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09 de Outubro de 2007 às 13:59

Paz à sua alma

Vale a pena recordar como tudo começou. No início do ano, o ABN Amro, um dos maiores bancos europeus, foi o alvo de uma vaga de activismo accionista. O mais activo foi o fundo TCI (iniciais de The Children Investment Fund), liderado por Christopher Horn,

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Em Fevereiro, os accionistas do ABN aprovaram um conjunto de propostas do TCI, apesar da oposição da gestão do banco, contando para isso com o apoio de outros fundos.

Foi depois deste primeiro embate que os acontecimentos se precipitaram. Em Abril, foi anunciado o acordo entre o ABN e o Barclays para a criação do quinto maior banco do mundo, acompanhado da venda do banco La Salle, a principal operação dos holandeses nos Estados Unidos. Este negócio foi interpretado como uma “poison pill” contra uma operação concorrente que viria a ser efectivamente lançada pelo consórcio entre o Royal Bank of Scotland (RBS), o Santander e o Fortis. A venda do La Salle ao Bank of America deu origem a uma renhida disputa legal, que acabou a contento da gestão do ABN. Venceu uma batalha mas acabou por perder a guerra.

A associação com o Barclays, que já vinha a ser discutida pelo menos desde um ano antes da divulgação do acordo, foi a resposta da gestão do banco holandês às críticas crescentes por parte dos fundos de investimento. Que não se resignavam face ao desolador desempenho do título do banco.

A operação Barclays ABN, promovida pela gestão dos dois bancos, permitia criar um gigante da banca europeia e foi acarinhada pelas autoridades holandesas. Viam com agrado que a sede ficasse em Amesterdão e chegaram a manifestar intranquilidade face ao aparecimento da proposta rival cujo sucesso representaria o desmembramento do ABN, retalhado entre cada um dos compradores: a banca de investimento para o RBS, o retalho para o Fortis e as operações na América Latina e Itália para o Santander.

Percebe-se que o desfazer de um dos seus principais bancos em fatias só podia ser visto com maus olhos pelas autoridades holandeses. Mas, à mistura com os avisos à navegação por parte de Bruxelas, o processo nunca descarrilou para os caminhos que seguiu, por exemplo, com a oferta da E.On alemã sobre a Endesa.

À medida que o tempo passou, foi-se tornando claro que o Barclays ia perder porque a sua iniciativa concertada com o ABN tinha aberto a porta a uma oferta rival que os accionistas consideraram mais favorável.

E assim chega ao fim o ABN Amro, tal como até hoje o conhe-cemos. Na semana passada, o Barclays reconheceu formalmente a derrota, pois não conseguiu convencer os investidores a venderem-lhe acções. Preferiram vender ao consórcio RBS/Santander/Fortis, que tem até ao final da semana para concluir a operação.

Enquanto entre nós a OPA do BCP sobre o BPI agonizava em morte lenta, na Holanda tudo se passou de forma exemplar. Em menos de seis meses, uma oferta foi lançada, enfrentou a concorrência de uma oferta rival, a guerra também se travou na frente mediática e jurídica mas foi no mercado que se resolveu.

A segunda conclusão remete para o futuro dos intervenientes da OPA bancária nacional. O caso ABN pode ser premonitório para o BCP. A falta de coesão accionista, a indefinição estratégica e a incapacidade criar valor para os accionistas aguçam o apetite a potenciais compradores. A situação no ABN já teve reflexos indirectos, com a saída do Fortis da sua estrutura accionista. O Barclays, que falhou uma operação de consolidação, pode virar-se para outros lados. Não há, em Portugal, exemplo de activismo accionista com a persistência do que se abateu sobre o ABN. Mas já se esteve mais longe. E as autoridades, banco central incluído, pouco poderão fazer.

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