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04 de Julho de 2007 às 13:59

Comissão - 1; Parlamento - 4

Se há tema que tem sido debatido até à exaustão é o do alheamento dos cidadãos em relação ao projecto europeu. Depois do "non" francês e do "niet" dos holandeses à Constituição em 2005 não se falou de outra coisa senão da falta de conhecimento dos eleitor

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Sempre que alguma coisa corre mal os políticos viram-se para a comunicação. Veja-se em Portugal. Quando há protestos contra determinadas políticas, a explicação sistemática é que as medidas foram mal explicadas. Nunca os responsáveis, com a ajuda dos comentadores, admitem que, melhor ou pior explicadas, as políticas podem ser contestadas porque, independentemente do seu valor absoluto, prejudicam alguém e são esses alguéns todos juntos que têm o direito de se manifestar.

O desaire nos referendos também foi prontamente explicado por falhas na comunicação e, em consequência, desde então a Comissão Europeia tem investido em levar a palavra a a todos os europeus.

O discurso do divórcio entre os cidadãos e o projecto europeu teve em Portugal uma declinação muito particular, quando ontem, dois dias após o arranque da Presidência portuguesa, a vice-presidente e responsável pela pasta da comunicação da Comissão Europeia, Margot Wallström, ficou praticamente a falar sozinha numa reunião da Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus, em que apenas estiveram presentes quatro dos 33 deputados que dela fazem parte, sendo que entre os faltosos se incluiu o próprio presidente, o socialista Vitalino Canas, que se ausentou após o início do encontro invocando motivos pessoais. O mesmo Vitalino Canas que lança esta semana um livro sobre a Europa.

Os portugueses habituaram-se a olhar para a Europa como o sítio de onde vêm os milhões, uma análise que é acentuada pela ênfase posta pelos governos na negociação dos fundos comunitários.

Com pragmatismo, os portugueses avaliam as vantagens da Europa fazendo umas contas básicas. Enquanto o dinheiro correr, ou seja, Portugal for um beneficiário líquido, a simpatia ao projecto europeu está garantida. Se e quando deixar de ser, então se verá.

No momento em que Portugal assume a Presidência da União Europeia, o que deve acontecer pela última vez no sistema das presidências rotativas, percebe-se o cuidado do Governo português em conseguir um desempenho à altura do legado da presidência alemã, que abriu o caminho para que os nós atados em 2005 possam finalmente ser desatados com a aprovação de um novo tratado, de preferência em Lisboa.

O mesmo não se pode dizer dos deputados da Comissão dos Assuntos Europeus, onde partidos como o PCP, o CDS-PP ou Bloco de Esquerda nem sequer estiveram representados na reunião com a comissária.

Fica assim esclarecida a discussão sobre o referendo ao novo tratado, cuja defesa tem sido assumida, nomeadamente, pelos partidos dos deputados faltosos. Os que defendem que se deixe cair o referendo devem saber do que falam, quando, mesmo, entre quem tem responsabilidades, o resultado é a falta de comparência.

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