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Patriotas e imperialistas

O melhor parceiro para a Galp não é aquele consórcio que conseguiu apresentar a melhor proposta. É um bocado bizarro, para não dizer esquizofrénico, ver um país inteiro a hostilizar o investimento estrangeiro que, ao mesmo tempo, toda a gente classifica d

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O melhor parceiro para a Galp não é aquele consórcio que conseguiu apresentar a melhor proposta.

O vencedor não será aquele que se afirma pelos méritos próprios da sua proposta. Vence quem provar ser bom português. Cem por cento patriota.

De preferência sem qualquer mistura genética no consórcio que concorre. Neste momento, a discussão sobre a venda de uma participação significativa no sector petrolífero nacional está focada nisto.

Quem ama mais a pátria parece ser o critério decisivo. É um bocado bizarro, para não dizer esquizofrénico, ver um país inteiro a hostilizar o investimento estrangeiro que, ao mesmo tempo, toda a gente classifica de decisivo para o lugar que queremos ocupar no mundo.

Ter ou não capacidade financeira pouco importa. Ter ou não um projecto de futuro para a empresa é um factor secundário. Ter ou não competência para gerir o negócio é coisa para se ver no futuro.

Dos quatro grupos de candidatos à Galp, apenas um, o discretíssimo CVC Partners, não está a participar neste frenesim. Até o consórcio liderado pelo grupo norte-americano Carlyle teve a necessidade de se chamar «Luso-Oil».

E o seu porta-voz, Ângelo Correia, jurou pela sua alma: «vamos manter em mãos nacionais uma maioria clara do capital da Galp». E o portuguesíssimo Viapetro? Esse conjunto de bravos e resistentes lusitanos, que dizem receber a preferência do ministro da Economia, precisamente porque «o que é nacional é bom»?

Bem, o BPI participa directa e indirectamente com mais de 30% no consórcio. La Caixa é accionista de referência do banco português, mas também o principal accionista da Repsol. Conclusão lógica: a petrolífera espanhola quer dominar a nossa.

O que leva Artur Santos Silva e Fernando Ulrich a negar com veemência tamanha traição. Ao lado da entrevista de Ricardo Salgado ou do artigo de opinião que José Manuel de Mello publica.

Todos a provar o que ninguém contesta: que as decisões que sempre tomaram, enquanto homens de negócios, não os qualifica como bons ou maus portugueses.

E era o que mais faltava, atacados por uma espécie de «superioridade moral», que os jornalistas andassem agora com um «patriometro», a medir os níveis de patriotismo de cada candidato à Galp.

Só que este é o tipo de conversas que anda por aí. E, o que é mais grave, têm dado origem a notícias e opiniões condizentes. Pior que um jornalismo baseado em falsos moralismos é um jornalismo construído a partir de rumores e atribuir favoritismos sem fundamento.

Muita gente pensa e actua acreditando que uma privatização é ganha nas redacções dos jornais e nos gabinetes da política. Tem, infelizmente, razões para o fazer.

Paradoxalmente, não é bom para os jornais, não é bom para a política. Na Galp a instituição de «lobbying» está a manifestar-se de forma intensa. Até deputados insinuam favorecimentos com base em boatos.

O que é inaceitável. Há que ter tento na língua. É esse o nosso contributo. É isso que deve exigir de nós.

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