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Este bom povo lusitano

Seis escassos meses após a esmagadora vitória concedida ao eng. Sócrates, os portugueses decidiram manter as suas maiores cidades nas mãos da direita. Ou seja: este país mostrou uma vez mais que sabe exactamente o que está a fazer, que distingue com uma f

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Há, evidentemente, muita gente irritada com o Governo socialista. Sobretudo as pessoas directamente atingidas pelas medidas nos regimes de saúde e segurança social da função pública.

Mas o Porto vota massivamente em Rui Rio por essa razão? Há assim tanta administração do Estado em Vila Nova de Gaia que justifique a renovação do mandato de Luis Filipe Menezes?

As medidas impopulares adoptadas pelo Governo são apenas uma parte da explicação. Uma pequena parte. Na Área Metropolitana de Lisboa, certamente, onde moram um quarto da população portuguesa mas a esmagadora maioria dos funcionários públicos.

No resto do país, não. Quem insistir numa leitura nacional destes resultados autárquicos e, a partir dessa leitura, exigir uma «marcha-atrás» na política do Governo é quem não entendeu nada.

Não entendeu as razões da formidável reeleição do presidente da Câmara do Porto. Que reforça apoios sem cedências ao populismo. Até Francisco Assis, um dos bons produtos do guterrismo, caiu na tentação de ir à boleia de Pinto da Costa e dos vendedores «expulsos» do Bulhão.

Não entendeu sequer a razão da vitória de Felgueiras. Essa senhora que, como ainda ontem se confirmou, é um dos perigos construídos pelo pior do sistema, que se revolta contra ele e mobiliza, da forma mais perversa, as pessoas que perderam a confiança na política e nos políticos.

Não entendeu, por fim, o pragmatismo com que o eleitorado português se manifesta nas urnas de voto.

Este país está escondido no dia-a-dia, foi incapaz de, até hoje, criar uma sociedade civil forte e actuante. Este país de iletrados, não lê livros, não compra jornais, ora fala da bola do fim-de-semana que passou, ora antecipa os jogos do domingo que vem.

É um país diferente, quando vota. No poder local sempre foi diferente das legislativas. Agora, mais ainda. Sem ideologias. Com critério, com racionalidade. Mesmo pagando o preço da eleição de espécimes populistas.

Mas este gigantesco movimento pendular, em que milhões votam PS em Fevereiro e PSD em Outubro não é desnorte. É um estímulo.

É o mesmo país que se defendeu há quatro anos, quando um Governo fugia aos problemas. E é o país que, consciente da crise que atravessa, vai escolher brevemente um Presidente que ajude à solução, em vez de agravar a situação.

Só há uma «leitura nacional» possível a estas autárquicas de 2005: Sócrates tem de prosseguir as reformas, enfrentar a tormenta e continuar a governar sem se preocupar com eleições. Enfim, tem de provar que está à altura do povo que o elegeu.

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