque - e é isso que muito se espera - tratam-se de operações que vão alterar a forma como o Estado entra na economia e como interfere na vida das nossas principais empresas.

O Estado, enquanto accionista, fica pela primeira vez como sócio minoritário da Portucel. Bem sei que não significa tudo.

Basta ver o caso da EDP. Basta recordar a «golden share» na PT, que tem servido os fins mais ridículos.

Este é o problema na conversa sobre sectores estratégicos, sobre o superior interesse nacional e sobre os grandes desígnios empresariais que só os ministros se consideram à altura de lhes dar resposta.

É que se confunde tudo no mesmo plano: o interesse da empresa e dos accionistas, o interesse público, o interesse governamental, o interesse partidário e ainda o interesse do ministro.

Se, ainda por cima, existem clientes, entidades de regulação, princípios de concorrência por respeitar, então é uma complicação dos diabos.

É que o ministro - o actual, o anterior, o outro que o antecedeu, mais o próximo que um dia surgirá - age mesmo como se fosse o presidente de uma formidável «holding». Normalmente, para espatifar a lógica empresarial.

A superior defesa da pátria normalmente tudo justifica. A Portucel é o grupo mais importante no sector da pasta e do papel. Cresceu por aquisição da Soporcel e dos activos industriais da Inapa, tem um importante accionista privado lá dentro, embora minoritário e desavindo.

Entra agora a Semapa e um grupo que não tem ganho muita coisa dos Governos. É PQP, um ex-corredor de automóveis, um homem nascido e criado no anterior regime que, ao mesmo tempo, se comporta como um permanente «outsider» do sistema.

Não se conhece quase nada da sua proposta. Mas o Governo garante que era a melhor. Uma questão de crença. Não de transparência, como a senhora ministra quis ontem frisar.

A Galp é a única companhia nacional no sector do petróleo. Cresceu por incorporação de activos, o gás natural, que entretanto perdeu para a EDP e, atrás dele, viu fugir o parceiro italiano que entrara com o estatuto de insubstituível.

Acontece o mesmo neste caso. Sabe-se algo do consórcio Carlyle-BES, pouco da proposta do Grupo Mello, quase nada da Viacer e rigorosamente zero da CVC Partners.

Mas os palpites já saltam na praça pública. Para condicionar o que se passa nos bastidores.

O ministro garante que «qualquer vencedor trará valor acrescentado» à empresa. Mas só um candidato propõe dar uma vassourada na gestão.

Não pode ser este o critério. Até porque essa é a prerrogativa do accionista maioritário: o Estado.

Na Portucel, pêquêpê. Na Galp, logo se vê.

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